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Crítica | Sputnik (2020)

por Roberto Honorato
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Assim que Ridley Scott revelou ao mundo o seu clássico Alien: O Oitavo Passageiro em 1979, pessoas de todo o mundo ficaram impressionadas com o horror sobre uma raça alienígena, chamada de xenomorfo, tomando conta de uma espaçonave e invadindo o corpo de seus passageiros. O filme praticamente concebeu um novo subgênero da ficção científica no cinema, envolvendo horror espacial e criaturas assustadoras; e não faltaram longas que aproveitaram a ambientação sombria e a tensão de poder ser atacado a qualquer momento por uma criatura escondida nas sombras. A iteração mais recente dessa onda de filmes influenciados por Ridley Scott é a produção russa, Sputnik, dirigida por Egor Abramenko.

No auge da Guerra Fria, uma nave soviética sofre um problema durante seu retorno e cai com força na Terra, deixando apenas o seu comandante vivo. Para comprovar o estado mental do cosmonauta sobrevivente, o governo secreto da Rússia convida a controversa psicóloga Tatyana Klimova (Oksana Akinshina). Mesmo relutante, ela aceita a missão, mas logo percebe que não será como seus outros trabalhos quando é revelado que uma criatura misteriosa aproveitou a carona e voltou ao planeta com o cosmonauta.  

Embora as comparações com Alien sejam inevitáveis, Sputnik traz elementos o suficiente para se sustentar como uma experiência própria, principalmente por conta de sua primeira hora, onde o foco do filme está em longas sequências de diálogo entre a psicóloga Tatyana e o herói nacional, o cosmonauta Konstantin Veshnyakov (Pyotr Fyodorov). Ainda que seja obrigatório inserir algumas explicações, isso pode deixar os diálogos um pouco mais didático do que o necessário, mas nada que compromete os momentos de tensão e paranoia durante as entrevistas, bem construídas.

Para ajudar, as atuações de Oksana e Pyotr são autênticas o suficiente para fortalecer o núcleo dramático, o que acabou sendo extremamente importante para sustentar o longa, já que a sua segunda hora abandona o thriller psicológico e inteligente que estava construindo muito bem para abraçar uma abordagem mais rápida e dinâmica com ação e violência. 

Essa mudança no tom afeta a estrutura narrativa que o filme trazia até o momento, e é uma pena ver como poderiam ter algo original e criativo ao dar mais atenção na sua metade intimista e conduzida por diálogos, ao invés de simplesmente escolher o caminho mais previsível. Talvez seja tentador aproveitar uma obra envolvendo criaturas alienígenas e violentas para poder ir à loucura com sequências de ação sangrentas, mas não é uma boa ideia fazer isso de uma maneira que contradiz a ótica estabelecida originalmente.

Também há discordância na música, que não sabe se decidir entre uma composição minimalista e tímida e uma explosão épica que parece ter saído de uma produção hollywoodiana. Mas a música não chega a distrair tanto quanto a montagem. Se a mudança em tom não é o suficiente para deixar o espectador confuso, o filme não parece seguro sobre sua própria história.

Nos primeiros minutos assistimos aos eventos envolvendo o comandante cosmonauta e seu assistente a bordo da nave, mas assim que Tatyana começa a trabalhar interrogando Veshnyakov, uma questão envolvendo o paradeiro do assistente é insinuado, o que ajuda na confusão por parte do personagem, mas é uma subtrama que cansa rapidamente pelo fato de já sabermos exatamente o que aconteceu. Esse é um dos vários exemplos onde uma montagem mais inteligente, talvez omitindo mais informações em primeira instância, fosse uma boa saída. 

Sputnik tenta criar sua própria narrativa com a premissa de Ridley Scott, e Egor Abramenko faz um bom trabalho ao idealizar uma direção com um foco inicial na paranoia e o terror psicológico, mas infelizmente compromete sua obra ao não saber como criar uma transição orgânica de um thriller envolvente e atmosférico para um horror carregado de ação e violência. Mas ainda continuamos com uma ficção científica visualmente competente, com ótimos efeitos visuais e atuações ainda melhores que tem o trabalho de sustentar um enredo sem força. Infelizmente, Sputnik foi uma oportunidade desperdiçada. 

Sputnik (Rússia, 2020)
Direção: Egor Abramenko
Roteiro: Oleg Malovichko, Andrei Zolotarev
Elenco: Oksana Akinshina, Pyotr Fyodorov, Fedor Bondarchuk, Anton Vasilev, Aleksey Demidov, Anna Nazarova, Alekzandr Marushev, Albrecht Zander, Vitaliya Kornienko, Vasiliy Zotov
Duração: 113 min.

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