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Crítica | Soldado Universal 3: Regeneração

Ou seria degeneração?

por Ritter Fan
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Gosto provavelmente menos de Soldado Universal do que a maioria dos fãs da carreira de Jean-Claude Van Damme, mas reconheço os méritos do filme, especialmente sua premissa interessante e a rivalidade de seu personagem, Luc Devereaux, com o Andrew Scott, de Dolph Lundgren, mas o que fizeram com a franquia depois do longa original de 1992 foi um atentado cinematográfico. Afinal, em 1998, dois telefilmes que continuavam o filme, só que com outros atores, foram lançados, na esperança de que eles fossem o início de uma série de TV que, porém, nunca viu a luz do dia. No ano seguinte, Van Damme fez a primeira continuação de sua carreira, Soldado Invernal: O Retorno, que ignorou as sequências televisivas, com um resultado decepcionante, para usar um eufemismo.

Eis que então, 10 anos depois, o ator e lutador belga retorna à franquia para a segunda continuação de sua filmografia, com Soldado Universal 3: Regeneração que, na verdade, não é “3” coisa alguma (o algarismo não existe no título original), já que, tecnicamente, a obra é rotulada de “continuação alternativa” do filme de 1992, pois ele ignora tudo o que veio antes, inclusive a continuação de 1999. É uma verdadeira mixórdia em termos cronológicos, mas que, surpreendentemente, não atrapalha a apreciação da obra, já que o roteiro de Victor Ostrovsky, apesar de pouco hábil em criar uma história engajante e com boa lógica interna, é quase que completamente autossuficiente, o quase ficando por conta do retorno de Lundgren como Scott cuja psicopatia e rivalidade com Devereaux exige algum conhecimento prévio, caso contrário parece algo tirado da cartola.

Mas Lundgren tem apenas uma pequeníssima participação especial no filme, com grande parte da obra sendo dedicada ao último modelo de Soldado Universal, vivido pelo lutar de MMA Andrei Arlovski, que é a principal arma de terroristas chechenos liderados pelo Comandante Topov (Zahari Baharov) que sequestram os filhos do primeiro-ministro ucraniano e, não satisfeitos, tomam posse da usina de Chernobyl, ameaçando explodi-la (novamente), criando uma uma nuvem radioativa mortal. Sim, vocês leram corretamente: apesar de ter um papel quase que completamente silencioso, Arlovski vive o antagonista e recebe grande destaque da narrativa, já que Devereaux, que vive na Suíça em processo de re-humanização, demora tremendamente a entrar na pancadaria (algo que é inclusive prenunciado pelos créditos que Van Damme recebe, não aparecendo em primeiro, e sim no final, com o famoso “com”).

Regeneração, portanto, é um filme de infraestrutura muito estranha, que começa focando nos vilões, depois parte para uma força tarefa conjunta entre americanos e ucranianos que apanha como boi ladrão do Super-Soldado Universal, em inexplicáveis sucessivos ataques às forças terroristas mesmo considerando os reféns que eles têm e somente depois, quase que do nada, chega Devereaux para fazer a faxina e encher todo mundo de bala, pontapés e socos. O roteiro falha muito em criar uma unicidade narrativa, já que o longa parece uma sucessão de capítulos fragilmente interligados, e também em desenvolver seus personagens, explicando melhor a presença deles ali. Perde-se tempo demais com o Soldado Universal de última geração e o Dr. Robert Colin (Kerry Shale), o “cientista maluco” que o criou e o contrabandeou para fora do programa original, e tempo de menos para inserir Devereaux organicamente na narrativa. E isso porque, como disse, a entrada de Scott é ainda mais abrupta e sem outro sentido que não seja a breve pancadaria dele com o personagem clássico de Van Damme.

Como a produção foi originalmente imaginada para ser lançada diretamente em vídeo, destino da maioria dos filmes do belga a essa altura do campeonato, ainda que ele tenha ganhado lançamento cinematográfico em alguns países asiáticos, aquela aparência de filme B persiste e consegue ser menos eficiente ainda do que no filme original, que pelo menos tinha alguma preocupação estética para nos lembrar que os Soldados Universais são basicamente “zumbis” controlados à distância. Em outras palavras, a mais importante característica deles fica reduzida, visualmente, a algumas cenas em que os vemos em criogenia, mais nada, elevando aquela impressão de que o que estamos vendo é a versão genérica de algo que já não era lá muito especial.

Apesar de John Hyams – filho de Peter Hyams, que dirigira Van Damme em dois de seus melhores filmes, e que, aqui, é o diretor de fotografia – até conseguir trabalhar boas sequências de luta corporal, aproveitando-se da elasticidade de Arlovski para compensar a idade já pesando para Van Damme, no que ele é atrapalhado por um péssimo figurino, ele não consegue unir muito bem os diversos “capítulos” do longa, o que contribui para a impressão de um passo arrastado e cansativo. Além disso, infelizmente, em nenhum momento sentimos qualquer tipo de tensão na ameaça terrorista ou até mesmo o poder do novo Soldado Universal, com a câmera basicamente fazendo o básico, sem imprimir cadência e sem usar a premissa original a seu favor.

Soldado Universal 3: Regeneração foi mais uma tentativa tardia – e não a última, por incrível que pareça! – de se reviver a franquia, mas, assim como a outra continuação que ele próprio ignora, falha em ser a fagulha para tornar os zumbis robóticos em algo mais do que arremedos derivativos de uma boa ideia. E o que mais frustra é perceber que não seria muito difícil pelo menos repetir a estrutura da obra original, que já não era maravilhosa, mas pelo menos era melhor do que a usada aqui, como Hollywood não cansa de fazer por aí.

Soldado Universal 3: Regeneração (Universal Soldier: Regeneration – EUA, 2009)
Direção: John Hyams
Roteiro: Victor Ostrovsky (baseado em personagens criados por Richard Rothstein, Christopher Leitch e Dean Devlin)
Elenco: Jean-Claude Van Damme, Dolph Lundgren, Andrei Arlovski, Mike Pyle, Corey Johnson, Garry Cooper, Emily Joyce, Zahari Baharov, Aki Avni, Kerry Shale, Yonko Dimitrov, Violeta Markovska, Stanislav Pishtalov, Marianna Stanisheva, John Laskowski, Kristopher Van Varenberg, Jon Foo
Duração: 97 min.

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