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Crítica | Spring Breakers: Garotas Perigosas

O vazio pode ser tentador.

por Felipe Oliveira
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Antes de fazer a sua estreia diretorial com Vidas Sem Destino, Harmony Korine tinha atraído os holofotes no meio cinematográfico graças a sua co-autoria ao lado do cineasta Larry Clark, no polêmico filme Kids. A história trazia um recorte cru e muito específico ao retratar o cotidiano regado a drogas, sexo e bebidas de adolescentes residentes de Nova York. A abordagem assinada pela dupla e que contava com a direção de Clark detém um marco, talvez único, pelo nível intenso de exposição e ausência de filtro ao relatar as práticas inconsequentes durante um dia de uma juventude conturbada.

Embora tenha colaborado com o roteiro do também polêmico Ken Park, Korine foi se consolidando na direção graças ao estilo arthouse que buscava empregar em seus filmes independentes de temas peculiares. Porém, foi em 2012 que o cineasta alcançou sua fase mais mainstream na estreia de Spring Breakers, o longa que contava com as antigas atrizes da Disney Vanessa Hudgens e Selena Gomez como uma das protagonistas, ao lado de Ashley Benson, da série teen Pretty Little Liars, e por fim Rachel Korine, esposa do diretor fechando o grupo de quatro amigas universitárias que decidem realizar um assalto num restaurante para financiar as férias de primavera dos sonhos ao local que nomeia a película. A partir disso, a trama de estética psicodélica explorava essa ida desesperada pelo escapismo nas festas movidas a droga, música, sol, praia, piscina, bronzeado e um desfecho com um chefe do tráfico local, vivido por James Franco

O ponto que se destaca em meio a essa história simples e que faz de Spring Breakers uma viagem experimental e densa é a sua narrativa descompensada, definida por uma edição que busca ostentar a consumação de uma ambição cada vez mais decadente e insaciável. As inserções de acontecimentos futuros durante outras cenas, as falas arrastadas das personagens, os diálogos interrompidos e que voltam em forma de monólogos remendados, reflexivos e existenciais; tudo isso soma um conjunto de caracterizações que soam desconexas, intermináveis e truncadas. Ao apostar nisso, é como Korine dá uma identidade quase que letárgica a essa perseguição desorientada e delirante de um sonho, ou da suposta felicidade em torno disso.

Contudo, enquanto a edição assume o perfil narrativo do longa, os rumos da trama começam a ganhar um novo direcionamento além das expectativas. Por concentrar em Faith (Gomez) o senso de cautela e dúvida ao caminho que ela e o grupo de amigas seguiram para estar em Spring Break, a impressão para a audiência é de que ela impede a ruína sem volta da trupe. A voz em off com tom de culpa em palavras arrastadas e entorpecidas da personagem, sinaliza que um desfecho trágico é inevitável, o que porém, seria um relato com uma representação fácil e óbvia para como essas jovens universitárias vão caindo num espiral tentador de um mundo vazio, onde a vaidade do crime mascara uma fuga por novas emoções.

A exemplo da cena em que Candy (Hudgens) e Brit (Benson) simulam que porventura elas poderiam assumir o controle da situação e não serem meras coadjuvantes sexualizadas que acompanham o traficante local Alien (Franco), é como Korine apresenta qual a sua intenção do longa, de subverter as possibilidades esperadas da história, o que vai para um mecanismo oposto a de seus primeiros trabalhos de retratar um grupo de personagens imersos num existencialismo sem perspectiva. Se em Gummo a polêmica Like a Prayer de Madonna era o hino, a música tema para descrever a realidade cruel de uma vizinha após ser atingida por um tornado ao menos nos primeiros versoso autor trouxe a clássica Everytime Britney Spears para a montagem de uma das cenas que melhor define o espírito divisor de Spring Breakers: enquanto ao pôr do sol Alien toca no piano o instrumental da música e canta com as garotas trajadas com balaclavas e armas, o trecho é sobreposto com imagens futuras de assaltos, o que sintetiza um recurso irônico e criativo que mescla a performance emocional de Spearsl a um contraste de violência.

Com uma estética e narrativas que compõem uma experimentação ao vazio, não é como se Korine fizesse um retrato pop de uma juventude vaidosa e conturbada, e sim, que faz dessa história um aproveitamento máximo das possibilidades, ainda que pareça um completo faz de conta de quando Girls Just Want to Have Fun supera Tony Montana.

Spring Breakers: Garotas Perigosas (Spring Breakers – EUA, 2012)
Direção: Harmony Korine
Roteiro: Harmony Korine
Elenco: Vanessa Hudgens, Ashley Benson, Rachel Korine, Selena Gomez, James Franco, Gucci Mane
Duração: 94 min.

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