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Crítica | Shazam: O Poder da Esperança

por Gabriel Carvalho
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“Tudo o que eu posso oferecer a Tanita é um sorriso amigo, um afago e algumas palavras de conforto. Em minha mente, isso está longe de ser o bastante. Mas ela fica feliz. Meus pequenos gestos dão a ela um motivo para sorrir, um instante de alívio para sua dor e medo.”

“Nesse instante, ela se vai.”

Contém spoilers.

O Capitão Marvel, hoje conhecido apenas como Shazam, foi um dos primeiríssimos super-heróis criados. Oriundo portanto da Era de Ouro dos quadrinhos, o personagem, originalmente da Fawcett Comics, detém de alguns valores similares ao Superman. Embora não tenha ganhado toda a popularidade colossal que o Homem de Aço possui até hoje, o trabalho sobre o personagem, adquirido posteriormente pela DC Comics, muitas vezes ganha comparações com os trabalhos feitos sobre o Superman. Todavia, as facetas de Billy Batson, o qual tem em seu intrínseco poderes ainda maiores do que os de seu alterego, poderes que residem especialmente nas crianças, mas que se permitem ser contemplados por todos, são únicas, tornando o personagem ideal para o anseio de Paul Dini e Alex Ross nesse outro projeto da dupla.

Na história criada pelos quadrinistas, um pedido especial de uma funcionária de um hospital infantil, convidando o herói para visitar e interagir com as crianças do local, chama a atenção de Billy, que mesmo conflitante após dialogar com o Mago Shazam, decide por acalentar os jovens com a sua presença. Na narrativa, a exploração da relação de Marvel com os pequenos se molda graciosamente. O coração sereno do personagem, reflexo de sua própria personalidade, combina com a alegria, mesmo desencorajada pelas circunstâncias, das crianças. Apesar de tudo, elas são fortes e corajosas e, com a ajuda do símbolo que Shazam carrega em sua essência, resistem dos percalços que a vida precocemente lhe apresentaram.

Diferentemente de Paz na Terra, que lida com problemáticas de níveis globais, O Poder da Esperança aproxima-se de questões humanas como forma de resistência em decorrência de conflitos que, infelizmente, há muito pouco que possa ser feito. Contrapondo Superman na história citada previamente, não há realmente nada que o Capitão Marvel possa fazer para acabar com o sofrimento da maioria daquelas crianças. A única coisa que Shazam pode prover para esses jovens é o conforto de sua existência, a memória de sua felicidade, a esperança de que tudo vai dar certo. Mesmo que não dê.

Em paráfrase a algum autor que não me recorda a memória, “mesmo se soubesse que o mundo se desintegraria amanhã, ainda assim plantaria uma macieira”. A esperança não precisa ter um fundo na razão, na realidade das coisas como elas são ou como elas vão ser. Esperança não é mais uma das tolices humanas que nos sustentamos cegamente. Muito pelo contrário, talvez seja o artifício mais grandioso que invoquemos para surpassar o entediante e doloroso pêndulo que é a vida, segundo pensamentos do filósofo Schopenhauer. Muitos encontram a esperança com outros significados, por meio de outros sinônimos, ligados a fé, relacionados a crenças religiosas. Em O Poder da Esperança, o Capitão Marvel é algo muito maior do que um simples super-herói para aquelas crianças.

Dando complemento ao texto de Paul Dini, Alex Ross utiliza os seus traços hipnotizantes para intensificar uma aura quase divina sobre Shazam. Compete ao artista dar emoção aos segmentos específicos da narrativa que pede por tal. Alex Ross não falha em nenhum ponto com o leitor, garantindo até mesmo lágrimas em alguns momentos. É incrível a diferença entre um quadrinho de qualquer outro autor com um quadrinho ilustrado por Ross. Cada página é uma obra de arte imensurável, e facilmente perde-se (ou melhor dizendo ganha-se) minutos apenas visualizando a beleza de cada um dos detalhes – feições e texturas transpostas perfeitamente. O texto aqui conta tanta história quanto as imagens. Independente de qualquer valor do conteúdo apresentado – o que não é o caso aqui, visto que O Poder da Esperança também é certeiro em sua mensagem – uma obra com arte de Alex Ross sempre é única, digna de toda a apreciação.

A graphic novel ainda conta com uma trama sobre um garoto que sofre de violência doméstica de seu pai, e, excepcionalmente nesse caso, cabe a Billy Batson intervir diretamente na situação, não necessariamente como Shazam, mas também como criança. É um arco muito bem vindo, que auxilia na mensagem contada por Dini e Ross, sobre a importância de tomarmos partido das coisas e fazermos diferença na vida do próximo, tendo superpoderes ou não. Sendo assim, O Poder da Esperança é uma obra-prima, evidenciando possuir um valor muito além do estético, o qual é propiciado pelo imensurável trabalho de Ross, ao traduzir um discurso afetuoso e importante através do comovente e esperançoso texto de Dini.

Shazam: O Poder da Esperança (Shazam: Power of Hope)  — EUA, 2000
Roteiro: Paul Dini
Arte: Alex Ross
Editora original: DC Comics
Data original de publicação: dezembro de 2000
Páginas: 64 páginas

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