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Crítica | Separados pelo Casamento

por Davi Lima
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A produção de Separados pelo Casamento, em geral, tem todas as aparências de uma comédia romântica, mas o tratamento é de um verdadeiro drama. Porém, essa “farsa” nunca se concretiza pungentemente para que a estrutura de com-rom seja a base para que o discurso transformador seja progressivo numa história que não é progressiva em resoluções.

O diretor Peyton Reed (Homem-Formiga e a Vespa, The Mandalorian) é conhecido por brincar com as aparências como diversão. Ele artificializa os subgêneros para potencializar a história na imagem cinematográfica, deformando as possibilidades mais convencionais que a história oferece, sem abrir mão delas para a surpresa não se conter no esperado, mas na quebra de expectativa; seja no humor do roteiro, seja na narrativa que soa vistosa numa estrutura reconhecida. Infelizmente, Separados pelo Casamento parece ser muito objetivo em apresentar suas diferenciações, algo apressado, restando ao diretor preservar o drama nas imagens, enquanto a narrativa pautada em diálogos se fizesse retroativa como criatividade.

A temática do casamento, as fotos de amigos e família, dos trabalhos domésticos e dos empregos e, especialmente, da casa, parecem mais realistas dentro de uma caminhada muito averiguada na comédia romântica dessa obra. No entanto, o amor que surge do nada, os conflitos na tentativa de resolução claramente infrutíferas, e os amigos que se colocam como secundários cômicos vão evidenciando, na verdade, o drama interno na trama. Em essência, mesmo que os atores principais sejam conhecidos dos filmes de comédia e os conflitos sempre parecem prontos para serem humorísticos, é o drama que cresce. Um drama “eufemizado”, um drama de casal que o divã é o corretor de imóveis interpretado pelo ator Jason Bateman, pois a casa é a disputa mais concreta para representar as divergências dos casal, embora a casa seja pouco explorada espacialmente pela direção dentro das mudanças narrativas. 

Apesar do espaço geográfico da casa ser usufruído para contar a história, o filme compensa isso centrando-se nos atores. Jennifer Aniston e Vince Vaughn, por se colocarem na artificialização de comédia romântica, das intrigas, e realmente entregarem discussões que fazem a fotografia se tremer para gravá-las, há uma suficiência da atuação que reflete o espaço turbulento da casa. Então, por mais que pareça desperdiçar variáveis como a casa, até mesmo atributo dos trabalhos e formações sociais de cada personagem para formação de personalidade mais explícita, no gênero drama, que se consta forte no filme, também não é direto, tão explícito. Da mesma forma, a narrativa do filme se coloca facilmente nos conflitos, mas nunca direciona para onde ela vai em certeza. Nessa dinâmica é que se consta o “tiquinho” mais exposto do apuro artístico e de linguagem cinematográfica do diretor Peyton Reed, ao exercitar a direção de atuação e ter um faro sensível de possibilitar dramas em cenas para que o tal título original do filme seja uma constante, um The Break-up.

A separação que acontece do casal não é apenas matrimonial-dramático, é, também, muito relacionada com as conexões do subgênero da comédia romântica e de como há uma perseverança dele independente das mudanças sociais ocorridas na trama. Com a artificialização da com-rom, talvez o comentário passe despercebido, mas a emulação de um relacionamento abusivo só parece abusivo no filme pelo tom dramático, mesmo que atenuado. Não é apenas porque o ator Vince Vaughn é alto e atua gritando, é quando a personagem de Jennifer Aniston realmente determina o ponto máximo da resolução da comédia romântica no filme e o amigo de bar, interpretado por Jon Favreau, evidencia o problema de personalidade do personagem de Vaughn. Ou, também, o chamado machismo que o ambiente masculino não nomeia na noção do termo orgulho, junto com a tentativa de resolução romântica parecer anti-climática de uma maneira até decepcionante, revelando muito sobre casamentos modernos, ou uniões estáveis que surgem inesperadamente nas comédias românticas.

Nesse filme, não há cena de romance entre os personagens além das fotos de introdução do filme. Tudo é colocado como um relacionamento unido pela rapidez, um roteiro afiado em determinar a agilidade de tratar diálogos sobre relacionamentos amorosos. Logo, dentro do realismo, homens não mudam tão facilmente e mulheres não desistem, e muito menos choram facilmente. Essa é a quebra de expectativa de um filme que nunca parece tratar de estereótipos, mas trata implicitamente nos dramas que não tem resoluções apenas no amor sacrificial, tudo dependente do tempo que vai determinar a narrativa, da piada, do drama e de um romance.

Separados pelo Casamento (The Break-Up) – EUA, 2006
Direção: Peyton Reed
Roteiro: Jeremy Garelick, Jay Lavender
Elenco: Vince Vaughn, Jennifer Aniston, Joey Lauren Adams, Cole Hauser, Jon Favreau, Jason Bateman, Judy Davis, Justin Long, Ivan Sergei, John Michael Higgins, Ann-Margret, Vernon Vaughn, Vincent D’ONofrio
Duração: 106 minutos  

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