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Crítica | Spies of Warsaw

por Guilherme Coral
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estrelas 4

Quase setenta anos se passaram desde o fim da Segunda Guerra Mundial e estamos longe de esgotar as diferentes ramificações que este evento histórico pode nos proporcionar. Em minha crítica de Wolfenstein: The New Order já falei sobre essa fonte, quase que eterna de material para o entretenimento, seja através de filmes, séries ou games. De Casablanca a Lista de Schindler poderíamos considerar que já vimos abordagens a todas as facetas do conflito. Spies of Warsaw está aí para provar ao contrário, assumindo uma narrativa não tão comum assim, que aborda um período bastante específico dentro da guerra.

Baseado no livro de mesmo nome, escrito por Alan Furst, a minissérie nos leva, como anuncia o título, a Varsóvia, entre os anos de 1937 e 1939. Qualquer um que tenha o mínimo conhecimento histórico, portanto, sabe que estamos às vésperas da guerra, que teria início com a marcha de Hitler sobre o solo Polonês. Apesar deste conhecimento prévio, que poderia muito bem tornar a trama inteiramente previsível, nos é dada uma visão mais individual do conflito, nos colocando sob a perspectiva de Jean-François Mercier (David Tennant), um herói da Primeira Guerra que atualmente atua como espião francês em Varsóvia. Mercier procura provar a iminência de um ataque nazista não só à Polônia, como à própria França, com um agravante: tais ataques utilizariam táticas inesperadas, como trazer os tanques através das florestas europeias, burlando as linhas de defesa já montadas.

Através deste ponto de vista a trama fictícia se mistura perfeitamente com os fatos históricos, nos distanciando da verdade já sabida e, com isso, criando uma distinta tensão que nos faz perguntar a cada instante quando a guerra, enfim, vai estourar. Utilizando esse nervosismo criado no espectador, o roteiro de Dick Clement e Ian La Frenais consegue criar um angustiante thriller de espionagem, que muito nos lembra O Espião que Sabia Demais, pelo distinto tom de insegurança constantemente frisado na tela. A mentalidade dos protagonistas pouco a pouco se torna a nossa, ao ponto que passamos a duvidar de qualquer personagem – afinal, quem garante que o outro não atua para o lado inimigo? Somada a essa palpável tensão, temos a entrada da SS no cenário, representando a constante ameaça da Alemanha Nazista não só para Jean, como para os outros países em si.

Por outro lado, Spies of Warsaw, acaba trazendo um notável problema de O Espião que Sabia Demais e este é seu roteiro confuso, aliado de uma montagem que acaba dificultando ainda mais a compreensão do plano geral. Essa característica se mostra forte nos primeiros minutos da projeção e, felizmente, acaba se diluindo ao longo da narrativa. Ainda assim, muitos dos acontecimentos não são deixados claros no momento que são exibidos e somente os entendemos (algumas vezes minimamente) mais adiante na fita. Logo a imersão pode acabar se transformando em frustração, ao passo que somos praticamente esquecidos pelos roteiristas. Como citado, o encadeamento das cenas não ajuda, trazendo constantes elipses temporais que levam, a cada sequência, os personagens de Varsóvia, a Paris, Berlim e para Varsóvia novamente. É preciso uma dose extra de atenção para não ficarmos perdidos por completo nessa complicada narrativa que, muitas vezes, adota um caráter capitular, provavelmente herdado de sua contraparte literária.

Quem nos salva desse turbilhão de informações é Tennant, no papel de Mercier, trazendo um elemento palpável de identificação com o público, um espião que ora se demonstra humano, ora uma arma nas mãos de seu governo. David, que já demonstrara sua versatilidade ao trabalhar em Doctor Who e, posteriormente, em Broadchurch, em papéis completamente distintos, novamente chama atenção e, por mais que consigamos identificar elementos em comum de sua retratação no segundo exemplo citado, acaba se destacando pelo realismo em suas expressões. Nele vemos o retrato da Europa da época, que se divide em medo, expectativa e uma paz fragilizada. Através dele, na metade do primeiro episódio já estamos imersos novamente e com um entendimento reforçado da trama. Seu personagem somente peca quando é colocado ao lado de Janet Montgomery, que apesar de convencer em seu papel, não exibe a desejada química entre os dois. No fim temos um par romântico inteiramente desnecessário para a trama, não contando com nenhum valor narrativo e sequer apelando para os espectadores, que já tem a tensão construída através do cenário político.

Esses defeitos, contudo, não conseguem esconder a qualidade da minissérie, que nos mantém presos do início ao fim. Seus dois episódios de uma hora e meia cada conseguem iniciar e encerrar a história com exatidão, sem pecar pelo exagero e nos trazendo um clímax efetivo, de deixar qualquer um na borda da cadeira. Diante das inúmeras produções que retratam a Segunda Guerra, esta é uma obra que se destaca, soando bastante humana e trazendo um distinto tom de espionagem que chega a lembrar, constantemente, o film noir. Apesar de um roteiro confuso, está longe de decepcionar seu espectador.

Spies of Warsaw (idem – EUA/ Reino Unido/ Polônia, 2013)
Direção: Weronika Migon, Kiaran Murray-Smith Roteiro: Dick Clement e Alan Furst
Elenco: David Tennant, Janet Montgomery, Marcin Dorocinski, Miroslaw Zbrojewicz, Burn Gorman, Radoslaw Kaim, Adam Godley, Andrew Sachs.
Duração: 2 episódios de 90 min.

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