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Crítica | Sin City: Vol. 7 – De Volta ao Inferno (Uma História de Amor)

por Ritter Fan
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estrelas 4

Now I’m calm. Calm as a monk. Or an executioner.

Com pouco mais de 300 páginas, De Volta ao Inferno é, de longe, a mais longa graphic novel da série Sin City. E é também a última, pelo menos até agora, além de, de certa forma, ser uma espécie de “resumo” de tudo o que Frank Miller fez antes.

Digo isso, pois a história reúne características de todas as demais, em uma amálgama interessante, mas que vai além do que deveria ir, estendo-se em reviravoltas repetitivas que não levam a lugar nenhum. Mas é claro que, assim como as demais, De Volta ao Inferno é de fácil leitura, com poucos diálogos, todos quase feitos de frases de efeito e o espetáculo fica por conta da irretocável arte de forte contraste entre o preto e o branco que, nesse capítulo, sofre novas experimentações coloridas pelo autor.

O subtítulo “Uma História de Amor” é quase uma brincadeira, pois Miller usa o tal “amor” (à primeira vista, lógico) como uma desculpa para desfilar, página a página, um infindável número de mortes infligidas pelo novo protagonista, Wallace, que, depois de Hartigan, é o segundo personagem do autor a ser alguém com um compasso moral inabalável, sem passados de loucura, drogas e violência exacerbada, como nos casos de Marv e Dwight. A história é simples: dirigindo seu automóvel pelas estradas de Sin City, Wallace vê uma estonteante mulher se jogar de um precipício em direção ao mar. Sem pestanejar, ele mergulha para salvá-la e, claro, acaba se apaixonando por ela. Sua alegria, porém, dura pouco, pois logo descobrimos que ela vem sendo seguida por uma dupla de “recrutadores” que usam uma ambulância como disfarce. Eles sequestram Esther e Wallace, obviamente, parte para investigar o sumiço, o que deflagra a descoberta de um gigantesco submundo criminoso.

sin city 7 wallace

Coitado dos vilões. Não têm a menor chance…

A sorte de Esther é que Wallace, apesar de se parecer com Jesus Cristo – em uma excelente brincadeira de Miller, que também representa um distanciamento dos heróis trogloditas dos volumes anteriores – é um ex-Navy Seal condecorado com a Medalha de Honra ao Mérito. Péssima notícia para os vilões, que são abatidos na proporção de duas dúzias por página, em uma mistura de movimentos graciosos de ninja, com uso de armas extremamente pesadas.

Um dos grandes diferenciais de De Volta ao Inferno é o uso de duas fêmeas fatais, Blue Eyes (Delia) e Mariah, ambas a serviço dos vilões e ambas representadas por cores, a primeira um inocente azul-bebê e, a segunda, um imponente e ameaçador “cobre”. Na verdade, diferente de em O Assassino Amarelo, as cores estão presentes aqui muito mais porque Miller “pode” inserí-las do que por uma necessidade estética particularmente interessante. Talvez sua única função seja diferenciar as duas assassinas, mas a própria narrativa se encarrega disso sem tornar esse artifício realmente necessário.

O outro grande diferencial – e esse sim excelente, bem inserido na história – é uma longa sequência, basicamente um capítulo inteiro, em que vemos Wallace tentando se recuperar da pesada dose de drogas que recebe de Gordo e  Maxine (os dois da ambulância que mencionei acima) enquanto luta pela sua vida com a ajuda de “Capitão”, seu parceiro de guerra. É nesse momento que Frank Miller, emulando a arte do seminal Batman – O Cavaleiro das Trevas, solta completamente os freios e nos apresenta a uma divertida progressão narrativa quase que de conto de fadas, à cores (trabalho de Lynn Varley, sensacional) em que o “Capitão” é visto por Wallace como diversos personagens da cultura pop, dentre eles vários criados pelo próprio Miller, como Martha Washington, Big Guy e o robô Rusty e o Rei Leônidas, de Os 300 de Esparta, além de outros aleatórios como Capitão América, Lobo Solitário, Mulher Maravilha (somente o derrière, em momento muito inspirado!), Dirty Harry, ED-209 (de Robocop), Rambo, Hellboy e até Hagar, o Horrível. São momentos lisérgicos extremamente divertidos que merecem ser conferidos várias vezes pela riqueza de detalhes e, lógico, pelo inusitado que representa.

mosaico sin city 7

Ser morto por (1) Esther; (2) Delia ou (3) Mariah não seria nada de tão terrível, não é mesmo?

Ficou claro para mim, na verdade, que Frank Miller teve essa ideia acima de um capítulo maluco à cores com esses vários personagens e costurou uma história ao redor disso, somente para viabilizar o momento. E, mesmo que, para conseguir esse fim, ele tenha que ter feito malabarismos no roteiro, repetindo situações (como o próprio envenenamento por drogas de Wallace, que acontece duas vezes, sem que a primeira vez seja verdadeiramente útil) e diluindo o impacto de muitas cenas de violência, o fato é que o resultado final ficou para lá de interessante e cativante. Ler De Volta ao Inferno é como ler um resumo do que é Sin City, mas, paradoxalmente, para quem já leu todo o material que veio antes, as aventuras de Wallace são mais do mesmo, sem grandes arroubos de originalidade em termos narrativos (com exceção do momento viajante em questão).

O tamanho de De Volta ao Inferno acaba atrapalhando, com muito vai e volta e uma boa dose de enrolação. Mesmo com esse deslize, porém, a trama prende o leitor e divertirá aqueles que souberem apreciar as referências que Frank Miller distribui em seu momento “colorido”. Um bom encerramento – pelo momento – para as histórias passadas em Sin City.

Sin City: Vol. 7 – De Volta ao Inferno (Uma História de Amor) (Sin City: Vol. 7 – Hell and Back, a Sin City Love Story – EUA)
Roteiro: Frank Miller
Arte: Frank Miller
Cores: Lynn Varley (sequência de alucinação)
Editora: Dark Horse Comics (9 edições publicadas entre julho de 1999 e abril de 2000 e várias vezes depois como graphic novel)
Páginas: 306

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