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Crítica | Servant – 3X10: Mama

A queda da casa de Turner.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Depois de Hive, em que atuou na direção e no roteiro, Ishana Night Shyamalan retorna à terceira temporada de Servant para encerrá-la com a direção de um episódio que tem o objetivo – nem sempre facilmente alcançável – de lidar com o conflito principal que tomou corpo na segunda metade da temporada, ou seja, a guerra entre Leanna e Dorothy, e preparar a temporada final. Não posso dizer que o resultado foi equilibrado, pois ficou longe disso, mas Mama foi sim um eficiente fim de ano que aumenta as apostas para o que vem por aí.

O desequilíbrio se deu pelo foco quase exclusivo na continuidade da paranoia – não sem justificativa – de Dorothy em relação a Leanne, com a matriarca tentando jogar o jogo da paz enquanto vê cada vez mais sua própria família bandear-se para o lado da babá, com a linha narrativa paralela do retorno do culto original comandado pelo Tio George, algo que foi discretamente apontado em Commitment, ganhando apenas discretos incrementos com o sinistro aparecimento do personagem ao final, agora de branco, e a revelação de que Matthew Roscoe é um convertido que foi infiltrado ali.

No entanto, a escolha do roteiro de Ryan Scott em privilegiar o encurralamento mental e físico de Dorothy em detrimento à armação de tabuleiro foi acertadíssima. Era importante manter o foco nessa história, especialmente considerando o excelente momento climático da queda de Dorothy pelo vão da escada, com Jericho sendo salvo por Leanne, em uma cena esteticamente linda, apesar do horror e violência da situação. Se era para Dorothy de alguma forma “sair” da história – não duvido que haja um pulo temporal no começo da próxima temporada e a matriarca esteja de alguma forma de volta, mas não sem sequelas graves -, então era essencial que tudo fosse cuidadosamente armado e e é exatamente isso que o roteiro consegue fazer, ainda que o “plano” de Dorothy, fugir de casa com seu bebê, seja, talvez, prosaico demais.

Só que a simplicidade de sua tentativa de fuga, se pensarmos bem, também faz pleno sentido. Ela literalmente não tinha outra saída ali. Algo mais elaborado, como ela tentou antes duas vezes, não cabia mais na história e seu plano precisava ser óbvio e, mais ainda, desesperado, como foi, mas cozinhado – literalmente – com um ritual culinário com direito até a abertura de uma garrafa de vinho particularmente especial para ela e Julian. O jantar de despedida de tons macabros foi, excetuando a sequência da queda da escada, claro, o ponto alto do episódio, com a diretora abusando de close-ups para criar momentos de uma “normalidade desconfortável” que conseguiram ser mais aflitivos que muito filme de horror. Lauren Ambrose e Nell Tiger Free, mais uma vez, acertaram no tom de suas respectivas personagens, provando que esse conflito aberto só as beneficiou.

Talvez tenha faltado uma “sardinha” um pouco mais apetitosa para o espectador do que o críptico encontro de Matthew com o tio George ao final, o que poderia ser resolvido com uma preparação maior para o ex-detetive em seu contato com Leanne ou, talvez, a extensão dessa sequência final, mesmo que o mistério tivesse que ser mantido. Digo isso, pois, mesmo que a temporada tenha avançado no lado psicológico do núcleo dos Turners e no lado messiânico de Leanne, pouco, ou melhor, quase nada foi trabalhado em termos da narrativa macro do culto original da babá. Teria sido interessante ter um pouco mais de interação entre o traidor e o líder do culto (ou, pelo menos, do líder aparente) na rua ao final, algo que nos deixasse entrever o que vem por aí quase que como uma forma de compensar um pouco o silêncio completo nesse lado da história.

Graças a um roteiro cuidadoso, ainda que não perfeito, e um trabalho de direção do mais alto gabarito, Mama acabou sendo o tipo de encerramento de penúltima temporada que a série merecia. Um cliffhanger enorme e doloroso que pode realmente mudar o status quo se bem aproveitado e um “gostinho” – ainda que distante – do que está por vir. Creio, porém, ser importante temperar expectativas caso alguém esteja procurando respostas claras aos elementos sobrenaturais  da série, pois não acho que elas virão. Mais ainda, não acho que precisem vir. A única coisa que espero é um encerramento que siga a lógica interna da série, sem invencionices. E, tenho para mim, Tony Basgallop tem tudo para conseguir isso nos 10 episódios finais.

Servant – 3X10: Mama (EUA – 25 de março de 2022)
Criação e showrunner: Tony Basgallop
Direção: Ishana Night Shyamalan
Roteiro: Ryan Scott
Elenco: Toby Kebbell, Lauren Ambrose, Nell Tiger Free, Rupert Grint, Phillip James Brannon, Boris McGiver
Duração: 26 min.

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