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Crítica | Spread: Vol. 1 – Sem Esperança

por Ritter Fan
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estrelas 4

spread_vol_1_sem_esperanca_capa_plano_criticoNo prefácio do primeiro volume de Spread, o co-criador da série e responsável pela arte Kyle Strahm é brutalmente honesto em suas intenções. Ele deixa claro, logo de início, que “gosta de fazer desenhos tão nojentos que o façam rir”. E ele então explica que é cria dos anos 80 e 90 e que os filmes que ele costumava ver quando criança não o amedrontavam, mas sim o faziam sorrir de orelha a orelha.

Em outras palavras, o co-autor abraça a trasheira com que cresceu e desenha para se divertir e divertir seus leitores com tudo o que for de mais nojento. E Spread, sua criação de 2014 junto com o roteirista Justin Jordan, é justamente isso: diversão descompromissada nojenta e sanguinolenta.

Imaginem vocês a fusão entre o mangá Lobo Solitário (aquele do samurai que anda pelo Japão feudal carregando seu filho pequeno a tira-colo), o filme O Enigma de Outro Mundo e a franquia Mad Max, além de pitadas de filmes de kung-fu e de monstros em geral e pronto, aí está Spread. E a dupla criativa realmente não perde tempo e já começa a narrativa na correria, correria esta que simplesmente não para até o final das mais de 150 páginas de história em uma infindável coleção de ameaças inomináveis atrapalhando a vida do monossilábico No, um homem de cabelo espetado que vive em uma zona de quarentena gelada diariamente fugindo das monstruosidades que infestam o local e contaminam outras pessoas no caminho. Ele encontra um avião caído e, nele, no meio da mortandade geral, uma bebezinha que ele acaba batizando de Esperança, já que seus fluidos (lágrimas, vômito, qualquer coisa) são capazes de matar os monstros gerados pela epidemia que tomou o local.

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A partir deste inusitado encontro, tudo é um borrão de pancadaria e destruição, com a introdução, aqui e ali, de personagens bizarros como Ravello, um violento líder de uma tribo que cultua seu corpo perfeito e cabelos esvoaçantes que fariam a inveja de muitas modelos, Molly, uma mulher enlouquecida depois que seu filho pequeno – que carrega ainda em seus braços – morreu e que acaba se tornando a mãe de Esperança, um padre monstruoso que parece controlar a praga e, finalmente, Fat Jack, o cozinheiro canibal de um vilarejo murado. É uma sucessão de sandices permeada por muito sangue, muita luta com direitos a dentadas, machados, espadas e cutelos, além, é claro, de uma grande variedade de monstros, uns com dentes na pupila (sim!), outros com tentáculos saindo da barriga (sim!!) e outros ainda enormes e disformes como o monstrão do clássico A Bolha Assassina.

E, dentro desta proposta simplista – sobreviver a qualquer custo e tentar entender quem exatamente é Esperança – Spread cumpre seu dever com louvor. Nada de muita profundidade ou muitos diálogos. O negócio é mesmo sangue, tripas e violência cartunesca extrema que poderá afastar alguns, mas, tenho certeza, atrairá outros tantos leitores como uma espécie de “respiro” entre leituras mais sérias e complexas. Usando o artifício que Brian K. Vaughan empregou em Saga, ou seja, a narrativa da criança em algum ponto no futuro, Justin Jordan nos dá a sensação de épico em larga escala sem deixar de ser intimista ao mesmo tempo, já que o foco fica confinado na família disfuncional formada por No, Molly e Esperança em um mundo de cabeça para baixo.

Na arte, Kyle Strahm faz aquilo que promete no prefácio e solta a imaginação para criar nojeiras que divertem. Não quer ver sangue? Procure outra HQ. Mas se trasheira oitentista for algo que agrade, então o trabalho do artista, que não se furta em desenhar splash pages e double spreads com todo o tipo de monstruosidade, é um prato cheio.

Spread é diversão garantida. É, realmente, o nojento que nos faz sorrir.

Spread: Vol. 1 – Sem Esperança (Spread: Vol. 1 – No Hope, EUA – 2014/5)
Contendo: Spread #1 a #6
Roteiro: Justin Jordan
Arte: Kyle Strahm
Cores: Felipe Sobreiro
Letras: Crank!
Editora original: Image Comics
Data original de publicação: julho de 2014 a março de 2015
Editora no Brasil: não publicado no Brasil quando da publicação da presente crítica
Páginas: 158

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