O quarto volume de Slam Dunk continua a transição iniciada no anterior: o mangá segue se distanciando da comédia romântica colegial e adentrando, com mais firmeza, no território do drama esportivo. Ainda há espaço para piadas envolvendo Sakuragi, sua ignorância sobre as regras do jogo, temperamento esquentado (principalmente quando não pode jogar) e sua eterna paixão platônica por Haruko, mas agora estamos em uma quadra, com uniformes, torcida e adversários reais. A frivolidade das primeiras gags dá lugar, aos poucos, à tensão legítima de um time tentando descobrir sua identidade, com a primeira partida da obra acontecendo – finalmente!!!
O ponto central aqui é o amistoso contra o time do Ryonan, levemente iniciado no volume anterior, e que aqui vemos o primeiro tempo e parte do segundo em dez edições. A estrutura narrativa mantém a lógica didática: estamos aprendendo sobre o jogo ao mesmo tempo em que Sakuragi aprende. Isso faz com que o volume funcione quase como uma aula prática sobre os fundamentos do basquete, como na explicação sobre a violação de três segundos no garrafão. O que poderia ser enfadonho se torna envolvente porque Inoue consegue manter viva a centelha de novidade em cada jogada, com blocos que variam entre post-ups (me diverti com a dinâmica dos pivôs um contra o outro), fast-breaks à la Showtime Lakers com passes de costas e até canetas (a inspiração no Magic Johnson é perceptível), e algumas jogadas começando no top of the key.
Para além dos didatismos, Inoue mostra tato com ritmo, tempo e jogo coletivo, variando também entre os personagens, cada um com seus momentos de brilhantismo na quadra, e também de falhas. Sakuragi é mais escanteado no volume, então podemos ver as habilidades de outros personagens, passando pelos talentos como armadores de Rukawa e de Sendoh, da força no garrafão de Akangi e do pivô de Ryonan, e até das habilidades de ala-armadores de ambos os lados arremessando bolas de canto na quadra. Da festa de tocos ou das grande enterradas, o volume é uma série de momentos de energia e de constante movimentação, como é um jogo de basquete na vida real. Talvez falte um olhar cênico e espacial melhor, já que boa parte das cenas são contidas em pontos específicos da quadra, mas é notável como o autor traduz uma partida em páginas.
Aliás, visualmente, Inoue continua refinando seu estilo. A expressividade dos rostos, as perspectivas variadas durante os lances, o uso do contraste entre quadros estáticos e dinâmicos, tudo colabora para criar uma sensação de movimento que dá ritmo a uma leitura gostosa. Ainda que não tenhamos uma partida “oficial” em andamento, o amistoso é conduzido como um espetáculo digno de campeonato. Há um domínio técnico crescente nas cenas de ação: dá para sentir o impacto dos bloqueios, o peso dos saltos, o desespero das expressões. É um mangá que parece suar nas mãos do leitor.
Em termos de ritmo, o volume talvez peque um pouco por esticar demais certos pontos da partida ou então o foco deslocado em quem está assistindo. Há momentos em que sentimos que a ação está travada entre quadros de repetição, principalmente nas reações dos personagens secundários. Mas o saldo final é muito divertido, marcando o primeiro jogo da equipe principal, que aos poucos começa a entender sua identidade de jogo e as forças de seus jogadores. O volume também marca um ponto de virada para Sakuragi, que vive aqui sua primeira partida real, apesar de entrar apenas na última edição do arco. O espírito de rivalidade, o ímpeto da vitória, o orgulho ferido em cada jogada perdida e a vontade de jogar são elementos vivos em uma boa progressão da obra. Veremos agora se Sakuragi conterá seu nervosismo para ajudar na quadra.
Slam Dunk – Vol. 4: Apresentando o Protagonista!! (主役登場!! / Shuyaku Tōjō!!) – Japão, 1991
Contendo: Capítulos #26 a 35
No Brasil: Slam Dunk – Vol. 4 (Panini, agosto de 2005)
Roteiro: Takehiko Inoue
Arte: Takehiko Inoue
Editora: Shueisha
Revista: Weekly Shōnen Jump
248 páginas