Home FilmesCríticas Crítica | Sr. Sherlock Holmes

Crítica | Sr. Sherlock Holmes

por Guilherme Coral
1,4K views

estrelas 5,0

A maior criação de Conan Doyle novamente ganhou o coração do público com suas mais recentes adaptações tanto para cinema quanto para a televisão. Tivemos a sensacional série da BBC, Sherlock, a não tão boa, americana, Elementary e o filme, no mínimo duvidoso – ainda que sucesso de audiência – Sherlock Holmes, estrelado por Robert Downey Jr. O cinema ganhou, então, neste ano de 2015, uma das mais potentes obras baseadas nos livros e contos de Doyle, Sr. Holmes, que tem como o detetive ninguém menos que Ian McKellen.

O filme, porém, não chega a ser uma adaptação de um dos escritos do autor do século XIX, é, ao invés disso, tirada de uma história mais moderna, o livro A Slight Trick of Mind, de Mitch Cullin, que nos apresenta um Holmes já idoso e aposentado, que vive em uma casa no interior e cuida de abelhas como seu principal hobby. Lá ele conta com a ajuda da governanta Mrs. Munro (Laura Linney) e de seu filho Roger (Milo Parker), um admirador de Sherlock, que se prontamente se torna uma espécie de aprendiz do já famoso investigador particular. A grande problemática da obra é o Alzheimer de Holmes, que o impede de lembrar o motivo por trás de sua aposentadoria, algo que ele busca no interior de sua mente com veemência.

Há um notável ar de melancolia por trás de Sr. Holmes – os famosos personagens que conhecemos e amamos, Watson, Mycroft, dentre outros, estão já todos falecidos, deixando para trás apenas Sherlock. As marcas disso podem ser vistas claramente na expressão de McKellen, que nos traz uma atuação de se aplaudir de pé, encarnando, a principio, um velho rabugento, que se demonstra ser uma figura verdadeiramente amável em sua relação com Roger, que, interpretado por Milo Parker, também entrega tudo de si, transformando essa convivência entre os dois a maior atração do longa, que por si só já garante nossa imersão.

O roteiro de Jeffrey Hatcher, porém, não deixa nada para o acaso e garante nossa atenção ao intercalar o passado – as graduais lembranças do detetive – com o seu presente, ao passo que somos pegos de forma certeira pela ansiedade em descobrir o que de fato ocorreu. A angústia de Sherlock, em virtude de sua doença, passa a ser a nossa e mesmo sabendo ser impossível desejamos a cada instante que ele se recupere. A degeneração, contudo, é evidente e a senilidade, como ele próprio se refere em brincadeira, é perfeitamente retratada pelo ótimo trabalho de maquiagem e figurino, que muito distanciam a figura de Holmes antes e depois de sua aposentadoria.

Assegurando ainda mais a pluralidade do filme, o roteiro insere algumas brincadeiras com essa “figura pública”, mostrando o investigador assistindo adaptações cinematográficas dos livros de Watson e rindo de sua retratação, em especial o famoso chapéu que ele diz nunca ter utilizado. Uma dessas cenas em específico nos mostra um filme fictício no qual o detetive é interpretado por Nicholas Rowe, que, de fato, fizera o papel de Holmes em O Enigma da Pirâmide. Essa deliciosa intertextualidade funciona principalmente como uma grande homenagem aos fãs da criação de Conan Doyle.

Sr. Holmes é, portanto, antes de mais nada, um filme sobre o próprio personagem e não sobre um de seus famosos casos. Uma obra verdadeiramente intimista, que traz uma das melhores encarnações do detetive, com Ian McKellen se entregando totalmente ao papel, provando que a BBC, de fato, conseguiu acertar mais uma vez com Sherlock Holmes.

Sr. Holmes (Mr. Holmes – Reino Unido, 2015)
Direção: Bill Condon
Roteiro: Jeffrey Hatcher (baseado no livro de Mitch Cullin)
Elenco: Ian McKellen, Laura Linney, Milo Parker, Hiroyuki Sanada, Hattie Morahan, Patrick Kennedy
Duração: 104 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais