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Crítica | Sobrenatural

por Rafael W. Oliveira
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Dentre todos os gêneros presentes na Sétima Arte, o terror (para muitos, ainda um subgênero) parece ser um dos mais necessitados em adaptar-se ao desejo do público de hoje, e se antes a chave para o sucesso de um filme do gênero estava na sugestão da imagem e no trabalho psicológico, hoje são os banhos de sangue e violência extrema (o chamado torture porn) que parecem chamar a atenção do público sedento por diversões neste estilo.

Mas como muitas vezes já foi provado, a mera sugestão do que pode estar atrás das paredes ainda funciona como uma poderosa forma de imersão entre o espectador e o clima que pode permear as obras de terror. Não surpreendentemente, o responsável pelo assustador Atividade Paranormal surge no filme em questão, Sobrenatural, como um dos produtores, e quem assistiu aquele filme sabe do gosto de Peli em apostar naquilo que os olhos não podem ver. E em contraponto, temos o diretor James Wan e o roteirista Leigh Whanell, vindos do sangrento Jogos Mortais, se entregando a um trabalho que adota a subjetividade como arma para uma construção digna de um bom filme do gênero.

Trazendo novamente a conhecida da trama de uma família que habita uma casa mal-assombrada (e devido a isto, comentários sobre a sinopse tornam-se dispensáveis), o grande trunfo de Wan e Whanell em Sobrenatural está no inteligente uso dos clichês como mera desculpa para elaborar sequências assustadoras e de gelar a espinha. E não é apenas na subversão dos clichês que o filme encontra seu grande acerto, mas também na forma como o roteiro trabalha seus personagens, transformando-os em figuras comuns no meio de uma situação fantástica, facilmente capazes de gerar alguma identificação com o público, o que obviamente contribui para a sensação de medo e claustrofobia.

Méritos também da ótima ambientação criada pela direção de arte de Jennifer Spence, que constrói cenários amplos e desoladores, e a fotografia da dupla David Brewer e John Leonetti, que mergulham a casa numa paleta de cores cinzenta e gélida, o que desde o primeiro momento funciona como um artifício inteligente para que o espectador saiba que algo de errado se encontra naquela casa. Deve-se destacar também a trilha sonora de Joseph Bishara, que consegue se fazer sutil e presente nos momentos corretos.

E se Wan surpreendeu em Jogos Mortais pela maneira criativa que sua câmera conseguia ser trabalhada dentro de espaços limitados, o diretor aperfeiçoa sua técnica ao passear por longos corredores e cômodos espaçosos e, ainda assim, mantendo uma sensação crescente de sufoco e nervosismo. Sequências arrepiantes são criadas a partir, como a criança que corre pela casa diante dos olhos de da mãe Renai (Rose Byrne), a descrição de um demônio no teto, ou quando um rosto diabólico é visto nos ombros de Josh (Patrick Wilson, puro carisma).

O grande problema reside no ato final da fita, quando Josh (e automaticamente, o espectador) é transportado para a dimensão do Além e o filme extrapola o nível de explicações (o que acaba lhe trazendo certo didatismo e redundância) e aparições bizarras, onde o surgimento de fantasmas caricatos aproximam a obra de uma obra oitentista de mau gosto, onde as risadas involuntárias acabam brotando de forma inevitável.

Mas apesar do clímax fantasioso e que destoa do realismo empregado até então, Sobrenatural se firma como um dos melhores exemplares recentes do gênero, com direito a todos os clichês de sempre, mas sem deixar de ser uma experiência deliciosa, com um clima aterrorizante e sustos funcionais.

Sobrenatural (Insidious, EUA, 2010)
Direção: James Wan
Roteiro: Leigh Whannell
Elenco: Patrick Wilson, Rose Byrne, Barbara Hershey, Leigh Whannell
Duração: 102 min.

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