Home FilmesCríticas Crítica | Sete Homens e um Destino (2016)

Crítica | Sete Homens e um Destino (2016)

por Guilherme Coral
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estrelas 2

A era dos desnecessários remakes, reboots e continuações dessa vez olha para o western e escolhe o clássico Sete Homens e um Destino (que, por si só, já é uma releitura da obra de Akira Kurosawa) como seu mais novo alvo. Curiosamente, apesar de toda a sua fama, que gerou inúmeras continuações, o faroeste original nunca fora um longa-metragem verdadeiramente excepcional, ficando muito aquém de outros clássicos do gênero e, é claro, do próprio Os Sete Samurais. Como não questionar, portanto, se realmente fora necessário realizar essa nova refilmagem? Afinal, depois de uma quadrilogia que não trouxe absolutamente nada de novo, uma nova produção dificilmente nos traria uma inovação de fato.

Desde os trechos iniciais já temos a total percepção de que a obra seguirá pelo exato mesmo caminho de suas antecessoras. A premissa é simplesmente igual aos outros Sete Homens: uma pequena cidade é atacada e muitos de seus cidadãos são mortos (prioritariamente os homens), dentro de uma difícil situação, um dos moradores dali, no caso atual, Emma Cullen (Haley Bennett), decide buscar por ajuda e acaba se deparando com um caçador de recompensar. O lendário Chris Adams é, nesta versão atualizada, substituído por Chisolm (Denzel Washington), um homem que só liga para dinheiro até aparecer uma donzela em perigo. Dito isso, ele decide reunir alguns homens a fim de combater o bandido que assola a cidade.

Chega ser difícil diferenciar homenagem de pura cópia nesse remake, ele não conta com uma linguagem própria, apenas adota a mesma do filme original – a evidência disso é o tempo dedicado ao recrutamento dos seis que irão acompanhar o protagonista, o que chega ser até engraçado, pois, embora ocupe uma boa parcela do longa-metragem, nenhum deles oferece qualquer resistência à proposta de Chisolm. Existe, é claro, a evidente tentativa de apresentar a personalidade de cada um deles. O problema é que, da mesma forma que os filmes antigos, eles não passam por nenhum desenvolvimento e, da mesma forma que começaram, eles terminam, com a exceção de Goodnight Robicheaux (Ethan Hawke), que simplesmente muda da água para o vinho, mas, ao menos, sofre uma metamorfose forçada.

Mas a artificialidade não para por aí. Estamos falando de um período logo após a sangrenta Guerra Civil americana, em que o Sul, onde a história se passa, perdeu. É de se esperar, portanto, que o protagonista negro sofreria alguma forma de preconceito, como já fora apresentado em Django Livre e Os Oito Odiados. Não há sequer uma ocorrência disso, como se a equipe realizadora estivesse com medo de ser mal interpretada, gerando apenas uma total e completa falta de realismo. O pior é que eles poderiam ter utilizado a amizade entre Robicheaux, um ex-confederado e Chisolm para criticar a posição racista e conservadora, mas o roteiro joga isso no ralo, criando um filme politicamente correto que não só não enfrenta, como higieniza a questão, como se ela nunca tivesse existido.

Ao invés disso, o filme prefere trazer inúmeras piadinhas, que logo perdem a graça, através do personagem de Chris Pratt, Josh Faraday, que basicamente é uma tentativa de imitar o Senhor das Estrelas de Guardiões da Galáxia. Temos aqui mais um ator que, infelizmente, caiu na velha história de fazer os mesmos papéis.

Outra preocupação da obra é em oferecer cenas de ação grandiosas, como é o caso do clímax excessivamente longo, que, no fim, nos faz rezar para que o filme acabe logo, visto que não assistimos nada que já não tenhamos visto antes em outras produções do gênero, uma evidente falta de criatividade da equipe, que poderia inovar mais, considerando o alto orçamento a seu favor. Felizmente, a direção de Antoine Fuqua, já experiente em filmes de ação, consegue fugir dos maneirismos de hoje em dia, como uma quantidade excessiva de cortes, ainda que não tenhamos nenhum plano verdadeiramente longo durante todo o filme, mesmo durante as famosas cavalgadas.

Curiosamente, nem a trilha de James Horner, responsável pelo icônico Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan, foi capaz de se sobressair. Dispensando a clássica melodia dos filmes antigos, Horner não nos traz nenhuma música tema de destaque, nos entregando apenas sons que sustentam os momentos dramáticos (às vezes de forma exagerada), mas sem marcar nada em nossa memória. De fato, bastante condizente com o que vemos na imagem – uma trilha apagada para um longa-metragem facilmente esquecível.

No fim, essa nova versão de Sete Homens e um Destino não foge em nada do que já vimos anteriormente na franquia. Trata-se de mais um filme superficial, que traz a velha figura do cowboy machão que aparece apenas para resolver um problema e vai embora. Com tantas possibilidades nas mãos, a obra simplesmente desperdiça todas elas, classificando-se como um longa-metragem que chega a divertir, mas que é rapidamente esquecido pouco tempo depois de ser assistido. Definitivamente mais um remake desnecessário.

Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven) — EUA, 2016
Direção:
 Antoine Fuqua
Roteiro: Richard Wenk, Nic Pizzolatto (baseado no roteiro de Akira Kurosawa e Shinobu Hashimoto)
Elenco: Denzel Washington,  Chris Pratt, Ethan Hawke,  Vincent D’Onofrio, Byung-hun Lee, Manuel Garcia-Rulfo, Martin Sensmeier, Haley Bennett, Peter Sarsgaard
Duração: 132 min.

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