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Crítica | Spectral (2016)

por Ritter Fan
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estrelas 2,5

Spectral, produzido pela Legendary Pictures e pela Universal Pictures, era para ter sido distribuído pela segunda produtora em agosto de 2016. No entanto, a Universal decidiu cancelar o lançamento e negociou com o Netflix, sempre sedento de filmes exclusivos, a distribuição por streaming, o que provavelmente foi uma decisão sábia.

O filme, dirigido pelo diretor de comerciais de TV Nic Mathieu em sua estreia em longas é uma fusão de clichês cinematográficos que poderia ser descrita como o resultado de uma experiência com ingredientes como Falcão Negro em Perigo, AliensOs Caça-Fantasmas, Final FantasyMacGyver (sim, a série de TV clássica que recebeu reboot recente). E, por vários bons momentos, quando o foco permanece nas quatro primeiras obras citadas, a produção surpreendentemente se sustenta, somente para cair no pastiche quando mergulha nos “macgyverismos” do protagonista, o cientista e desenvolvedor de tecnologia bélica Clyne (James Badge Dale).

Ele é chamado pelo exército americano para o fronte de uma guerra civil na Moldávia, pois os óculos de combate que desenvolvera começaram a captar fenômenos estranhos que passaram a se intensificar, até ceifar a vida de um soldado das forças especiais, sequência que serve de prólogo para o filme. Lá, ele se junta a Fran Madison (Emily Mortimer), uma agente durona e paranoica da CIA e um batalhão da Força Delta sob as ordens do General Orland (Bruce Greenwood) para obter imagens melhores do fenômeno em pleno território inimigo, somente para se verem cercados dos inexplicáveis espectros do título que matam com apenas um toque e são invulneráveis a armas comuns. Segue, então, um thriller de sobrevivência muito interessante. Pelo menos até certo ponto…

Filmado em locação na Hungria e fazendo uso de muitos efeitos práticos, a produção surpreende pelo realismo de cenários e especialmente dos combates. A câmera de Nic Mathieu, com o trabalho de fotografia de Bojan Bazelli (das refilmagens de O Chamado e Sr. & Sra. Smith), coloca o espectador em meio a combates verossímeis e bem coreografados, evitando confusão com uma montagem muito cortada e mantendo planos mais longos e mais distantes, algo cada vez mais raro em filmes de ação. Isso e o mistério sobre as criaturas etéreas, que permanece até pouco depois da metade da fita, sustentam a narrativa com desenvoltura ao ponto de o espectador até aceitar a facilidade como Clyne “reverte a polaridade” (sim, ele diz essa frase clássica da ficção científica!) de sua filmadora de espectros, transformando-a em um “holofote de espectros”. Ideia boa e bem executada.

Mas é a partir do fim da longa sequência estilo Falcão Negro em Perigo/Aliens/Os Caça-Fantasmas que o roteiro de George Nolfi (que co-escreveu O Ultimato Bourne) começa a derrapar demais. Não só ele simplesmente muda a personalidade de Fran Madison de uma agente durona para uma tradutora e, pior ainda, babá de crianças, como começa a exagerar na suspensão da descrença que ele exige do espectador. Sim, trata-se de um misto de filme de guerra e sci-fi e há um bom “espaço de manobra” para a criatividade correr solta. Mas existe algo chamado lógica interna que precisa ser mantida para que mesmo o espectador mais desatento não seja arrancado da narrativa por incoerências ou impossibilidades dentro da linha criada.

Falo do tal “macgyverismo” de Clyne que começa com a “reversão da polaridade” e escala para situações completamente absurdas e culminam com a fabricação, com restos de armas militares (e um pistola de cola quente!), em um bunker improvisado e em apenas algumas horas, de uma variedade imensa de “armas de raios” e proteções especiais para todo um batalhão de soldados. Uma coisa é o MacGyver criar uma asa delta com galhos, lona e gomas de mascar, pois esperamos isso dele, outra coisa bem diferente é Clyne criar uma linha de montagem de armas de última geração no meio de uma pancadaria infernal, quase apocalíptica, com resultados mais do que eficientes, com armas que – surpresa, surpresa! – não se parecem em nada com algo acochambrado pouco antes. Esse é o momento em que o espectador percebe que não está assistindo um thriller sobrenatural de guerra, mas sim uma comédia ou um pastiche de tudo o que veio antes.

E esse tom exagerado continua na ação final que é corrida e carregada de coincidências, decisões de último segundo (sempre certas, claro…) e olhares lacrimosos de um lado a outro. Se Nolfi tivesse se segurado, talvez o resultado fosse bem diferente e Spectral até tivesse sido brindado com a distribuição cinematográfica.

Afinal de contas, no lado dos efeitos especiais, a obra é muito bem acabada, acima da média para uma produção que acabou indo direto para streaming. Não só o trabalho com efeitos práticos é perfeitamente crível, trazendo uma atmosfera realista ao que vemos, como os efeitos em computação gráfica não deixam a dever a grande produções. Claro que estamos falando basicamente de “efeitos de fantasmas”, nada extremamente sofisticado, mas convenhamos que, justamente por isso, tudo poderia ser uma grande porcaria. Mas não é. Há um esmero grande no trabalho dos movimentos das criaturas com seu uso orgânico dentro da estrutura narrativa, além de ótima interação com objetos reais (a sequência de destruição de um tanque de guerra é particularmente notável). No entanto, nada segura de verdade um roteiro que se perde nele mesmo.

Spectral, mesmo com seus diversos problemas, está longe de ser uma assombração. É uma “Sessão da Tarde” digna ou, se preferirem, um “filme de pancadaria dos anos 80” bastante razoável. E só.

Spectral (EUA – 09 de dezembro de 2016)
Direção: Nic Mathieu
Roteiro: George Nolfi (baseado em história de Nic Mathieu e Ian Fried)
Elenco: James Badge Dale, Max Martini, Emily Mortimer, Bruce Greenwood, Cory Hardrict, Clayne Crawford, Gonzalo Menendez, Ursula Parker, Aaron Serban
Duração: 107 min.

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