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Crítica | Slender Man: Pesadelo Sem Rosto

por Ritter Fan
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Deveria haver um monumento qualquer em homenagem a elencos desperdiçados em filmes tenebrosos. Sei lá, algo que os ajudasse a lidar com a constatação de que participaram de porcarias homéricas e os impedisse de desistir de atuar para sempre e enfurnar-se em alguma caverna bem profunda em um misto de vergonha e culpa. George Clooney, que viveu algo que lembra assim de longe um tal de Batman em Batman & Robin, certamente apreciaria algo nessa linha, da mesma forma que Tom Hanks, Bruce Willis e Melanie Griffith em A Fogueira das Vaidades e, claro, todo mundo em Para Maiores, dentre tantas outras manchas da Sétima Arte (e nem vou começar a falar do Nicolas Cage, pois esse parece deliciar-se em procurar diligentemente lixos nucleares para atuar).

Slender Man: Pesadelo Sem Rosto é apenas o mais recente exemplar dessa categoria de filmes que tem como seu único ponto alto (e nem tão alto assim, se eu quiser ser sincero) seu elenco, que parece completamente perdido e absolutamente sub-aproveitado em uma coleção de clichês rasos e mal costurados de praticamente todo filme de terror vagabundo por aí. E olha que eu sou o maior defensor do uso de clichês quando eles estão inseridos em um roteiro que sabe usá-los com o mínimo de sentido, o que certamente não é o caso do trabalho de David Birke (que, inacreditavelmente, escreveu o roteiro do sensacional Elle), com base em personagem/meme/creepypasta criado por Eric Knudsen (também conhecido como Victor Surge) no já longínquo ano de 2009 e que gerou um horrível incidente quase fatal entre crianças em 2014.

O tal “homem esguio” do título é, como não poderia deixar de ser, mais um bicho-papão do Cinema de Terror de Quintal (sim, é uma categoria) que bebe erroneamente das mais clássicas e variadas fontes. É a amálgama de tudo o que conhecemos em um sujeito que até pode parecer estranho e, arrisco dizer, interessante, em um primeiro momento, mas que, não demora (e, por não demorar, quero dizer uma questão de segundos), torna-se algo puramente genérico cuja existência o espectador esquecerá assim que os créditos (finalmente e misericordiosamente!) começarem a rolar. A estrutura cansada de monstro invocado por jovens em cidadezinha americana que tentam provar que o bicho não existe é preguiçosa e completamente anti-climática, já que, diferente de, por exemplo, O Mistério de Candyman, o pouco de ritual que existia é trocado por algo banal como uma busca no Google ou algo do gênero, em uma tentativa fracassada de “modernizar conceitos” e mostrar-se antenado com a cultura do smartphone a toda hora.

O que segue a partir dessa “invocação do mal” (não resisti…) é uma sucessão constante de sustos fáceis que o roteiro de Birke atira na parede para ver se cola e que a direção de Sylvain White não faz muito esforço para criar algo visualmente interessante ou, no mínimo, diferente. É como se os dois estivessem conspirando para ver até que ponto eles poderiam montar um filme a partir do nada, ou seja, a partir de um “personagem” (as aspas são necessárias, pois de personagem esse bicho-papão não tem nada) pouco inspirado jogado em fórum de internet e que, por alguma razão difícil de compreender exatamente, assustou um bom número de pessoas a ponto de justificar um longa-metragem de cinema – ou seja, que tem a pachorra de ocupar salas destinadas a filmes de verdade – quase 10 anos depois de ser (des)imaginado. Sim, há sequências que até retiram o espectador do torpor e indiferença, mas elas são as famosas exceções que confirmam a implacável regra.

Sei que, até aqui, não cheguei nem de longe a justificar a generosa quantidade de estrelas de minha avaliação, mas a verdade é que dei a pista logo no começo. Por incrível que pareça, o elenco, composto praticamente de indigentes cinematográficos, funciona melhor do que o filme tinha o direito de merecer. Capitaneando o time, há Joey King (A Barraca do Beijo) que parece ser uma daquelas atrizes que não se importa com a qualidade do que está no papel e encara de frente suas personagens como se não houvesse amanhã. Ela pode não mostrar brilhantismo algum aqui – e, convenhamos, é impossível alguém despontar nesse roteiro modorrento -, mas seu potencial e seriedade estão lá, intactos apesar de praticamente tudo ao seu redor funcionar como a proverbial correnteza contra a qual ela e seus colegas de profissão precisam nadar.

Mesmo com seu conceito carregando exatamente zero de originalidade, o personagem estranho ma non troppo de Slender Man poderia ter resultado em um longa que trouxesse algum tipo de prazer que não fosse exclusivo de masoquistas se o roteirista e o diretor não estivessem atrás apenas de um chegue para pagar as contas. A única sorte é que o elenco parece minimamente preocupado em construir carreiras. Fica difícil dizer, porém, se o bicho-papão comprido que não mete medo em ninguém terá conseguido fazer com que essas pretensões de futuro desapareçam como outras vítimas de sua existência, caso em que minha proposta de Monumento Para os Elencos Desperdiçados tornar-se-á ainda mais relevante.

Slender Man: Pesadelo Sem Rosto (Slender Man, EUA – 2018)
Direção: Sylvain White
Roteiro: David Birke (baseado em personagem criado por Eric Knudsen/Victor Surge
Elenco: Joey King, Julia Goldani Telles, Jaz Sinclair, Annalise Basso, Alex Fitzalan, Taylor Richardson, Javier Botet, Jessica Blank, Michael Reilly Burke,  Kevin Chapman, Miguel Nascimento
Duração: 93 min.

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