Home FilmesCríticas Crítica | Sociedade da Justiça: 2ª Guerra Mundial

Crítica | Sociedade da Justiça: 2ª Guerra Mundial

por Luiz Santiago
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Eu não sou nada simpático a enredos que desde o título destacam um determinado personagem ou equipe, mas acabam, em sua verdadeira base de sustentação, colocando um grande peso ou até uma mola narrativa em OUTRO personagem ou equipe, exatamente como acontece aqui em Sociedade da Justiça: 2ª Guerra Mundial. Num primeiro momento, alguém pode até argumentar que estamos diante de uma “Nova Era” do Universo Animado DC, com seus roteiros cheios de pegadinhas narrativas, Elseworlds e várias outras brincadeiras com diferentes Universos.

É verdade que as produções de 2020 para cá (maio de 2021) tiveram muitas similaridades dentro dessas áreas, e vemos isso claramente nos filmes que a empresa lançou nesse período, a saber, o medíocre Superman: Entre a Foice e o Martelo; o sensacional Liga da Justiça Sombria: Apokolips War; o okayzinho Superman: Homem do Amanhã e o ótimo Batman: Alma do Dragão, que abriu a temporada de 2021. Na esteira dessa unidade geral e também numa jogada simples de marketing, é compreensível que certas facilidades sejam assumidas pelos produtores. Mas daí até colocar Barry Allen como a principal mola narrativa em uma animação que leva o nome da Sociedade da Justiça é um pouco demais, não?

Estamos jogando com o conceito de diferentes Terras novamente, e tirando o fato de a DC ainda ter um bizarro medo de assumir qualquer coisa grande e verdadeiramente solo relacionada à Sociedade da Justiça (os motivos podemos discutir à parte, mas este é um fato inegável), temos uma história que garante um bom entretenimento e, dentro do contexto que nos propõe, consegue funcionar de modo simples e objetivo em muitas de suas partes. Nada extraordinário, nada que mereça efusivos aplausos, mas aquele feijão com arroz bem servido dentro de uma proposta diferentona que tantas opiniões dividem ultimamente, quando falamos dos novos desenhos da DC.

No início da história, vemos Barry fazendo um piquenique com Iris e o roteiro insere algo que recebe um bojudo pagamento ao final da animação, sendo a grande lição que se destaca no enredo: “nunca deixe nada para amanhã, viva o hoje“. Apesar do clichê da frase, a gente sabe, lá no fundo, que ela é quase violentamente verdadeira e tem também um toque de beleza que, se utilizado em contextos emocionais, como os desse filme, pode tocar os espectadores. Após um encontro inesperado com o Superman, o segundo Flash acaba correndo até uma outra Terra, chegando lá no passado, durante a 2ª Guerra Mundial. O estranhamento dessa chegada compromete a primeira parte da estadia, e o roteiro parece nem se dar conta disso, insistindo em diálogos evasivos em vez de dar logo um contexto para o público e erguer a história a partir daí.

Esse certo esvaziamento da trama acaba nos fazendo quase nem aproveitar muito a dublagem. A Mulher-Maravilha de Stana Katic parece meio travada, e a gente nota que falta algo ali, faltam mais falas de peso, melhor exposição da personagem. O Flash de Matt Bomer é simpático e parece ser um dos únicos personagens a quase equilibrar, nesse sentido específico, a sua presença no filme. Gostei do Gavião Negro de Omid Abtahi, uma pena que o personagem é realmente coadjuvante e tem espaço limitado. Já Darren Criss, que dubla o Superman, não faz jus ao personagem e, para mim, é o grande erro de escalação no filme. As outras participações de destaque como Liam McIntyre (o mais uma vez embobizado, ridicularizado e explorado de maneira vergonhosa Aquaman) e Elysia Rotaru como Canário Negro fazem trabalhos dentro da média, também sem muita coisa a se destacar de suas performances justamente porque o roteiro não exige nada demais desses atores.

SPOILERS!

A história engata em um piloto automático porque a gente já sabe o que esperar de enredos de guerra, ainda mais num contexto de diferentes realidades. A meu ver, as duas pontas extremas são um tanto sem graça porque utilizam de personagens de outra Terra e de outro tempo para darem suporte a algo que deveria ser exclusivo da equipe que nomeia a animação — o que seria a coisa lógica a se esperar. Isso não tira o mérito de alguns momentos de luta que são ótimos, além de trazerem pontos cômicos a tiracolo e muitos momentos emocionais no último ato, como a morte do Gavião Negro e de Steve Trevor (Chris Diamantopoulos, outra dublagem de que gostei bastante). A própria direção do filme e o seu desenho de produção nos empurram para esse lado emocional, primeiro pelo reforço da luta pela justiça e do toque de esperança que corta todo o longa; depois pelo tom cinza e dessaturado que temos em toda a jornada na outra Terra, um cenário de plena destruição e luta sobrevivência.

Como é sempre um enorme prazer ver nazista explodindo e tomando soco na cara, não vamos negar que Sociedade da Justiça: 2ª Guerra Mundial tenha lá todo o seu curioso charme e momentos que nos deixam intrigados, ansiosos ou até mesmo feitos de trouxa (tipo… pra quê colocar o Senhor Destino aqui mesmo?), o que nos deixa em uma posição de contemplativa satisfação com o produto final. Até o arco bobo e injusto (com o personagem) do Aquaman tem sua graça e aquele caranguejo das profundezas perseguindo o Jay Garrick me fez rir imensamente! O que verdadeiramente falta aqui, na essência, no tutano, no verdadeiro contexto e conceito do filme, é aquilo que ele deveria ter não apenas no título ou numa superficial apresentação: a Sociedade da Justiça. Quem sabe na próxima?

Sociedade da Justiça: 2ª Guerra Mundial (Justice Society: World War II) — EUA, 2021
Direção: Jeff Wamester
Roteiro: Jeremy Adams, Meghan Fitzmartin
Elenco: Stana Katic, Matt Bomer, Omid Abtahi, Geoffrey Arend, Darren Criss, Darin De Paul, Chris Diamantopoulos, Keith Ferguson, Ashleigh LaThrop, Matthew Mercer, Liam McIntyre, Elysia Rotaru, Armen Taylor
Duração: 84 min.

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