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Crítica | Servant – 3X03: Hair

Escolhas estranhas em um episódio equivocado.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Depois de dois excelentes episódios, Servant tropeça feio com Hair. E a razão principal é por não saber lidar com algo que pode não parecer, mas que é muito relevante à série. Afinal, temos que lembrar que ela é estruturalmente baseada em espaço confinado com poucos personagens, limitações auto impostas por Tony Basgallop que criam aquela perfeita atmosfera velha guarda de casa mal-assombrada, só que em em ambiente eminentemente urbano. Essa premissa da série já foi vergada algumas vezes antes, mas sempre com o uso de artifícios criativos para manter o foco no sobrado de luxo assustador e claustrofóbico.

Portanto, para quebrar essa regra sem risco de fazer algo banal e sem maiores significados, era necessária não só uma justificativa muito especial, como também uma execução solene, firme e cuidadosa. Infelizmente, não há nem uma coisa nem outra aqui em Hair, muito ao contrário. Para começar, do nada Leanne aceita passear no parque com Sean e Jericho, o que relativiza sua paranoia que, diante dos acontecimentos anteriores, deveria era ter aumentado. Depois, a ida ao parque – literalmente do lado da saída lateral da casa, o que é uma novidade – é feita completamente sem cerimônia, como se o ato de sair da casa fosse algo comum, que vemos sempre. Em seguida, Sean passa a se compadecer com os jovens sem teto que moram por ali e passa a cozinhar comidas gourmet para eles.

Sei muito bem que um dos tropos de filmes de horror é os personagens serem muitas vezes completamente burros, como indo mergulhar no lago sozinho à noite mesmo sabendo que tem coisas estranhas acontecendo ali ou se separar para investigar mais rapidamente um “barulho” em determinado lugar. Faz parte e é divertido. Mas existe sempre uma lógica de momento para que as burrices sejam perpetradas, algo como um ato impensado feito de supetão, quase que de reflexo. Aqui, a burrice de Sean extrapola todos esses limites e é apenas revoltantemente sem sentido. Afinal, ele sabe que o culto de Leanne existe, sua família já recebeu visitas de dois desses cultistas, uma delas tendo sido incinerada dentro de sua casa. Ele no mínimo sabe que sua vida – depois de tudo o que aconteceu com Jericho – não é normal e que há um componente estranho que, mesmo ele não querendo acreditar completamente no aspecto sobrenatural, não pode ser explicado racionalmente em seus detalhes.

Portanto, fazer amizade com um grupo de pessoas desconhecidas que aparecem do nada no parque não me parece algo que siga qualquer lógica interna. E muito menos faz sentido ele abrir as portas de sua casa para deixar um deles usar seu banheiro sem a menor supervisão. Afinal, de onde saiu essa veia caridosa de Sean? Da cartola do roteiro de Alyssa Clark, claro, pois não há nenhuma construção para isso, nenhum desenvolvimento que leve a esse momento. E o pior de tudo é que toda essa burrice poderia ter sido feita SEM a quebra da regra basilar da série que já mencionei, pois consigo pensar em pelo menos uns cinco artifícios narrativos para fazer exatamente a mesma coisa sem que fossem necessárias duas cenas externas com o ponto de vista também externo.

Como disse, se é para fazer algo que, para a narrativa da série, deveria ser importante, então era de se esperar que houvesse quase que uma “cerimônia” para marcar o momento. Mas não. O que temos é um tropo narrativo de filmes de terror muito mal usado que esvazia o episódio de qualquer tipo de impacto e de relevância mesmo que apenas estilística. Chega a dar impressão de estarmos vendo outra série, na verdade, uma genérica e lugar-comum que temos às dúzias por aí.

Mas, nem tudo se perde, admito. A história de Julian com seus flashbacks em forma de pesadelo (ou seria o contrário?) funciona bem não só para tirar Rupert Grint do marasmo repetitivo, como para acrescentar mais um elemento à paranoia de Leanne, fazendo com que o irmão de Dorothy se desespere com a possibilidade de o bebê ser novamente tirado dela. Toda as idiossincrasias dessa família disfuncional converge no comportamento de Julian, seja ele sendo pego em flagrante por Leanne e seu quarto, seja a tentativa dele de “seduzi-la” para arrancar um fio de cabelo ou, depois, no confronto com Dorothy, os comportamentos estranhos são amplificados e muito bem conduzidos pela direção de Carlo Mirabella-Davis que, porém, erra feito nas já citadas cenas externas.

Mas, esse tipo de derrapagem é até bastante comum em séries. Dá aquela sensação momentânea de que é um problema enorme, mas, na verdade, se tudo der certo, é apenas isso mesmo, um soluço isolado. Espero que essa não seja a exceção que confirme a regra e que a qualidade que Servant conseguiu atingir não seja maculada.

Servant – 3X03: Hair (EUA – 04 de fevereiro de 2022)
Criação e showrunner: Tony Basgallop
Direção: Carlo Mirabella-Davis
Roteiro: Alyssa Clark
Elenco: Toby Kebbell, Lauren Ambrose, Nell Tiger Free, Rupert Grint, Sunita Mani, Phillip James Brannon
Duração: 30 min.

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