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Crítica | Sombra no Escuro

Mistérios e mortes em sequência demarcam este slasher mediano.

por Leonardo Campos
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O que faz uma família? Diversas áreas do conhecimento produzem pesquisas cotidianamente sobre os assuntos que tangenciam esta pergunta que é uma parte importante da compreensão do slasher enquanto subgênero profícuo do cinema. De alguma maneira, é uma pergunta norteadora para a maioria dos filmes deste segmento, narrativas que possuem uma família disfuncional como mote para a matança ou algum desequilíbrio neste ambiente para a transformação de uma criança num assassino perspicaz em sua fase adulta, nalgumas vezes, na própria infância, como é o caso do slasher Aniversário Sangrento, da década de 1980. Psicose, dirigido por Alfred Hitchcock, cineasta que teve como base, o romance homônimo de Robert Bloch, foi um dos grandes catalisadores desta questão, afinal, o avô dos slashers apresentou ao mundo Norman e Norma Bates, integrantes de uma família nada idealizada. Sombra no Escuro, de 1979, é uma destas narrativas inspiradas no legado e no impacto cultural do filme com a famosa cena do chuveiro e a revelação chocante de segredos do passado de um núcleo familiar nada tradicional.

Dirigido por Denny Harris e escrito por três roteiristas, parte de uma equipe formada por Wallace C. Bennet, Ken Wheat e Jim Wheat, este slasher de 87 minutos que parecem mais longos, mas na verdade, é a impressão decorrente de seu ritmo irregular, nos mostra a trajetória de uma jovem que se muda para casa antiga com aparência assustadora, um cenário tipicamente gótico, erguido aqui pelo design de produção e contemplado pela assertiva direção de fotografia, setores que contemplam bem esta habitação situada no topo de uma colina. É a chegada do outono e Scotty (Rebecca Balding) não consegue encontrar um lugar para ficar no campus universitário, tendo então que se instalar nesta casa que guarda segredos obscuros. A dona do local é a Sra. Engels (Yvonne De Carlo), matriarca que vive com Mason (Brad Ruarden), um rapaz de comportamento incomum, aparentemente acometido por alguma questão psiquiátrica.

Logo de chegada, a protagonista sente que há algo de muito estranho na casa. Eles parecem observados o tempo inteiro e quando os pensionistas começam a morrer violentamente, numa sequência atordoante, a certeza de que há um assassino misterioso dentro do próprio espaço é investigada por dois detetives, interessados em explicações para os crimes sangrentos. Com sua boa atmosfera, mas tomado por uma edição que não privilegia um ritmo mais dinâmico, Sombra no Escuro se arrasta mais do que deve e demonstra que a direção não privilegiou o desenvolvimento em prol dos tantos desdobramentos que se acumulam até o desfecho, haja vista a quantidade de reviravoltas que demonstram a tentativa dos realizadores em investir numa trama impactante e menos comum, mas que acabou prejudicada pelo marasmo. Não fosse isso, este slasher seria uma das produções mais empolgantes e intensas de sua época. Falta mais firmeza no estabelecimento das surpresas, haja vista a importância de fugir da aleatoriedade.

Não basta impactar com pontos de virada, mas saber lidar com curvas tão sinuosas. Esta, no entanto, não é uma habilidade da direção, tampouco do texto de Sombra no Escuro, mas ainda assim, é uma experiência cinematográfica que merece uma chance do espectador interessado nas diversas facetas da linguagem da chamada sétima arte e, também, das características do slasher, um padrão que geralmente recebe novos vernizes a cada filme que adentra em sua seara discursiva. Numa interessante crítica ao núcleo familiar desequilibrado, o filme tem o transtorno psiquiátrico de uma personagem, Victoria (Barbara Steele), como catalisador das mortes em sequência nesta estranha e macabra habitação para estudantes. Ela vive escondida na residência, uma jovem muda que se tornou homicida depois do tratamento de um psiquiatra que devastou ainda mais a sua mente e transformou a sua vida num caos. Há mais segredos até o desfecho e o espectador precisa estar atento para acompanhar e compreender tudo, sendo possível não “comprar a ideia” em sua totalidade, mas deixa-la como “aceitável”.

Sombra no Escuro (Silent Scream, EUA – 1979)
Direção: Denny Harris
Roteiro: Ken Wheat, Jim Wheat
Elenco: Vicky Dawson, Christopher Goutman, Lawrence Tierneym, Rebecca Balding, Cameron Mitchell, Barbara Steele
Duração: 87 min

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