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Crítica | Shazam & a Sociedade dos Monstros (2007)

por Luiz Santiago
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Quando eu li o anúncio no hotsite da Panini sobre o lançamento da minissérie Shazam & a Sociedade dos Monstros aqui no Brasil, em um belo volume encadernado e em capa dura, eu atribuí o feito a um “empurrãozinho” do Mago que deu os poderes a Billy Batson. Porque isso foi um verdadeiro milagre. O personagem não tem uma cronologia de nomenclaturas muito simples e seus altos e baixos em revistas solo o deixaram escanteado por muitos anos. Aqui no Brasil, eu nem consigo me lembrar quando foi a última vez que o herói recebeu uma publicação. Mas a espera valeu a pena. Porque esta releitura de Jeff Smith para a origem do personagem é, em uma palavra, inesquecível.

Para melhor comunicação, deixo claro que vou usar a nomenclatura do personagem desde 2012, com a publicação de Liga da Justiça #7, nos Novos 52. Ele agora é oficialmente chamado de Shazam e o Mago (cujo nome original era Shazam) é apenas Mago mesmo.

Escrita e desenhada por Jeff Smith, a minissérie em 4 edições Shazam and the Monster Society of Evil foi publicada nos Estados Unidos em 2007, e não teve nenhuma pretensão cronológica, clássica ou canônica. Trata-se de uma história de reapresentação do Capitão Marvel/Shazam feita de maneira primorosa, com um belo toque infantil e cartunesco que aproxima o público desde as primeiras páginas, quando conhecemos o pequeno Billy Batson, um garoto sem-teto.

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Billy encontra o Mago pela primeira vez.

Dotado de forte determinação, independência, senso de justiça e fraternidade, Billy é escolhido pelo mago para receber os poderes de seis grandes personagens mitológicos ou semi-mitológicos: Salomão (sabedoria), Hércules (força), Atlas (resistência), Zeus (poder), Aquiles (coragem) e Mercúrio (velocidade). A partir daí, vemos a relação simbiótica entre Billy Batson e o Capitão Marvel, evocado toda vez que a palavra mágica SHAZAM! é gritada.

Essa dualidade entre o pequeno e o grande homem (aliás, a relação de tamanhos entre os personagens é um dos fatores dramáticos da história, que também traz aí uma questão de aparência X essência) é maravilhosamente trabalhada ao longo da trama e tem dois momentos impagáveis: o primeiro, na cena do cachorro-quente (como não rir com gosto de uma situação assim?) e o segundo mais para o final, quando a repórter Helen Fidelity se recusa a falar com Billy e depois baba e cai de amores pelo Capitão Marvel. A conversa “interna” que vem a seguir, após o Capitão dar um fora na repórter, dá o tom dessa relação, “Gostou dessa, Billy? / Gostei sim!“.

Jeff Smith consegue criar expressões adoráveis para Billy e a pequena Mary e tornar o Capitão Marvel extremamente simpático e até um pouco infantil (no bom sentido da palavra), um estreitamento entre sua relação com o garoto que o ‘hospeda’. A dualidade comportamental e também de identidade são bem mais complexas e ao mesmo tempo bem mais simples se as compararmos com as de outros heróis que fazem essa mudança sem nenhum auxílio mágico.

A trama fica ainda mais graciosa com a a entrada de Mary Marvel, do tigre/gato/Sr. Malhado em cena; tem seu ponto de agilidade e suspense com o aparecimento do Dr. Silvana (esse “l” que o personagem ganhou em português deixa o nome bem… incomum, não?) e ganha contornos críticos com a ameaça da vez, o Sr. Cérebro. Os insetos ansiosos para destruir os humanos e a justificativa que dão para isso nos fazem pensar sobre a questão e mostra um lado do roteiro que vai além do puro entretenimento.

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Qual é o problema de um herói gostar de cachorro-quente?

O mais interessante de tudo é ver a relação de grandeza, maturidade e ação dos dois protagonistas. A ligação entre eles é harmônica e cheia de cumplicidade, mas também tem teimosia e algumas alfinetadas, como sempre acontece entre irmãos. É por isso que Shazam & a Sociedade dos Monstros consegue cativar a todos os públicos. O carisma dos personagens e a fácil transposição das questões do roteiro para a vida real ajudam a identificação e colocam o leitor como um torcedor dos Marvels, ansiosos para que a dupla dinâmica vença a batalha e a guerra.

Jeff Smith definitivamente conseguiu seu intento de trazer o herói novamente ao imaginário popular, recontando sua origem — veja que o roteiro não é inovador, mas ele faz muitíssimo bem o que propõe. O leitor é apresentado da melhor e mais cativante maneira possível aos personagens principais do universo do Shazam e tem em mãos uma divertida aventura. É quase impossível ler uma vez só.

SHAZAM!

Shazam & a Sociedade dos Monstros (Shazam and the Monster Society of Evil) — EUA, 2007
No Brasil: Editora Panini (2014)
Roteiro: Jeff Smith
Arte: Jeff Smith
Cores: Steve Hamaker
210 páginas

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