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Crítica | Shark Season (2020)

por Leonardo Campos
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Tenho um compromisso com a produção de críticas que define determinados limites. Um deles é a produção de análises de realizações da produtora The Asylum, conhecida por seus filmes classe Z, voltados ao tom paródico e oportunista de seus temas, geralmente envolvendo tubarões de várias cabeças, espécies fantasmas, etc. Há um público específico e dedicado para o segmento, mas não é parte da minha agenda parar e analisa-los. Quando o faço, unifico um montante e reflito a indústria, tal como fiz com os tubarões, as serpentes, os crocodilos e demais animais monstruosos do cinema. No formato artigo o desgaste diante de algo tão declaradamente bizarro é menor. Crítico de cinema analisa de tudo, mas como mencionado, impor seus próprios limites é sempre bom, afinal, se fosse criticar todos os filmes de tubarões existentes, não trabalharia com outra coisa.

Uma das exceções é o recente Shark Season, dirigido por Mark Atkins, também responsável pelo roteiro, ao transformar em texto dramático, o argumento de Andrea Ruth, supostamente baseado em acontecimentos da vida real. Ao conferir o trailer, observei que havia algo de diferenciado nesta produção, com o aumento do nível de qualidade da fotografia, edição, música e enredo. As aparências, como reforça o popularesco ditado, enganam. Há uma diferença significativa em termos de visualidade e inserção de alguma tensão dramática nesta aventura, mas um filho da produtora em questão pode até ser distinto dos seus irmãos de subgênero, mas jamais deixa o padrão da família. Está no DNA. E Shark Season, ao passo que avança, demonstra ser um autêntico filme com tubarões com o selo The Asylum. E deveria se chamar Águas Rasas 2.

É também um filme misteriosamente discreto. Não há cadastro no IMDB, para achar a ficha técnica, precisamos reencontrar a narrativa e assistir mais uma vez aos créditos. Poucas críticas postadas, para um filme timidamente contemplado. Logo em sua abertura, temos a básica cena de estabelecimento do tema: um ataque de tubarão-branco na região litorânea. É a vida de uma aventureira que é ceifada. Dali adiante, sabemos que haverá uma possível sequência de corpos destroçados pela poderosa mordida do predador de topo, atualmente ameaçado de extinção. Na trama, Sarah (Paige McGarvin) ocupa o lugar de protagonismo. Ela é a saudosa filha que logo no começo, conversa com o pai, James (Michael Madsen), sobre a sessão de fotos que pretende fazer com o ex-namorado Jason (Jack Pearson) e a sua nova companheira, Meghan (Juliana DeStefano), maquiadora que vai colaborar com o processo. E também dialogam sobre a falecida mãe de Paige.

É neste ponto que a trama se torna bem similar ao texto de Águas Rasas. A filha saudosa, a lembrar da mãe, presa numa formação rochosa, cerceada por um tubarão-branco à sua espreita. Há momentos de ataque, passagens muito semelhantes, dentre outros detalhes que comprovam a absorção da estrutura narrativa do filme de 2016 para a realização do inferior Shark Season. Após decidirem seguir para uma formação rochosa esplendorosa que pede em média três horas de deslocamento, o trio percebe que é patrulhado por um tubarão que não perde tempo e parte para o ataque. O CGI da equipe de efeitos visuais supervisionada por Glenn Campbell é menos ofensivo que o habitual nas produções The Asylum, mas dá pra passar. Rob Pallatina, na edição, emenda cenas documentais com o desempenho bem imaturo dos jovens atores, obrigados a expor determinadas falas do roteiro que são constrangedoras, de tão fracas e pueris.

Logo, o trio estará diante do momento mais apavorante de suas vidas. Na formação rochosa que serve de alicerce, a luta pela sobrevivência é desafiadora e angustiante, pois com a subida da maré, os níveis de água aumentarão e não haverá rocha alguma disponível. Submersos, os humanos perdem vantagem para os movimentos caudalosos do “monstro” com o “modo caça” ativado. Na direção de fotografia, Jared Cohn entrega boas cenas subaquáticas, juntamente ao punhado de cenas com enquadramentos abertos, focados no disfarce dos efeitos visuais limitadíssimos. A trilha sonora, bem comum, foi composta por quatro músicos, esforço de um grupo enorme para a entrega de um material apenas razoável. Ademais, diante do boom na seara dos “filmes com tubarões”, Shark Season se esforça para fazer algo diferente e relevante, mas não passa de mais uma aventura sobre jovens incautos perseguidos por um turbinado tubarão. Envolve nos primeiros momentos e cansa próximo ao desfecho, tamanha a quantidade de ganchos que modificam os rumos e flertam com surpresas que só ampliam o já curto tempo de duração da narrativa.

Shark Season — Estados Unidos, 2020.
Direção: Mark Atkins
Roteiro: Mark Atkins, Andrea Ruth
Elenco: Paige McGarvin, Juliana DeStefano, Jack Pearson, Michael Madsen
Duração: 98 min.

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