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Crítica | Shazam! Fúria dos Deuses

Uma comédia furiosa.

por Felipe Oliveira
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Depois do divertido resultado do seu primeiro filme live-action, era esperado que Shazam! Fúria dos Deuses repetisse o feito com mais despretensão e agilidade, ainda mais considerando que a trama agora se passa quase quatro anos após os eventos anteriores, o que sinaliza uma confiança para o futuro do super-herói nas telonas isso no que diz respeito a história. E não há dúvida quanto o fator diversão ser o maior acerto do longa, visto a proposta para o personagem que tem o alter-ego de uma criança. Porém, se sua empreitada de origem equilibrava um drama sombrio com traços leves de comédia, é evidente que Fúria dos Deuses quer ser algo maior, mas que nunca consegue se encontrar como um todo.

Juntando-se a Henry Gayden, roteirista do primeiro filme, o veterano da franquia Velozes e Furiosos Chris Morgan ao menos parece ter feito jus a sua adição com a comédia o que justifica a excelente piada sobre a saga mirabolante de carros e de trabalhar as temáticas desta sequência: família e amadurecimento. A primeira, é sobre vínculos, afeto, o lugar de pertencimento, e embora a segunda seja uma tarefa difícil para Billy Batson, diz muito sobre responsabilidade, a pureza do seu coração e entendimento de ser um herói. Porém, esses aspectos foram bem mais aprofundados anteriormente, o que garantiu uma introdução sólida do Campeão da Humanidade a safra de filmes independentes da DC. Esse tratamento isolado continua aqui, enquanto David F. Sandberg tenta abraçar uma abordagem mais descompromissada fazendo da comédia o pilar do filme.

Para isso, Sandberg se afasta também do terror, gênero que mais pautou sua filmografia, mas ainda assim, há os acenos visuais à categoria como easter-eggs — e a composição de cenários mais caóticos e movimentação de câmera nos breves exemplos de ação. Nesses momentos, o cineasta se lança em trabalhar com cenas diferentes da atmosfera sobrenatural de sua marca, e troca o tom sombrio por algo mais próximo de uma aventura com desastres, bem Sessão da Tarde, o que lembra bastante o remake e requel de Jumanji, por exemplo — e essa familiaridade ganha ainda mais força com a presença de Gyula Pados, diretor de fotografia dos longas. E apesar das cenas não possuírem um visual marcante, dá para reconhecer que a aposta maior no orçamento quis trazer mais dimensão em cenas com mais presença de CGI, mesmo que o esforço não consiga transmitir personalidade.

Se por um lado a ação do filme não cativa como pretendia, Shazam! Fúria dos Deuses encontra êxito na maneira que assume a sua comédia. Há um tom de paródia e besteirol que caracteriza o maior triunfo da sequência, com um cunho parecido com as paródias de super-heróis antes das investidas dos estúdios em universos compartilhados. Esse estilo impulsiona uma dinâmica mais assertiva também para o leque de personagens, principalmente para as vilãs e a inserção da mitologia grega. Tudo é feito com um arranjo divertido, irônico e consciente que precisa ser ridículo, e Helen Mirren é uma das maiores surpresas dentro dessa abordagem cínica que não quer ser levada a sério. 

À medida que busca ser um filme maior, Fúria dos Deuses tem uma tarefa mais argilosa com os personagens, e nesse sentido, falha em organizar o tempo de tela e no tratamento dos arcos, que se divide entre drama e comédia. Observando todas as intenções da premissa e como ela é executada, dá para aproveitá-la melhor em trechos isolados do que como todo, e um momento que ilustra isso é no ato final, onde se concentra um conflito com grande apelo visual e melodramático, mas que perde pontos em seu desfecho graças às resoluções presas em conveniências. Nesse trecho, é quando a abordagem se desconecta também do tom mais despretensioso da comédia e pinta contornos comoventes, mesmo sendo lógico o que virá em seguida.

Encarar e reconhecer Shazam! Fúria dos Deuses como um besteirol que se corrompe ao se levar a sério é a forma mais justa de definir um dos projetos com mais personalidade do DCU ser ofuscado pelas escolhas banais de querer ser um filme familiar, no final. E mesmo com um resultado mais inconsistente e menos animador do que o primeiro, o longa é otimista em apontar para como deseja expandir o futuro do personagem nas telonas, mas só há um jeito que Shazam precisa ser: ridiculamente divertido.

Shazam! Fúria dos Deuses (Shazam! Fury of the Gods – EUA, 2023)
Direção: David F. Sandberg
Roteiro: Henry Gayden, Chris Morgan
Elenco: Zachary Levi, Asher Angel, Jack Dylan Grazer, Rachel Zegler, Adam Brody, Ross Butler, D.J. Cotrona, Grace Caroline Currey, Meagan Good, Lucy Liu, Helen Mirren, Djimon Hounsou, Marta Milans, Cooper Andrews
Duração: 130 min

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