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Crítica | Sinistro: A Maldição do Lobisomem

Ciência vs. misticismo.

por Felipe Oliveira
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Tem mal que vem para o bem? Não bastando seu primeiro filme como diretor ter sido um fiasco, William Brent Bell conseguiu, com sorte, chamar atenção com o segundo trabalho, e não foi por um bom motivo. Enquanto ele tinha ao seu favor as franquias conhecidas pelo estilo found footage REC, Atividade Paranormal e Fenômenos Paranormais ganhando novos segmentos em 2012, tentava emular em A Filha do Mal um mockumontary com impactos semelhantes a A Bruxa de Blair. Porém, a ideia de ter terminado o filme abruptamente e ter sugerido que mais informações poderiam ser vistas através de um site, rendeu polêmicas o suficiente para ser mal falado por um tempo.

O que só o encorajou a voltar no ano seguinte com outra aposta no mockumentary, porém, deixando de lado o tema de possessão e exorcismo e focando numa nova abordagem do mito do lobisomem. O curioso foi como Brent partiu de estilos semelhantes, porém utilizados de maneiras diferentes: enquanto em The Devil Inside a câmera tremida em primeira pessoa era um forte apelo, em Wer, a produção se parecia a um de filme para TV amador, apesar de que tentou aplicar um caráter documental.

De início foi definido como Brent iria conduzir o longa, colocando o estilo footage em segundo plano e trazendo a filmagem amadora como foco, mas sabendo muito bem como alternar entre as duas abordagens. Um exemplo disso foi a abertura com um típico jumpscare, imagens confusas com relatos de uma família de férias numa área rural da França sendo atacada, e, em seguida, a perspectiva muda para a única sobrevivente num hospital descrevendo o ataque. Nesse ponto é como o roteiro apresenta a síntese por trás do título, ao deixar para o mistério “quem seria a criatura” que destroçou a família.

O que fez de Sinistro: A Maldição do Lobisomem um diferencial para filmes do gênero está em sua abordagem que se propôs a abordar o mito pelo prisma científico. Nesse sentido, é curioso notar que se passa mais da metade do filme para a palavra “lobisomem” ser mencionada pela primeira vez, e isso não é como se o roteiro escrito por Bell e seu parceiro Matthew Peterman quisesse tornar a temática uma sacada mirabolante, e sim isolar o misticismo em torno do licantropo e trazer uma hipótese do homem como um monstro.

Após o massacre contra a família, a advogada de defesa Kate Moore (A.J Cook) ao lado de seus parceiros de pesquisa, usam de todos os esforços para provar que o morador local, Talan (Brian Scott O’Connor)  acusado dos assassinatos seria fisicamente incapaz de ter realizado os ataques, assim, acreditando que possua uma rara doença: porfiria. Mas vejamos como as informações encontradas por Kate conforme conhece mais o passado do seu cliente, são dribladas pelo roteiro a fim de oferecer uma nova interpretação ao mito que recebeu diversas roupagens na literatura e cinema. A todo tempo a história de Talan flerta sobre a lenda familiar do homem que se transforma em lobo graças a influência da lua, mas o texto é eficiente a propor uma perspectiva científica sobre a licantropia.

O maior acerto do filme ficava a cargo de releitura sobre o mito, o que crescia ainda mais quando o texto rompia toda lógica estabelecida e deixava para interpretação se era possível um homem se tornar um monstro. Afinal, o misticismo que a ciência buscava negar se faz inegável quando a transformação e força sobre-humana de Talan não pode ser explicada como uma rara doença, ou seria uma maldição? Dentro disso, a direção de Brent consegue usar a câmera em primeira pessoa em momentos pontuais de violência e brutalidade, servindo como ilustração é quando Talan é cercado num andar de um prédio e os movimentos corridos da câmera aproveitam a ambientação de pouca iluminação com planos claustrofóbicos.

Contudo, enquanto a releitura trazia um frescor, a ideia de mesclar dois estilos fílmicos não se mostrou uma escolha favorável, afinal de contas. As subtramas e conflitos previsíveis terminaram soando cafona com a abordagem documental que não conseguia se justificar. E mostrando que não aprendeu nada com o desfecho de A Filha do Mal, Brent encerrava Wer da maneira mais desesperada possível ao querer posar uma ideia criativa como a cobertura de um caso raro de um lobisomem.

Sinistro: A Maldição do Lobisomem (Wer – EUA, 2013)
Direção: William Brent Bell
Roteiro: William Brent Bell, Matthew Peterman
Elenco: A.J. Cook, Brian Scott O’Connor, Sebastian Roché, Simon Quarterman, Vil Sahay, Camelia Maxim
Duração: 93 min.

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