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Crítica | Servant – 2X09: Goose

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Se espremermos Goose, o penúltimo episódio da 2ª temporada de Servant, quase nada sairá em termos de desenvolvimento narrativo. No máximo podemos dizer que a overdose de Julian fez com que Leanne usasse seus poderes estranhos pela primeira vez em público, ainda que, provavelmente, ninguém tenha realmente percebido o que se passou. Mas não digo que nada aconteceu como algo negativo, já que essa é basicamente a regra da série, com seu criador e showrunner Tony Basgallop trabalhando tudo em queima muito lenta, com mínimos incrementos de um episódio para o outro.

Além disso, de uns tempos para cá – mais marcadamente em Marino, claro – os roteiros tem imprimido um tom de comédia corporal que inevitavelmente acrescenta estranheza e incômodo à já bizarra premissa. Essa característica volta aqui com a meteórica deterioração física e mental de Julian (Juju!) a olhos vistos desde que transou com Leanne no episódio anterior, como se o personagem tivesse tido suas forças vitais sugadas pela agora fogosa babá que só pensa em mais sexo com o ex-Ron Weasley. Os posicionamentos de câmera de Nimród Antal, que mais uma vez retornar para a direção, com ângulos exagerados, sejam rentes ao chão, seja com um plongée extremo no lavabo dos Turners onde Julian se droga, ajuda nessa percepção de um tom cômico que, porém, existe apenas para sublinhar o desequilíbrio completo dessa família disfuncional.

Afinal, como já tive oportunidade de afirmar em críticas anteriores, ninguém, absolutamente ninguém em Servant age de maneira “normal”. O que é normal depende muito de cada um, claro, mas, já descontando Leanne e os demais membros de seu culto religioso, o restante dos personagens transita entre o obsessivo, nervoso e, no caso de Dorothy, muitas vezes resvalando na loucura mais absoluta (o que foi aquela forca preparada por ela no porão???), sendo que não ajuda em nada a presença de “pessoas estranhas” como Frank, pais de Dorothy e Julian, e sua namorada muito mais nova e completamente parva Kourtney. E o engraçado (ou estranho mesmo) é que tudo é sempre encarado na base do “a vida é assim” para os mais surreais acontecimentos ao redor deles, desde doenças estranhas, passando por curas milagrosas, até perdas de memória e, lógico, o misterioso buraco que surgiu no subsolo da casa. Parece-me que isso é Basgallop dizendo que, neste seu universo muito particular, esse monte de bizarrice não é mais do que outra segunda ou terça-feira, o que cria uma ambientação ainda mais aflitiva aos acontecimentos.

Mas que acontecimentos se eu disse que quase nada acontece?  A questão é que Servant é para ser apreciada em seu agregado, em uma visão para trás lembrando dos desenvolvimentos por temporada e não por episódio. Sei que toda série tecnicamente é assim, mas Basgallop não tem muita preocupação em dividir sua história de maneira que cada episódio tenha seu quinhão de ação e/ou desenvolvimento. Muito ao contrário, ele parece olhar para a série como um longo filme de horror que ele dividiu em pedaços apenas para facilitar a degustação. Em regra, cada episódio é um pequeníssimo incremento à narrativa macro, o que pode sim dar a impressão, aos mais impacientes e afobados, de que nada realmente acontece. No entanto, essa impressão é só isso mesmo, uma impressão.

E digo isso porque os melhores filmes de horror, se formos parar para pensar, investem tempo na construção de atmosfera, especialmente aqueles que, como Servant, se passam em apenas uma localização. É assim com clássicos como O Iluminado e O Exorcista e é assim com obras recentes como Nós e O Que Ficou Para Trás. Mas com isso não pretendo convidar os leitores a comparações entre a série e os filmes citados para além desse aspecto específico, ou seja, o cuidado com o estabelecimento da ambientação em longas de horror e o quanto eles “ocupam de espaço” na duração da obra. Talvez Servant vá um passo além nisso, não demonstrando a menor vontade de trazer grandes revelações ou reviravoltas ou preencher a tela com tripas e sangue (aliás, nesse quesito, a série fica restrita às entranhas dos bichos “vítimas” da cozinha de Sean, com o ganso sendo o animal da vez), mas, se o espectador chegou até aqui, quer dizer que já está no mínimo acostumado com os incrementos tímidos que cada episódio traz.

E esse devagar e sempre tem sido sensacional especialmente nesta 2ª temporada que já apresenta massa crítica suficiente para termos uma panorama mais amplo da situação kafkiana em que toods ali se encontram. Temos o atropelamento do tio George escondido à sete chaves por Leanne de um lado, a tensão criada pelo suposto retorno de Jericho (ou seja lá o que aquele pequeno ser é na verdade) e, claro, toda a queda aguda de Julian que abre espaço para Rupert Grint trabalhar seu desagradável personagem com bastante destaque e, digo mais, sucesso. Só não me perguntem o que vai acontecer com a chegada da misteriosa tia Josephine, pois não tenho a menor ideia.

P.s. Outra prova de que os personagens da série não são “normais” é aquela meia amarela de Sean…

Servant – 2X09: Goose (EUA – 12 de março de 2021)
Criação e showrunner: Tony Basgallop
Direção: Nimród Antal
Roteiro: Tony Basgallop
Elenco: Toby Kebbell, Lauren Ambrose, Nell Tiger Free, Rupert Grint, Todd Waring, Katie Lee Hill, Daisy Galvis, Barbara Sukowa
Duração: 27 min.

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