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Crítica | Short Trips: The World Tree

Uma bolha temporal, uma árvore de tamanho planetário e uma conversa sobre problemas psicológicos.

por Luiz Santiago
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Eu fiquei surpreso com o rumo que essa história levou, comparando o seu início inocente, flertando com um conto de fadas; e o seu final emocionalmente denso, mas ainda assim, trazendo uma oportuna porta de esperança. Escrita por Nick Slawicz, essa Short Trip lançada em 29 de dezembro de 2022 nos trouxe o 11º Doutor em uma sequência de visitas a uma mulher chamada Nora Wicker, que possui sérios problemas emocionais. Ela perdeu o marido há pouco tempo e está recém-saída de um hospital psiquiátrico, com um diagnóstico de “ver coisas e pessoas que não estão lá“. O diagnóstico não é dado no roteiro, claro, mas a sua simples explicação é fornecida, e isso faz com que o leitor tenha um sentimento de proteção em relação a essa senhora de 76 anos que, certo dia, se depara com um novo arbusto de folhas vermelhas em seu jardim. Um arbusto que ela não tinha memória nenhuma de ter plantado.

O título The World Tree nos indica bem o tipo de árvore que temos em cena, um verdadeiro gigante extraterrestre, que cresce sem parar e, como consequência, pode trazer o fim do mundo e de seus habitantes. Para impedir que esse crescimento acontecesse, o 11º Doutor precisou colocar a árvore em uma bolha temporal. Dessa forma, ela reinicia o seu crescimento todos os dias, a partir da 0h. Essa gambiarra deveria funcionar até que o Doutor conseguisse arranjar um jeito de levar a árvore embora para um planeta que a abrigasse corretamente. Mas o que nem ele e nem o espectador esperava, é que Nora Wicker iria pedir para que o Doutor não cessasse aquela bolha. E esse ponto da aventura nos traz uma quantidade muito grande de pensamentos sobre a dor do luto, sobre o peso da solidão na velhice e o impacto dos problemas psicológicos em cima de tudo isso.

Nora tenta encontrar uma resposta para a existência de tudo aquilo, mas nada do que o Doutor diz a ela parece ser muito “normal“. Ele chega a mencionar o caso de uma Baleia Estelar (The Beast Below) e fala de outros problemas que enfrentou em sua vida, fazendo com que Nora duvidasse cada vez mais de sua própria sanidade. É interessante essa presença do Doutor, em forma de holograma, porque ele não tem como tirar a árvore da Terra, por enquanto, e a única maneira que encontrou para ter um mínimo de impacto possível no planeta foi colocar a espécie em uma bolha que se recria a cada novo dia. Ocorre que Nora, no processo, se esquece de todo o contato que teve anteriormente com o Doutor (afinal, a árvore está no jardim dela!), encontrando nessa descoberta diária uma espécie de paz e prazer que não sentia há tempos. Um Como se Fosse a Primeira Vez da ficção científica.

A reta final da trama é bastante densa e tocante. O roteiro nos convida a pensar sobre o como algo visto negativamente por uma pessoa pode ser a salvação de outra. Como a memória tem um valor diferente para cada um. Como os indivíduos lidam com o sofrimento. E, claro, sendo uma história de Doctor Who, essas reflexões não poderiam terminar sem uma lufada de esperança e salvação, vinda com a presença ilustre de ninguém menos que o 15º Doutor! Isso é impressionante porque essa encarnação do Time Lord só irá estrear na série no Especial de 60 anos, em Novembro de 2023 (eu escrevo essa crítica em janeiro de 2023). E 11 meses antes disso, Nick Slawicz nos presenteou com essa aparição. Quando eu li a indicação do Doutor em questão, abri um sorriso do tamanho da Árvore do Mundo. Impossível não se emocionar, pelo menos um pouquinho.

 The World Tree (Doctor Who: Short Trips) — Reino Unido, 29 de dezembro de 2022
Roteiro: Nick Slawicz
Elenco (narração): Lisa Bowerman
Produtor: Peter Anghelides
Música: Alistair Lock
Som: Alistair Lock
Capa: Mark Plastow
41 minutos

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