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Crítica | Servant – 4X06: Zoo

A Revolução dos Bichos.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

O caminho que Servant está trilhando em sua temporada final tem o potencial de afastar muita gente da série, e eu entendo essa reação, mas, no meu caso, o efeito tem sido exatamente o contrário. Sou o primeiro a reconhecer que os eventos destes seis primeiros episódios poderiam ter acontecido antes, já que as temporadas anteriores claramente andaram de lado algumas vezes, mas a queima lenta é uma marca da série e funciona para criar uma atmosfera de puro incômodo o tempo todo.

E, agora, parece ter chegado finalmente a hora de mergulhar nas esquisitices, seja com o episódio de Leanne ilhada no carro de Julian e sendo atacada pelos membros da Igreja dos Santos Menores e sendo ajudada por pombos, seja a presença surreal das duas enfermeiras contratadas por Dorothy, seja o uso mais constante e explícito de violência, com a babá, ao que tudo indica, deixando sua verdadeira natureza aflorar. A discrição, que sempre marcou a série, parece ser coisa do passado e, agora, o foco está mesmo na abordagem do sobrenatural e na relação doentia de Leanne com os Turners e vice-versa. 

Mais uma vez, o trabalho de direção merece comenda, com câmeras espertamente situadas para criar incômodo no espectador, por vezes parecendo que a dupla de diretores inspirou-se na escola cronenberguiana de extrair horror do mundano enfocado como bizarro. Acompanhando essa escolha, o departamento de maquiagem e cabelo também merece menção especial novamente com um trabalho discreto que aos poucos vai “deformando” os personagens e os transformando em caricaturas estranhas, retorcidas, quase inumanas. 

Em termos narrativos, Zoo é para todos os efeitos, um momento de reafirmação de Leanne dentro da dinâmica familiar depois que Doroty e Sean falharam em seu plano de entregá-la a seu culto. O instrumento usado para isso é a comemoração do aniversário de um ano e meio de Jericho, com a festa sendo organizada exclusivamente por Leanne, com a ajuda de seu agora capataz Julian em uma relação que me lembra constantemente daquela entre o Conde Drácula e Renfield, no clássico de Bram Stoker

Entre convidados desconhecidos, animais que atacam a babá sempre que a oportunidade surge, uma mulher fazendo um cosplay absurdo de Dorothy (de O Mágico de Oz) e todo o tipo de confusões decididamente cartunescas, o roteiro não se faz de rogado em dobrar a aposta e inserir não um, mas dois atentados cultistas à Leanne. Os três meliantes jovens usando um bebê de isca parecem montar uma armadilha certeira, somente para o jogo ser violentamente virado pela pretenda vítima que, como se fosse a coisa mais comum do mundo, liga para seu rebanho e pede um serviço de “limpeza”. Depois, vemos a revelação de que Bev é parte do culto e ela estava o tempo todo só aguardando a oportunidade perfeita para dar o bote que também parece que vai dar certo até que Leanne usa seus poderes para inchar(???) a senhora e Julian caninamente chega s seu resgate. 

É por essas e outras situações para lá de bizarras que eu compreendo quem virar o nariz para a temporada. Sob certo enfoque, a Servant da temporada final nem parece muito com a Servant das temporadas anteriores, mas tenho para mim que algo nessa linha era necessário para levar a história a seu fim. Que fim é esse? Não tenho a menor ideia, mas algo me diz que o comedimento do que veio antes precisava abrir espaço para algo abertamente fora dos eixos e é isso que o ano final vem entregando com inusitado frescor. 

O simples fato de o que estar por vir ainda ser um grande ponto de interrogação, com os roteiros podendo seguir praticamente qualquer caminho já torna Servant uma obra diferente e curiosa. Some-se a isso o desprendimento da temporada em fazer o que faz sem vergonha alguma de ser feliz e pronto, temos algo que tem um baita potencial de surpreender a cada novo episódio dessa estirada final. Melhor isso do que ser comportado e seguir uma cartilha pré-estabelecida, não é mesmo? 

Servant – 4X06: Zoo (EUA, 17 de fevereiro de 2023)
Direção: Celine Held, Logan George
Roteiro: Devin Conroy, Ishana Night Shyamalan
Elenco: Lauren Ambrose, Toby Kebbell, Nell Tiger Free, Rupert Grint, Barbara Kingsley, Denny Dillon
Duração: 28 min.

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