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Crítica | Slam Dunk – Vol. 6: Nada a Perder

Mais um invocado na área.

por Kevin Rick
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Depois do quinto volume centrado inteiramente na partida contra Ryonan e na revelação do potencial bruto de Hanamichi Sakuragi, o sexto volume de Slam Dunk começa com o último minuto intenso do jogo, antes de desacelerar para reorganizar as peças no tabuleiro narrativo, preparando o leitor para os próximos embates esportivos enquanto se aprofunda razoavelmente nas dinâmicas entre personagens. É, em muitos aspectos, um volume de transição, um pouco mais vagaroso ao focar em algumas repercussões da partida, estabelecer um novo cenário competitivo e dar espaço para o amadurecimento dos jogadores de Shohoku, especialmente de Sakuragi e do recém-introduzido Ryota Miyagi.

Rebobinando um pouco, o início de Nada a Perder é puro suco dos segundos finais de um jogo de basquete, em que uma posse de bola parece uma eternidade. Inoue conduz o final do jogo com ritmo exemplar, alternando entre quadros largos e planos fechados, sem perder o fio da tensão. Entre roubos de bola, transições, tocos, uma bandeja de Sakuragi que recompensa todo o seu treinamento e um malabarismo final de Sendoh à la Michael Jordan, o mangaká desenha, mais uma vez, um bloco divertidíssimo de ler e que tem uma fluidez visual palpável e fiel ao esporte. A adrenalina dura pouco tempo, já que boa parte dos capítulos focam nos momentos posteriores à partida, mas o sexto volume conclui o jogo com um ótimo clímax.

Como convencionalmente acontece em obras esportivas, temos o sabor agridoce da derrota, dando estopim ao arco de frustração e superação que o grupo deverá passar. É um clímax que, mesmo sem trazer a vitória, representa o nascimento simbólico de uma equipe e, especialmente, o batismo emocional de Hanamichi Sakuragi como jogador de verdade. Marcando o que acredito ser o primeiro grande momento de Sendoh como “antagonista carismático”, seu domínio técnico e sua calma quase zen funcionam como contraponto direto ao caos emocional de Shohoku, num final de jogo com placar apertado que tem o vencedor no detalhe. E na esfera maior da trama, esse fim de jogo é estruturante. A derrota é um ponto de partida. Shohoku ainda é um time desorganizado, movido por talentos individuais e laços frágeis. Mas há potencial e, mais importante, há agora um propósito coletivo. Como um bom clichê de histórias dessa ordem, começamos  ver a curva de crescimento da equipe — e do mangá como obra — se acelerar.

Na segunda parte do volume, temos a apresentação de Ryota Miyagi, um armador baixinho e impulsivo com histórico de brigas escolares, que traz consigo não só velocidade e habilidade para o jogo coletivo, mas também um novo espelho para Hanamichi. Ambos são personagens problemáticos e temperamentais, apaixonados por garotas que os ignoram. O contraste aqui gera momentos engraçados e o início de uma relação marcada por desconfiança e animosidade – inclusive com uma briga logo de cara –, mas o roteiro de Takehiko Inoue, mais uma vez, conduz o conflito com timing cômico e um senso de evolução constante: a rivalidade começa a engatinhar com respeito quando eles fazem um X1, e logo vemos os primeiros lampejos de amizade entre eles.

Narrativamente, essa outra parte do sexto volume se equilibra entre o drama esportivo e o slice of life estudantil. Não é a leitura mais interessante do mundo quando adentra nesse segundo estilo, com mais situações banais de Sakuragi com Hakuro, pequenas brigas de delinquentes convencionais e uma exploração rasa de interações cotidianas que desenvolvem gradualmente os protagonistas. Gostaria que o texto fosse um pouco menos bobo, mas dá para ver mesmo em um volume mais comedido e com poucas cenas de jogo, uma ênfase maior no dia a dia dos personagens e nos bastidores do time. O desfecho de Nada a Perder é meio abrupto com o jogo entre Sakuragi e Miyagi, mas deixa claro o tom de disrupção que o armador traz e a gênese de uma etapa de amadurecimento antes do próximo jogo.

Slam Dunk – Vol. 6: Nada a Perder (Nothing to Lose) – Japão, 1991
Contendo: Capítulos #45 a 53
No Brasil: Slam Dunk – Vol. 6 (Panini, dezembro de 2005)
Roteiro: Takehiko Inoue
Arte: Takehiko Inoue
Editora: Shueisha
Revista: Weekly Shōnen Jump
248 páginas

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