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Crítica | Sex and The City: O Filme

O primeiro filme do universo de Sex and The City.

por Leonardo Campos
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Quatro anos após o encerramento de Sex and The City (1998-2004), o público queria mais, os executivos cientes do potencial deste universo também, tal como as protagonistas do quarteto oriundo do programa televisivo criado por Darren Star, inspirado no livro de crônicas homônimo, publicado por Candace Bushnell. Digamos que o filme tenha demorado, mas quando chegou, trouxe bons resultados financeiros e ajudou os fãs a saciarem a sede de mais neuroses, decepções e descobertas da colunista e escritora Carrie Bradshaw, interpretada por Sarah Jessica Parker. Não podemos dizer o mesmo de sua estrutura dramática, em especial, a tradução do suporte televisivo para o cinematográfico, pouco orgânico por aqui, mas em linhas gerais, a produção se transformou num fenômeno midiático e ganhou uma continuação ainda menos interessante e desgastada em 2010. Dirigido e escrito por Michael Patrick King, o primeiro filme de Sex and The City parte de situações que englobam a vida das personagens após o desfecho da série, sem muitas novidades. Para ajudar o espectador que talvez desconheça o universo predecessor, Carrie faz as apresentações logo na abertura. Resume alguns pontos cruciais de Charlotte Goldenblatt (Kristin Davis), Miranda Hobbes (Cynthia Nixon) e Samantha Jones (Kim Cattrall), informações intercaladas com texto e imagens alusivas de cada uma.

Sabemos que a loira fatal interpretada por Cattrall agora trabalha com Smith Jerrod (Jason Lewis) em Los Angeles, mas ainda mantém contato cotidiano com as amigas. Miranda, sempre agitada com a vida profissional, passa por uma crise conjugal com Steve (David Eigenberg), numa relação onde o sexo se tornou apenas uma lembrança distante. Charlotte vive plenamente o seu casamento com Harry (Evan Handler), agora pais da garotinha chinesa adotada e ansiosamente à espera da criança concebida praticamente num milagre, haja vista as tentativas constantes da personagem durante algumas temporadas da série televisiva. Carrie, agora estabelecida com Mr. Big (Chris Nott), aparentemente vive um conto de fadas: vai casar após anos de idas e vindas na inconstante relação com o empresário, deslocando-se para morar num apartamento luxuoso que consegue dar conta da sua volumosa coleção de sapatos e roupas sofisticadas da moda. Assim, ao longo dos desnecessários 146 minutos de narrativa, contemplamos como tais caminhos pavimentados após o desfecho da série ganharão novos rumos.

A travessia cinematográfica é acompanhada pela assertiva direção de fotografia de John Thomas, setor ávido pelos ângulos mais sofisticados para contemplação em detalhes dos trajes supervisionados pela veterana Patricia Field, responsável pelos figurinos esplendorosos da produção que peca dramaticamente, mas é um deleite visual para que admira a relação entre moda e construção imagética. Para acompanhar a jornada destas quatro mulheres, a condução musical de Aaron Zigman vai da densidade de uma textura percussiva melancólica ao desempenho gozador de algumas passagens mais voltadas ao riso. Outro ponto que não pode ficar sem destaque é o design de produção assinado por Jeremy Conway, cuidadoso ao resgatar peculiaridades oriundas da série e trazê-las para o contexto fílmico com bastante adequação, sendo o icônico apartamento de Carrie o ponto alto desta jornada criativa. Com estes pontos delineados, o leitor deve estar se perguntando quais são os tantos problemas apontados na tradução cinematográfica de Sex and The City. Explico.

Apesar de ter alguns bons momentos, o filme em questão consegue desenvolver poucos traços presentes na série. Os conflitos, quando apresentados, eram resolvidos de maneira dinâmica em episódios que tinha no máximo 30 minutos. Aqui, no filme, por mais que tenhamos a oportunidade de matar as saudades de Carrie, Miranda, Samantha e Charlotte, parece que estamos diante de uma bricolagem pouco cuidadosa dos melhores momentos da produção televisiva. O filme é demasiadamente arrastado, a questão do consumo é muito aleatória, um festival que parece obrigatório ao ter que expor marcas para bancar o orçamento, além de escolhas questionáveis de Michael Patrick King no desenvolvimento dos diálogos e de situações vexatórias, incluindo momentos estereotipados, como a viagem para o México e a diarreia de Charlotte por ter se descuidado por um minuto e engolido água do chuveiro durante o banho. São piadas bobas que não acrescentam nada ao roteiro além da busca por gargalhadas fáceis. Caso tivessem sido editadas na versão final, sem sombra de dúvidas permitiriam um filme melhor, menor, no entanto, substancialmente mais encorpado. Fora isto, a questão do casamento de Carrie e Mr. Big também é demasiadamente enfadonha, com desencontros incabíveis entre os dois, conveniências do roteiro para permitir que a história se alongue mais do que deve.

A produção começa com o resumo mencionado, a convicção de que todo ano, novas garotas chegam ao território novaiorquino para viver aventuras amorosas e profissionais que definirão os seus perfis sociais, destacando posteriormente os pormenores de cada uma delas. Samantha vai adentrar numa crise pessoal após perceber que está vivendo em torno de Smith, ao invés de ser o centro de sua própria vida. Até mesmo um anel raríssimo de um leilão a loira não consegue arrematar, pois o namorado, agora um renomado ator hollywoodiano, contratou alguém para comprar a joia, presente para ser entregue numa ocasião especial. A compra, para Samantha, era uma espécie de comprovação da sua possibilidade de conquistar os bens materiais que bem quer, oriundos de seu empoderamento enquanto mulher bem-sucedida. Além disso, um vizinho sedutor, exibicionista sexual, tem mostrado o quão o sexo com desprendimento lhe faz falta. Entre idas e vindas de Smith nos bastidores de gravação de um épico, ela termina o relacionamento e segue a sua vida solteira, em busca de novas experimentações. Charlotte, após anos tentando engravidar, consegue aleatoriamente, sem intenções. Passa o filme sem riscos de aborto, como ocorreu na série, culminando num parto ocasionado por uma situação inesperada, mas necessária em sua jornada. Casada, sua rotina se resume ao lar, bem como os encontros com as amigas. Das quatro, ela é a mais estabilizada emocionalmente, confortável em sua realidade segura e amena com Harry e o equilíbrio do casamento.

Miranda e Steve enfrentam a mencionada crise. Sexo é algo raro, quando acontece, deve ser conforme os interesses da advogada, isto é, rápido e preciso, sem qualquer laço mais de intimidade. As amigas, por sinal, reprovam a postura dela quando menciona uma briga com o marido na noite anterior. Os problemas aumentam quando ele revela que foi infiel por apenas um momento, fruto da falta de tato na relação. Ambos se separam e o perdão vem apenas próximo ao desfecho, num panorama de desculpas para todos os lados, afinal, além de clamar por resgate em seu casamento, Mr. Big também está devendo algo para Carrie, após abandoná-la no altar numa cerimônia com mais de 200 convidados. Humilhada, a escritora atravessa uma fase tenebrosa de desânimo e melancolia, passagem mais confortável por conta da presença de suas amigas inseparáveis, bem como de sua assistente Louise (Jennifer Hudson), jovem moça interiorana que a ajuda na organização de sua página na internet, bem como noutras demandas posteriores ao fracassado casamento que não chegou a se consumar. Depois de amargar longos momentos, o casal retorna para uma cerimônia mais discreta, sem o excesso de brilho anterior, distante das páginas de revistas e jornais, como Carrie planejou inicialmente. No geral, em Sex and The City, os realizadores nos demonstram o quão movimentado pode ser um relacionamento, distante da estagnação que muitos acreditam ser o ideal. A moda e o consumo estão aliados, como na série, mas agora, menos orgânico e mais explícito, numa abordagem vulgar que transforma alguma passagens interessantes em momentos de pura futilidade, por mais que as quatro ainda sejam figuras icônicas carismáticas e atraentes.

Sex and The City: O Filme (Sex and The City: The Movie/EUA, 2008)
Direção: Michael Patrick King
Roteiro:
Michael Patrick King
Elenco: Sarah Jessica Parker, Kim Cattrall, Kristin Davis, Cynthia Nixon, Chris Noth, David Eigenberg, Willie Garson, Mario Cantone
Duração: 148 minutos

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