Home Audiodramas Crítica | Short Trips – Volume 1 (Big Finish)

Crítica | Short Trips – Volume 1 (Big Finish)

por Luiz Santiago
171 views

O conceito das Short Trips não pertence à Big Finish. Ele foi criado pela BBC Books, em 1999, cuja proposta era lançar antologias de contos em um volume com histórias de vérios Doutores, de preferência escritas por autores diferentes. A editora teve posse das publicações até março de 2000, quando passou os direitos para a Big Finish Productions (a editora).

Já em nova casa, as Short Trips passaram a ser publicadas com mais frequência. O primeiro volume lançado foi Zodiac, em março de 2002; e o 28º e último original, Indefinable Magic, em março de 2009. Em maio do mesmo ano, a editora publicou o 29º volume da série, Re:Collections, com as melhores histórias dentre as Short Trips lançadas anteriormente.

Em 2010, a Big Finish fez um concurso para novos autores. A ideia era que Short Trips inéditas fossem escritas mas não publicadas em livro e sim gravadas em áudio. Assim surgiram os 4 Volumes de audiodramas da série Short Trips. Este primeiro volume foi lançado em Novembro de 2010.

No presente texto, o leitor encontrará críticas para todas as 8 histórias que compõem o Volume 1 das Pequenas Viagens em áudio da Big Finish.

Abaixo, a sequência das histórias, disponibilizadas do 1º para o 8º Doutor.

.

Rise and Fall

1X01 – Series Premiere

Equipe: 1º Doutor, Susan, Ian, Barbara
Espaço-tempo: Planeta não nomeado, tempo indeterminado (mas sabemos que ocorre imediatamente após o arco O Reino do Terror).

“Perspectivas temporais distintas”. Este é o resumo temático de Rise and Fall, o excelente início deste volume de Short Trips.

A TARDIS se materializa em um planeta não nomeado, um lugar onde o Doutor nunca esteve antes. Susan está trocando de roupa em algum lugar da nave e chama Barbara para ver alguns modelos. O Doutor fica sozinho com Ian na sala de controle e, quando a nave pousa, apenas os dois saem para explorar o local.

O que vem a seguir é simplesmente incrível. Para Ian e o Doutor, o tempo está passando extremamente rápido. Já para os seres desse planeta (humanoides pálidos e de face equina), o tempo está passando extremamente devagar. Isso significa que, enquanto para os nativos, alguns milênios se passaram, para o Doutor e Ian, apenas alguns segundos se foram.

Isso permite com que eles vejam a aurora e o crepúsculo dessa espécie. O roteiro aborda ambos os lados, mostrando a diferença de perspectiva, os homens e animais indo de um estágio primitivo (algo como a nossa pré-História) para a conquista espacial e até a revolução de uma das colônias lunares desse planeta, que clamava por independência.

Para os habitantes, o Doutor e Ian são deuses. As roupas deles são iguais aos dos viajantes e suas casas parecem uma TARDIS. Até um garoto recebe o nome de “Call Box”!

Ao mesmo tempo em que é brilhante, Rise and Fall nos pega de surpresa e nos deixa pensando sobre questões civilizacionais, por assim dizer. A leitura de William Russell é, como sempre, exemplar, e guia muito bem o texto, fazendo todas as vozes e dando o tom certo dessa genial e chocante abertura de série.

Ouça a aventura completa

Roteiro: George Mann
Elenco: William Russell
Duração: 1 episódio de 26 min.

.

A Stain of Red in the Sand

1X02

Equipe: 2º Doutor, Zoe
Espaço-tempo: Reino Unido, tempo indeterminado

Esse história é composta por uma série de estranhezas e indefinições que incomodam o espectador. Não porque a trama central é aberta a muitas interpretações. Isso é muito interessante, lembra um pouco os eventos de Blink ou do terrível Love & Monsters, onde a narrativa acontece sob o olhar de uma personagem.

Mas vamos do começo. No presente caso, a história nos é transmitida principalmente pelo olhar de Indigo – com algumas poucas incursões do narrador -, que namora um escultor chamado Roger, cuja obsessão pela abertura em sua janela da cozinha e sua atual arte faz com que o rapaz se afaste dela e não lhe dê nenhuma atenção.

O que temos aqui é uma dupla forma de enxergar as coisas, a primeira, literal, ou seja, realmente a janela da cozinha de Roger era um portal do tempo, ele via através dela um mundo de areia e dois sóis e o Doutor lutando contra uma espécie alienígena chamada Caretakers. A segunda forma pode ser uma metáfora. A janela pode ser, na verdade uma TV (como em Blink) ou alguma outra coisa que venha tirando a atenção de Roger – contanto aí a presença inexplicável do Doutor e sua luta contra os insetoides.

A história tem um potencial grande, mas pouco desenvolvido. Os maiores pontos vão mesmo para a imaginação do autor, mesmo tendo uma série de coisas que fiquem sem explicação no fim da aventura, principalmente como ele salva Zoe. Na verdade, ele consegue “tirá-la” da realidade de dentro da janela e trazê-la para seu apartamento na forma de uma escultura? Como disse antes, a proposta é bem melhor que a execução, mas mesmo assim, vale a pena ouvir a história. Pelo bem, pelo mal, é uma aventura curta, de apenas 15 minutos, não vai matar, ninguém.

Roteiro: David A McEwan
Elenco: David Troughton
Duração: 1 episódio de 15 min.

..

A True Gentleman

1X03

Equipe: 3º Doutor
Espaço-tempo: Escócia, anos 70

Ambientado na Escócia, durante a década de 1970, A True Gentleman é um fantástico relato de uma criança sobre sua experiência de encontrar e estar com Doutor por um tempo. O modelo narrativo aqui utilizado por Jamie Hailstone é exatamente o mesmo que tivemos em A Stain of Red in the Sand, com a única diferença de que essa presente história não tem mistérios insolúveis e tudo está posto de maneira bem clara.

Katy Manning realiza uma leitura fantástica do conto. Sua entonação como uma criança estupefata com o que vê e o tom de confidência para o leitor é simplesmente maravilhoso. O desenvolver da aventura, por sua vez, abre caminho para esses arroubos de espanto e quase julgamos ser produto da mente do nosso terno narrador.

Num primeiro momento, achamos que a trama será apenas o Doutor arrumando a bicicleta de um garoto na Escócia, mas um evento interessante acontece. Um embaixador do Planeta Colbaltis aparece na casa e não só assusta ao narrador mas também ao espectador, que fica esperando por algo pior, enquanto o Doutor está dentro da TARDIS procurando algo para a bicicleta de seu novo amigo. No entanto, percebemos que a presença dessa espécie de lagarto verde só estava lá para receber algo do Doutor, coisa que vinha fazendo, segundo o próprio Time Lord diz, a alguns anos.

Particularmente gosto bastante de narrativas em DW cujo ponto de vista é o de uma criança, mesmo que como uma lembrança de tempos passados (a exemplo em A Town Called Mercy). Por isso mesmo, A True Gentleman já entrou para o meu hall de histórias favoritas nesse quesito, pois trata-se de uma aventura divertida, instigante e que explora o lado cavalheiro do 3º Doutor, com sua autoridade natural, seu figurino pesado e Bessie, seu calhambeque amarelo que faz uma ponta bem vinda na aventura; e tudo isso narrado pela perspectiva de uma criança espantada mas ao mesmo tempo feliz e encantada em conhecer o mundo do Doutor. Tem como não gostar?

Roteiro: Jamie Hailstone
Elenco: Katy Manning
Duração: 1 episódio de 17 min.

.

Death-Dealer

1X04

Equipe: 4º Doutor, Leela
Espaço-tempo: Mercado galáctico de um planeta não nomeado, tempo indeterminado (mas sabemos que acontece imediatamente após o arco The Robots of Death).

Daí a história termina e você fica se perguntando: cadê o resto? Como assim? E ainda vai conferir o player para ver se realmente acabou. Então a decepção vem. Uma pena uma trama tão inteligente no começo e desenvolvimento ter um final reticente abrupto e insatisfatório como esse…

A história aqui acontece em um planeta árido, povoado por diferentes espécies, inclusive humanos. A TARDIS se materializa no local e imediatamente o Doutor e Leela percebem que se trata de um lugar bastante movimento, cheio de gente comprando e vendendo coisas. Como Leela não tem conceito de dinheiro ou comércio, o Doutor lhe faz uma breve explicação e pede para que ela saia e compre alguma coisa para si. Como era de se esperar, a companion vai comprar uma arma, mas é aí que algo inesperado acontece.

Por mais que nós soubéssemos que a morte de Leela não podia ser permanente nessa aventura, há uma certa apreensão por parte do espectador. Mas logo percebemos o truque do roteiro, cuja lição de moral é bastante eficiente e nada gratuita. O Death-Dealer do título é um homem lagarto que mata pessoas com a aprovação da lei. Leela sem saber comprou sua própria morte. Mas em seguida o Death-Dealer devolve a vida a ela, também como parte do processo legal. Segundo ele, esse processo era capaz de dar uma nova perspectiva para as pessoas (devia haver um desses na vida real, não?).

Como disse no início do texto, a trama é bastante inteligente e trabalha objetivamente com conceitos morais de peso. Mas o término, com uma fala do Doutor seguida de um vazio existencial, não ajuda muito o espectador a gostar da história. Um pena.

Roteiro: Damian Sawyer
Elenco: Louise Jameson
Duração: 1 episódio de 10 min.

.

The Deep

1X05

Equipe: 5º Doutor, Nyssa
Espaço-tempo: TARDIS / Terra, Oceano não especificado, tempo indeterminado

Nyssa, cheia de boas intenções, resolve arrumar o Circuito Camaleão da TARDIS e fazer uma surpresa para o Doutor. Sem consultar o manual da nave (aludido nos arcos  The Pirate Planet e Vengeance on Varos), a companion acredita ter feito um bom trabalho e também o Doutor, que mesmo inconformado com a transformação, parece aceitá-la.

Todavia, o que nenhum dos dois esperava era que a nave fosse se transformar em uma baleia! Eu confesso que ri bastante nessa parte da história. Ver o desespero do Doutor e a transformação em si foi realmente algo interessante. O Time Lord e Nyssa acabam saindo da água e o Doutor tem uma ideia sobre como recuperar sua nave.

É evidente que o roteiro de Ally Kennen chama a atenção e contém elementos básicos de uma boa história de DW, especialmente uma protagonizada pelo 5º Doutor. O problema é que fora a parte da transformação da TARDIS em baleia, a sequência de eventos perde força compassadamente, terminando num estágio de indiferença por parte do público. A resolução final acaba sendo normalmente satisfatória, mas aquém do que se esperava para uma trama com esse mote.

Roteiro: Ally Kennen
Elenco: Peter Davison
Duração: 1 episódio de 15 min.

.

The Wings of a Butterfly

1X06

Equipe: 6º Doutor
Espaço-tempo: Gallifrey, Era Rassilon / Planeta Bixor, tempo indeterminado

Escrito por Colin Baker um bom tempo antes de ser gravado pela Big Finish, The Wings of a Butterfly é uma interessante história de manipulação do tempo, acasos das viagens temporais, Efeito Borboleta e desobediência às leis de Gallifrey. O autor/Doutor, que também lê a aventura – de maneira irretocável, diga-se de passagem, e infinitamente melhor do que Peter Davison leu The Deep -, brinca com as muitas peças que uma viagem no tempo pode pregar a alguém, mesmo aos bem intencionados.

Aliás, todo o roteiro brinca com o acaso e o poder das coisas mais simples no encadeamento da História, algo que podemos ver de maneira muito evidente no destino do Planeta Bixor, que simplesmente desapareceu – porque explodiu – devido a um acontecimento trivial e aparentemente sem importância.

No início da aventura, quando o 6º Doutor está em Gallifrey conversando com seu amigo e antigo tutor Duotheros, a questão sobre a mudança do tempo vem à tona. Duotheros é visivelmente um velho cientista, com fala apressada e maneirismos vocais que lembram um avô muito preocupado e um pouco birrento ao ser confrontado com alguma questão misteriosa – em certo ponto da narrativa, tive a impressão de que Baker compôs a personalidade de Duotheros como uma espécie de lembrança (ao menos conceitual/psicológica) do 1º Doutor.

As idas e vindas no tempo e os impasses que o Doutor precisa encontrar no processo são o grande atrativo da aventura, que traz uma atitude completamente oposta ao que a já citada 1ª encanação do Doutor faria em relação a modificar algum ponto fixo no tempo (Pelo menos na maior parte das vezes e/ou se pudesse evitar). O 6º Doutor aqui, ao aceitar fazer um favor para seu amigo, depara-se com uma situação que não consegue deixar escapar e, de repente, lá está ele agindo como o Time Meddler que tanto criticara tempos atrás. Como o tempo muda as pessoas!

Roteiro: Colin Baker
Elenco: Colin Baker
Duração: 1 episódio de 19 min.

.

Police and Shreeves

1X07

Equipe: 7º Doutor, Ace
Espaço-tempo: Londres, anos 80

A história de Adam Smith, roteirista desta Short Trip, é bem fraca em comparação às anteriores deste mesmo volume. A ação se passa em Londres, onde o 7º Doutor e Ace estão resolvendo um caso de uma espécie alienígena chamada Shreeve, que além de ser especialista em drenar energia é um tipo de alien que se metamorfoseia e, rapidamente, se torna a espécie dominante de um planeta.

O que me incomodou bastante foi a distância do texto em relação à participação do Doutor. Ace tem um destaque interessante, até porque ela foi designada pelo Doutor para “prender” uma Shreeve; mas essa participação não basta para tornar a história um conto do Doutor e uma companion. A ideia que perpassa a trama é interessante e também a espécie em questão, mas a mudança contante de ponto de vista – uma hora o narrador adota um ponto, outra hora, outro ponto – atrapalhou um pouco o contexto e, com certeza, diminuiu a força que o enredo poderia nos trazer.

O envolvimento da UNIT na aventura parece fraco, embora conceitualmente aceitável. Outra coisa que aparece aqui e que poderia ser figurada de outra forma é a capacidade de hipnose do Doutor. O Time Lord já havia apresentado essa habilidade nos arcos The Krotons e Revelation of the Daleks; bem como na comic strip Lizardworld (só para citar alguns exemplos) mas aqui, tal habilidade me pareceu algo muito fácil e um pouco fora de uma atitude esperada do 7º Doutor nessa situação. Pelo menos a leitura de Sophie Aldred é agradável e faz valer os 14 minutos da trama, que, de toda forma, não é assim tão terrível.

Roteiro: Adam Smith
Elenco: Sophie Aldred
Duração: 1 episódio de 14 min.

.

Running Out of Time

1X08 – Season Finale

Equipe: 8º Doutor
Espaço-tempo: Reino Unido, tempo indeterminado

Para o 8º Doutor, essa história acontece em três tempos distintos, que abordaremos na ordem em que ocorrem na história.

A ação principal, o encontro com Jeff e ponto de partida para as duas viagens seguintes está entre An Earthly ChildSituation Vacant, ambos audiodramas da Big Finish. O segundo momento é um flashback, quando o Doutor está presente quando Isabella coloca a consciência de Malson em Jeff. Esse evento ocorre ente os contos The People’s Temple e Totem. O terceiro momento acontece no aniversário de 16 anos de Jeff, quando o Doutor volta para tentar ajudá-lo. Essa ação acontece entre o romance The Eye of the Tyger e os quadrinhos da ‘Doctor Who Magazine’, End Game.

O que acontece nessa história é um dos casos mais cruéis de possessão mental (se é que podemos chamar assim) já vistos em Doctor Who. E o seu final trágico também aponta para uma estrada de novidade, quase como se não houvesse jeito para Jeff, estando ele condenando a viver sob a “possessão” mental de um homem que queria viver para sempre e as visitas constantes do Doutor, que só o confundia e o fazia sofrer a cada novo “reiniciar” da memória.

Mesmo com o peso dos eventos – dramas densos sempre rendem bons resultados em Doctor Who – a história narrada não é assim tão interessante. Não que a postura de Jeff e sua relação com o Doutor não toque o espectador e tenha sua importância, mas talvez por ser um pequeno conto e não haver muito tempo para trabalhar os fatos, o resultado final não tenha saído tão glorioso como talvez se esperava.

Running Out of Time encerra, portanto, de maneira mediana, o primeiro volume das Short Trips.

Roteiro: Dorothy Koomson
Elenco: India Fisher
Duração: 1 episódio de 16 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais