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Crítica | Servant – 2X01: Doll

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Servant, que, diferente do que todo mundo diz, não é uma série do M. Night Shyamalan no sentido de ter sido criada por ele, já que quem a concebeu e escreve os roteiros é Tony Basgallop (Shyamalan é produtor, ganha toda a atenção sempre e Basgallop nunca é mencionado…) tem como seu principal ponto de “venda” a atmosfera claustrofóbica que consegue criar em uma mansão moderna na Filadélfia. E digo isso apesar da temática bizarra sobre uma mãe que se recusa a aceitar a morte de seu bebê e acredita que um boneco terapêutico receitado por sua amiga e pseudopsiquiatra está vivo, pois, se esse é o chamariz sem dúvida alguma, é a construção da tensão kafkiana dentro da casa que efetivamente prende – literal e metaforicamente – os personagens em um ciclo vicioso aflitivo.

E o retorno da série para seu segundo ano sabe muito bem disso e explora exatamente esse ponto, já que, pelo momento, tanto a babá Leanne Grayson, pertencente a um culto religioso e aparentemente com poderes de ressuscitar os mortos quanto o bebê que ela tese ressuscitou, são cartas fora do baralho, deixando Dorothy e Sean Turner sozinhos tendo que lidar com a situação que o cliffhanger da temporada anterior estabeleceu. A mãe, percebendo a inação da polícia que ela chama e também de seu marido, arregaça as mangas para localizar seu suposto filho em menos de 48 horas, pois ela sabe que, passado esse tempo, as chances de encontrá-lo caem drasticamente conforme as estatísticas policiais determinam. O frenesi causado por sua busca a drena completamente e é novamente sensacional ver como Lauren Ambrose mergulha profundamente em sua personagem, ajudada por um exemplar trabalho de maquiagem e cabelo que a faz se esvair diante de nossos olhos nos rapidíssimos 26 minutos de episódio.

Paralelamente, Sean tenta decidir se deve ou não se aproveitar da situação para efetivamente “matar” seu bebê de vez, caminhando vagarosamente para uma posição oposta à que assumiu por grande parte da temporada anterior. Agora, ele parece ver no bebê milagrosamente vivo que surgiu no berço de Jericho (ou seria mesmo Jericho?) uma forma de curar sua família, de curar sua vida que ele vê sendo destruída por toda essa situação impossível e que é representada muito graficamente pela pegada body horror da série que Basgallop se refestela em mostrar em detalhes, nem que seja com bolhas horrorosas na mão de Sean sendo estouradas sem que ele sinta dor (ou gosto, ou cheiro).

Gravitando ao redor do casal, vemos Natalie Gorman, a “terapeuta” e amiga de Dorothy, tentando afastar a polícia dali, mas entregando de vez sua cliente ao rótulo da loucura. Além dela, há o irmão de Dorothy, Julian, aparentemente tentando manter Jericho “vivo” na forma de um bilhete que aparece na porta da casa dos Turners. Há um jogo de interesses muito sujo e mesquinho ali que engrossa esse caldo de uma maneira muito humana, mas no pior sentido possível, dizendo-nos que nossa natureza não é altruísta, pura ou bondosa como gostamos de dizer que é e ficamos ofendidos quando alguém nos diz que não é bem assim.

E, com isso, a townhouse dos Turners, apesar de não exatamente uma mansão em termos de dimensões, é trabalhada de maneira brilhante pela direção de Julia Ducournau, a diretora do perturbador Raw, como se as paredes estivessem o tempo todo se fechando ao redor dos protagonistas e até mesmo desorientando o espectador com uma câmera que “quebra” a geografia do lugar, além de trazer incômodos e até feios close-ups dos atores, como no momento em que Dorothy acha a câmera originalmente plantada por Sean. A casa, novamente, é trazida para o primeiro plano, como mais um personagem da série e isso dá um sabor todo especial à Servant.

Mas, claro, a criação de Basgallop continua sendo uma espécie de dose semanal de aflição e bizarrice em um conjunto que dificilmente consegue escapar da classificação de desagradável. Talvez seja por isso que os episódios têm uma duração acanhada. Muito de Servant de uma vez só não deve ser uma experiência muito simpática, só para usar um eufemismo. E isso, em uma obra do gênero em questão, definitivamente não é um defeito.

Servant – 2X01: Doll (EUA – 15 de janeiro de 2021)
Criação e showrunner: Tony Basgallop
Direção: Julia Ducournau
Roteiro: Tony Basgallop
Elenco: Toby Kebbell, Lauren Ambrose, Nell Tiger Free, Rupert Grint, Jerrika Hinton
Duração: 26 min.

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