Os últimos dois anos de publicações da Dynamite Entertainment têm sido marcados pela ressuscitação, em quadrinhos, de diversas franquias de desenhos animados de outrora de propriedade da Warner Bros., sejam personagens da Hanna-Barbera como Space Ghost, Os Herculoides e Johnny Quest ou animações oitentistas criadas para vender bonequinhos como ThunderCats e, agora, seu plágio SilverHawks que, vale lembrar, só ganhou uma curtíssima versão em quadrinhos de sete edições pela Marvel Comics entre 1987 e 1988. E é claro que aquele adolescente bobão que curtia tudo isso e que ainda vive em mim mesmo décadas depois, fica curioso para conferir essas reencarnações e, tendo comentado sobre o primeiro volume dos Gatos do Trovão, agora é chegada a vez dos humanos amplificados ciberneticamente para parecerem falcões prateados e patrulhar a galáxia Limbo em eterna luta contra o vilanesco gângster Monstro Espacial.
O primeiro arco da HQ, composto de cinco edições, é, como era de se esperar, uma história de origem que aborda a formação da segunda geração dos SiverHawks pelo experiente Comandante Stargazer depois que o referido vilão aprisionado por ele e sua antiga equipe escapa da prisão em que está há um século. Mas, diferente do primeiro episódio da série original, que aborda basicamente o mesmo assunto, só que mal e porcamente, o roteiro de Ed Brisson, que considero um bom escritor, já na largada cria uma estrutura lógica, ainda que simples e repleta de clichês usados de maneira básica. Como a Dynamite fez com ThunderCats, pelo menos no começo, a ordem é não assumir riscos, não complicar demais e, também, economizar na violência mais explícita por essa ser uma linha teen da editora, ou seja, para adolescentes, pelo que o que temos é a boa e velha passagem de bastão de uma geração para outra, desta vez comandada por Jonathan Quick, codinome Quicksilver, o primeiro novo SilverHawk.
Essa abordagem impede que o primeiro arco alce grandes voos, mas, por outro lado, resulta em algo que pode ser classificado de universal e que tem potencial de agradar tanto os mais jovens quanto os burros velhos que porventura gostavam da animação original. Stargazer funciona como o chefão rabugento que reclama que está velho demais para lutar e o Monstro Espacial mantém aquela característica de Scarface do espaço, ou seja, de um gângster que quer o controle do submundo do Limbo e não exatamente sua destruição ou algo semelhante. Outra boa característica desse início é o destaque dado à primeira geração de SiverHawks que serve de mentora para a segunda geração e que até mesmo ganha uma edição – a quinta – dedicada a contar em flashback como ela conseguiu capturar o Monstro Espacial. Novamente, não é nada do outro mundo, mas essa estrutura coesa e equilibrada empresta algum coração ao trabalho de Brisson que parece fazer todo o esforço possível para sair das limitações muito provavelmente impostas pela editora.
Há uma inafastável afobação por parte de Brisson, porém. No lugar de marinar a história, ele corre alucinadamente para inserir o maior número de personagens da mitologia da série animada já aqui nessas primeiras cinco edições, entulhando demais a narrativa e tirando espaço de Quicksilver, Bluegrass, Hotwing, Steelheart, Steelwill e Copper Kid. Na verdade, minto, pois Quicksilver ganha destaque suficiente, com uma passagem de tempo apertada, mas que pelo menos conta com explicações para seus implantes cibernéticos se adaptarem rapidamente ao seu corpo e algumas páginas de treinamento. Apenas os demais é que já “nascem prontos” basicamente e, portanto, acabam não funcionando tão bem quanto deveriam, especialmente no que se refere à dinâmica da equipe, algo que, espero, seja desenvolvida com mais vagar e cuidado nos próximos arcos.
A arte de George Kambadais é um reflexo do roteiro de Ed Brisson e dos mandamentos da Dynamite, ou seja, tem traços simples, ainda que eficientes e não se distancia quase nada dos visuais clássicos da animação, perdendo um pouco da personalidade aqui e ali e, por vezes, até tropeçando nas sequências de ação que são muitas vezes bagunçadas. Por outro lado, não se pode dizer que não há harmonia entre Brisson e Kambadais, algo que, às vezes, é mais importante do que arroubos criativos quando o objetivo é criar um ponto de largada que o maior número possível de pessoas apreciará. Afinal, vamos combinar que não há como esperar muito mais de SilverHawks a não ser que as rédeas sejam largadas e Brisson realmente possa expandir a mitologia de maneira mais ousada e interessante. Quem sabe a Dynamite não toma coragem como de certa forma vem acontecendo com sua versão dos ThunderCats?
SilverHawks (2025) – Vol. 1 (EUA, 2025)
Contendo: SilverHawks (2025) #1 a 5
Roteiro: Ed Brisson
Arte: George Kambadais
Cores: Ellie Wright
Letras: Jeff Eckleberry
Editoria: Nate Cosby, Joe Rybandt, Matt Idelson
Editora: Dynamite Entertainment
Datas de publicação: 29 de janeiro, 19 de março, 07 de maio, 14 de maio e 23 de julho de 2025
Páginas: 160