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Crítica | Sob a Pele

por Guilherme Coral
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estrelas 3,5

O novo filme de Jonathan Glazer é mais um clássico exemplo de obras que o espectador deve assistir sem saber absolutamente nada sobre ele. Não leia sinopses, não assista trailers – Sob a Pele é uma experiência sensorial e precisa ser aproveitada no escuro, que é tão constante dentro da obra. Esta crítica, portanto, irá se esforçar ao máximo para não revelar absolutamente nada que possa estragar o longa-metragem.

Claro, escuro, barulho, silêncio. Visão e audição são trabalhados intensamente durante a projeção que foca única e exclusivamente em Scarlett Johansson, uma personagem sem nome. O que vemos, ou mais precisamente, sentimos, são constantes imagens que mesclam o realismo ao surrealismo, nos entregando uma perturbadora retratação da sociedade moderna e o quão estrangeiros somos aos nossos próprios hábitos e ao que chamamos de cultura. Através de seus enquadramentos e montagem dinâmica, que rapidamente nos transporta de uma completa multidão até uma desolada estrada, Sob a Pele traz à tona emoções específicas de cada espectador. Como encaramos a solidão? O que o vazio nos faz sentir? E seus completos opostos?

Sua quase que ausência de diálogos incita nossos ouvidos a captar e guardar sua trilha sonora composta por Mica Levi (ou Micachu). Melodias intimistas de tons repetidos geram um desconforto no espectador, criando uma tensão similar a um perturbador filme de terror. A presença da música, aos poucos, cria uma situação esperada dentro da trama, que, pelo inexplicado, cria um inerente medo em quem assiste. A narrativa da obra trabalha em cima de tal desconhecimento do plano geral, criando eventos entrecortados que, somente próximo ao fim, começam a se encaixar.

Ainda assim, este não é um filme completamente devoto de história. Minutos, ou até horas, após o término da projeção, a trama passa a ser bastante clara ao espectador. Claro que diversos elementos ainda são deixados no escuro, mas a linha principal está lá. Se levarmos em conta somente a progressão do roteiro, a obra acaba apresentando certos deslizes, como a rápida mudança da personagem (por mais que o filme em si adote um ritmo mais lento). Tais problemas, contudo, são facilmente deixados de lado, ao ponto que este não é um longa focado em acontecimentos e sim sentimentos. A rápida transformação em questão, quando estamos absortos pela imagem, se torna natural, orgânica e pouco, ou nada, atrapalha.

Sob a Pele é um longa sobre o puro sentir. É uma obra desconfortante que nos leva a infinitas indagações e contemplações. Um filme conduzido inteiramente pelos contrastes, dos mais simples aos mais complexos do ser humano e da sociedade como um todo. Precisa ser visto no completo desconhecimento e, sobretudo, na sala de cinema, aonde facilmente nos perderemos em sua profunda e perturbadora escuridão.

Sob a Pele (Under The Skin – EUA, 2014)
Direção: Jonathan Glazer
Roteiro: Walter Campbell e Jonathan Glazer (baseado no livro de Michel Faber)
Elenco: Scarlett Johansson, Jeremy McWilliams, Lynsey Taylor Mackay, Dougie McConnell, Kevin McAlinden, D. Meade, Andrew Gorman, Joe Szula, Krystof Hádek
Duração: 108 min.

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