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Crítica | Sete Noivas Para Sete Irmãos

por Fernando JG
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Logo na fundação de Roma, os homens da região do Lácio, na procura por mulheres para expandirem a comunidade romana, raptam mulheres sabinas de um povoado vizinho, iniciando uma guerra contra os sabinos. É em cima desse mito, do Rapto das Sabinas, que Sete Noivas Para Sete Irmãos é roteirizado. Dirigido por Stanley Donen e baseado no livro The Sobbin’ Women, o longa é uma excelente produção musical, divertindo pela trama que se apresenta desde o início recheada de comédia. Com um argumento bem redondinho, com absolutamente tudo dentro da normalidade e sem grandes surpresas ou estranhamentos, o longa é um felicíssimo acerto cinematográfico da época. Com uma inocência singular no trato do amor, e lidando com o tema de modo bem purista, o filme é construído de forma leve e descontraída, conduzindo um desfile rítmico muito interessante e prazeroso, não deixando a peteca cair até o último instante, quando se encerra. 

Em passagem pela cidade, o rústico Adam (Howard Keel), obcecado pela ideia de casar-se em breve, apaixona-se violentamente por Milly (Jane Powell), uma menina citadina, educada, que também se entrega àquele que parece ser a sua cara-metade. O casamento ocorre e é tudo muito bonito. No caminho para a casa de Adam, que fica no campo, Milly demonstra uma imensa felicidade em estar se dedicando ao seu homem amado, podendo, enfim, cuidar e amar como sempre sonhou. A grande idealização de Milly, no entanto, vai por água abaixo quando, ao chegar na casa, onde passariam a lua de mel, a esposa descobre que seu marido vive, com nada mais nada menos, que mais seis irmãos, sete com Adam. Que surpresa ela tem nesse encontro nada combinado! A grande tarefa, agora, é – além de civilizá-los, pois todos os irmãos se comportam como selvagens, sem etiqueta nenhuma – arrumar uma esposa para cada um deles, como o título já indica: seven brides for seven brothers.

Para as convenções de época, o longa deve ter caído como uma luva, já que em todas as camadas fílmicas há doses e doses de um moralismo potente. Há uma clara divisão entre a ideia do homem como sujeito rústico, selvagem, bruto, e a mulher enquanto persona dócil, meiga e transformadora. É inegavelmente um filme de seu tempo, no entanto, apesar dessa divisão de gênero bem delimitada, o filme dá uma posição muito boa para a personagem de Jane Powell. No início do filme, pode parecer que Adam vá demonstrar um caráter intransigente e até um pouco desrespeitoso em relação às mulheres, contudo, quando se desenrola a relação dele com a sua esposa, vemos que ele sempre se coloca à disposição dela, jamais a desrespeitando, colocando-se em pé de igualdade. 

Eu tenho um certo problema com enredos que precisam trabalhar com encontros amorosos perfeitos em grande quantidade. Por exemplo, nesse filme, seis mulheres são raptadas para se casarem com os seis irmãos, e cada uma delas parece ser o par perfeito para cada um dos irmãos. A grande questão é: como tudo se encaixa perfeitamente? e como um não se apaixona pela noiva do outro e vice e versa? Não há um processo prévio de apaixonamento, e a formação desses casais acontece de modo bem genérico: têm seis mulheres e seis homens, e isso basta para se casarem. Acho um pouco pretensioso enredos que se arriscam em tratar o tema com essa ingenuidade. No entanto, apesar disso, o filme busca outras saídas para poder se mostrar interessante.

A teatralidade é o ponto forte do filme. Como um musical, ele é excelente. As cenas em que Milly protagoniza são todas muito bonitas, com cenários coloridos, com uma natureza de primavera ao fundo. A harmonia do cenário campestre oferece um ar de conto de fadas, mas sem mágica nem fantasia. As performances dão volume ao longa, pois são todas bem complexas, sobretudo na cena do festival para a construção de um edifício. O musical foi tão bem arranjado que levou o Oscar em 1955 de melhor trilha, além de várias indicações, inclusive por fotografia. Particularmente, a performance de Lonesome Polecat é a melhor, pois o clima de lamento atrelado ao cenário gelado, com a neve caindo ligando-se ao estado de alma dos irmãos lamentadores, que performam em sincronia, faz a cena uma coisa agradabilíssima de se assistir. 

Bom...Seven Brides for Seven Brothers é invariavelmente um filme de época e não há como desvinculá-lo desta ideia. O que não é demérito algum, até porque o mérito da arte é a sua atemporalidade. Extremamente coeso, divertido e harmonioso, o musical me fez querer rever Singing in the Rain, e lembrar que esse gênero do cinema acontece quase como uma mágica, que, quando bem feito, nos leva para lugares incríveis da imaginação.  

Sete Noivas Para Sete Irmãos (Seven Brides for Seven Brothers, EUA, 1954)
Direção: Stanley Donen
Roteiro: Albert Hackett, Frances Goodrich, Dorothy Kingsley (baseado na novela The Sobbin’ Women, de Stephen Vincent Benet)
Elenco: Howard Keel, Jane Powell, Russ Tamblyn, Julie Newmar, Jeff Richards, Tommy Rall, Marc Platt, Matt Mattox, Jacques d’Amboise, Nancy Kilgas, Betty Carr, Virginia Gibson, Norma Doggett, Ian Wolfe
Duração: 102 min. 

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