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Crítica | Sherlock – 4ª Temporada

por Iann Jeliel
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Sherlock

A última temporada de Sherlock já começa estranha quando não respeita a continuidade da anterior. Considerando que o último episódio dela é His Last Vow e não The Abominable Bride, que é somente um especial, o final com o retorno de Moriarty não conversa com o início desta que começa todo um outro mistério do zero, assim a conexão anterior do “filler” entre os diferentes séculos se torna mais inútil do que parecia, porque também tem seu gancho ignorado. Entra então uma trama desinteressante com mais um vilão conspiracional genérico conectado ao ponto mais fraco da temporada anterior, que é o envolvimento de Mary com a espionagem.

Além de ser um arco sem absolutamente nenhum peso, não há planejamento estratégico o envolvendo, somente uma busca incessante para interligá-lo aos pontos já fechados de tramas passadas. Não existe mais nessa temporada aquela preocupação de elaborar missões complexas que estipulam desafios, aliada a uma coordenação temporal para humanizar o personagem e tornar seus feitos genuinamente extraordinários. The Six Thatchers representa o pior de Sherlock em seu modo “deus” e no superprotagonismo, que ignora as noções carismáticas de interação entre ele e Watson. Tudo bem que parte do episódio busca criar uma cisão entre eles, justamente pelo elemento Mary, mas soa desnecessário e mal-construído porque o episódio também se costura em várias subtramas que o inflam dentro de uma das poucas montagens bagunçadas da série.

O subsequente, The Lying Detective, é o melhorzinho, pois consegue transferir esse senso consequencial da trama de Mary para a mente da dupla principal, principalmente para a de Sherlock, que se torna imprevisível em suas ações e deixa a vilania do específico Toby Jones também incerta. O jogo entre os dois é um dos poucos momentos de inteligência instigante do roteiro, e talvez o último jogo interessante entre Sherlock e um grande vilão, embora novamente aquele problema de protagonismo surja para resolver tudo no automático, dentro da bagunça desproporcional da montagem em coexistir o jogo com as teias conectivas e vai e vem de mais subtramas intermináveis, que também inflam o episódio.

Depois de uma imensa enrolação de ligações, finalmente Moriarty volta, obviamente para o capítulo decisivo e desafio final, mas com um grande “porém”. Descobre-se que na verdade ele nunca foi o vilão da série, e existia por trás uma irmã de Sherlock vingativa e tão inteligente quanto ele que planejou tudo “desde o início”. Rivalidade bem-construída? Pra quê? Ela é jogada no ralo por hereditariedade a ser justificada nos finalmentes do clímax, na máxima do protagonismo exacerbado. No fim, tudo tinha que estar girando em torno de Sherlock de alguma maneira.

Não importa se isso faz ou não sentido com a construção geral da série, joga-se uma justificativa qualquer que conecte fatos anteriores planejados episodicamente por outra dedução e está justificado, afinal, por ser irmã do gênio da dedução, ela poderia fazer ainda melhor, né? Até no universo de Sherlock Holmes, é preciso existir um mínimo de verossimilhança com sua proposta, algo de que este episódio final passa longe, e não pouco. Fora que a batalha final em si é pouco envolvente, climaticamente morna, sem grandes cenas, grandes sacadas, de novo, sem utilizar a química de Watson e Sherlock como dupla para solucionar o problema em sua maior escala. E, olha que curioso, uma série que sempre buscou abraçar a grandiosidade mesmo sendo melhor fora dela, no último capítulo pede arrego e não consegue propor nenhum senso de grandiosidade para um último desafio.

Então, não sobra muito o que aproveitar, The Final Problem quase que por completo mancha todo o legado da série, e a temporada acaba sem uma última aventura digna para sentirmos falta da dupla que aprendemos tão bem a gostar no início.

Sherlock – 4ª Temporada | Reino Unido, 2017
Criação:
Steven Moffat, Mark Gatiss
Diretores: Rachel Talalay, Nick Hurran, Benjamin Caron
Roteiristas: Mark Gatiss, Steven Moffat (baseado nos livros de Sir Arthur Conan Doyle)
Elenco: Benedict Cumberbatch, Martin Freeman, Una Stubbs, Rupert Graves, Mark Gatiss, Louise Brealey, Amanda Abbington, Toby Jones, Lindsay Duncan, Sian Brooke, Andrew Scott
Duração: 3 episódios – 90 minutos em média cada episódio

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