Home TVEpisódio Crítica | Star Trek: Discovery – 2X07: Light and Shadows

Crítica | Star Trek: Discovery – 2X07: Light and Shadows

por Giba Hoffmann
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– Contém spoilers do episódio. Leia nossas críticas dos filmes e séries de Star Trekaqui.

Em meio a uma temporada que tem apostado mais na construção explícita de mistérios alongados do que em desfechos acelerados e bombásticos (como ocorreu no ano de estreia da série), Light and Shadows representa um momento interessante onde as perguntas vão, pouco a pouco e finalmente, dando lugar às tão necessárias respostas. Dividindo o foco da busca pelo Anjo Vermelho entre uma missão extra-oficial de Michael (Sonequa Martin-Green) em busca de Spock e uma crise da USS Discovery às voltas com uma anomalia temporal, o episódio consegue um bom equilíbrio entre exploração de personagens e uma narrativa de sci-fi energética e inspirada.

A viagem até Vulcano acaba sendo a oportunidade para revisitarmos de forma mais detida a dinâmica da família adotiva de Michael. A construção visual do planeta é excelente, representando um dos grandes acertos de Discovery no departamento. Ao invés de acompanhar sob uma perspectiva afastada a forma como a família de embaixadores lida com o desaparecimento do filho, nosso ponto de vista é bastante intimista e, seguindo a tendência que tem acontecido até aqui, surpreende ao garantir um papel protagonista a Amanda (Mia Kirshner), figura tradicionalmente relegada à sombra de Sarek e Spock – a eterna esposa/mãe humana e nada mais. Com diálogos realistas e críveis, a crise familiar é retratada de forma bastante convincente, e com ela nós acompanhamos um pouco mais da complexa dinâmica dessa unidade familiar composta por multicultural e multi-espécie.

Outra coisa que surpreende é o primeiro encontro de fato com Spock (Ethan Peck), que após seis episódios de se dá sem grandes cerimônias e ao longo do desenvolvimento orgânico da trama. A caracterização e interpretação de Peck parece se encaminhar para convencer como o meio-vulcano, conseguindo se sair bem aqui com a tarefa ingrata de representar um dos maiores ícones não apenas da franquia ou subgênero, mas da própria televisão – e o detalhe significativo: em surto delirante. O foco habilmente evita recair demais sobre a figura conhecida, transitando para a confrontação de Amanda a Sarek e a resposta intransigente do vulcano, que se usa de forma um tanto manipulativa e de sua posição na família para encaminhar as coisas da forma que mais lhe agrada.

O imbróglio com a Seção 31 nos mostra os desdobramentos disso de forma empolgante. Evitando o erro de pesar a mão na dramatização excessiva da perspectiva de nossa protagonista, a produção consegue tratar com sutileza a dicotomia entre Michael e Sarek (James Frain), o que garante um espaço para respirar ao “gato e rato” triangular da oficial com os sempre escusamente motivados Leland (Alan Van Sprang) e Georgiou (Michelle Yeoh). A virada de Michael sobre a seção de spec-ops espacial pode não ser totalmente inesperada, mas é um momento emocionante e significativo que se utiliza de maneira implícita do passado da personagem com as partes envolvidas e nos deixa curiosos a respeito tanto do encaminhamento de sua jornada quanto da ex-Imperatriz do Universo Espelho.

De forma paralela, a crise temporal na Discovery se instala em uma perspectiva pessoal estreita para nos apresentar uma interessantíssima trama de ficção científica. Já tendo nos dado pistas de sua total desconfiança a respeito de Tyler, acompanhamos aqui o heroico capitão Pike em uma missão ao estilo “tudo ou nada” para obter informações a respeito do rastro temporal deixado pelo Anjo Vermelho. A missão da dupla na shuttle traz um uso inventivo da anomalia temporal para explorar essas temáticas – o cop-out envolvendo a projeção dos eventos futuros foi uma forma convincente (e divertida) de nos mostrar a perspectiva pessoal de Pike sem fazer uso de diálogos ou flashbacks expositivos. A participação heroica de Stamets (Anthony Rapp) é a cereja no bolo de uma sequência empolgante de ação espacial ao melhor estilo da franquia. Outra excelente adição para as missões episódicas dessa segunda temporada.

Felizmente evitando forçar uma confluência entre as duas tramas (juro que até pouco tempo antes do final do episódio eu temi que os números de Spock fossem ser a chave para salvar a shuttle – o que teria sido uma resolução totalmente anticlimática para a coisa toda), Light and Shadows mostra um Star Trek: Discovery amadurecido em relação a sua narrativa nessa 2ª temporada, fazendo um uso ótimo do que, a rigor, poderia ser ser considerado um semi-filler. Com isso, a confluência entre as duas linhas narrativas deste episódio já se encontra muito bem preparada: no capítulo seguinte, seguimos para Talos IV, local bastante familiar ao lore tanto de Spock, quanto de Pike.

Star Trek: Discovery – 2X07: Light and Shadows (EUA, 28 de fevereiro de 2019)
Direção: Marta Cunningham
Roteiro:  Ted Sullivan, Vaun Wilmott
Elenco: Sonequa Martin-Green, Doug Jones, Anthony Rapp, Mary Wiseman, Shazad Latif, Anson Mount, Michelle Yeoh, James Frain, Ethan Peck, Alan Van Sprang, Mia Kirshner, Patrick Kwok-Choon, Oyin Oladejo, Ronnie Rowe
Duração: 40 min.

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