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Crítica | Skinamarink: Canção de Ninar

Uma experiência de terror sublime para qualquer fã do gênero.

por Fernando Annunziata
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O terror está mais vivo do que nunca. Isso é o que passa na cabeça quando sobem os créditos de Skinamarink: Canção de Ninar, uma obra que ousa ao trazer objetos inanimados como protagonistas. Mantendo-se firme em seu tributo estético do início ao fim, Kyle Ball brinca com o silêncio e a escuridão para incendiar as inquietações da mente humana e convidar o espectador a participar da película, projetando figuras e imagens subjetivas, em suma, projetando os próprios medos. Uma proposta inovadora que aquece o coração de qualquer cinéfilo fã do gênero e reacende a esperança de produções de terror com menos jump scare.

Na história, duas crianças acordam de madrugada e percebem que estão sozinhas. Ao mesmo tempo, todas as portas e janelas da casa desaparecem, diversos objetos se movem sozinhos e uma misteriosa voz começa a ordená-los a fazer coisas macabras. Sem escapatória, elas organizam uma festa do pijama na sala para assistir desenhos animados na TV.

O interessante de Skinamarink é que o baixo orçamento, de apenas 15 mil dólares, é ponto-chave para que a obra funcione. A imagem com excesso de granulação e sombras, por exemplo, típico de uma câmera mais econômica, não nos permite ver com clareza o que está em exibição e, assim, passamos a projetar figuras que podem ou não existir. O áudio mono, ou seja, em apenas um dos lados do fone, parece nos contar uma narrativa fora da tela, influenciando para que o espectador a todo momento olhe para os lados e para trás. 

Essa questão da sonoridade, por sua vez, é essencial para construir um ambiente sufocante. Não exatamente servindo como um jump scare, o áudio mono e em volume alto nos deixa atentos a todo momento, uma vez que o som chega de maneira abrupta e em apenas um dos lados do fone – algumas vezes, inclusive, parecendo vir de trás. A sensação é de que estamos sendo observados durante toda a película, e passamos a sentir o medo dos personagens. No fim, viramos protagonistas de um verdadeiro horror cinematográfico.

O que mais destaca o filme, no entanto, é a estética que a obra adota. Não vemos o rosto de nenhum personagem, e a câmera foca durantes vários minutos em objetos inanimados e em espaços vazios da casa, como o teto, as paredes e os basculantes. No começo causa estranheza e até tédio, mas logo somos levados a navegar na ideia: por um lado, olhar muito tempo para um espaço vazio influencia para criarmos figuras inexistentes, principalmente por causa da, como dita, baixa qualidade da imagem; por outro, a falta de ação nos deixa livres para olharmos a todo momento para fora da tela, objetivo principal da construção sonora da obra.

No mais, a película pode ser comparada com grandes terrores psicológicos, como A Bruxa (2015), Cisne Negro (2010) e Suspiria (1977). Mas, Skinamarink abre alas para outro ponto: mais do que o trivial estranhamento ou nervoso, sentimos o medo na forma mais intensa possível. Assistir a película até o final é um suplício, um momento de retornarmos à infância e sentirmos pavor do escuro e do desconhecido.

Disputando o título de melhor terror de 2022 com Pearl (2022), X – A Marca da Morte (2022), Pânico 5 (2022) e Não! Não olhe! (2022), Skinamarink: Canção de Ninar é uma surpresa para todo fã do gênero e sobe muito a barra do que é, de fato, uma boa obra cinematográfica. O sentimento, enfim, é de gratidão por retomar a esperança de termos experiências sublimes na sala de cinema.

Skinamarink: Canção de Ninar (Skinamarink) – EUA, 2022
Direção: Kyle Ball
Roteiro: Kyle Ball
Elenco: Lucas Paul, Dali Rose Tetreault, Ross Paul, Jaime Hill
Duração: 140 minutos

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