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Crítica | Star Trek: Discovery – 3X07: Unification III

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

Discovery volta a mergulhar profundamente na mitologia clássica ao criar, como o título Unification III já deixa bem claro para quem acompanha a franquia, uma continuação para o episódio duplo Unification, da 5ª temporada da Nova Geração em que Spock, então já embaixador, começa o processo de unificação dos romulanos com os vulcanos, duas raças de mesma origem que se tornaram inimigas. É, sem dúvida alguma, o episódio mais hermético das três temporadas até agora, ainda que seu tema universal e as implicações pessoais para Michael Burnham sejam de fácil absorção mesmo para quem não viu as primeiras duas partes ou mesmo qualquer material anterior deste universo.

O roteiro de Kirsten Beyer, porém, é eficiente em fazer a ponte narrativa aos não iniciados, ainda que isso exija, naturalmente, uma boa quantidade de texto expositivo e até mesmo o uso de imagens de arquivo de Spock mais velho nos referidos episódios da Nova Geração. Funciona porque serve também de explicação para Michael que, aqui, é a guia do espectador, já que estamos falando do destino do irmão dela. O problema é que isso exige que ela, durante todo o ano que passou nesse futuro, não tenha tentado descobrir nada sobre ele, o que, convenhamos, mesmo com a explicação mequetrefe que ela dá, não é algo fácil de aceitar.

Para tornar o episódio possível, Beyer não só confirma as suspeitas de Michael sobre a Combustão não ter acontecido simultaneamente em todo o universo, como descobrimos que os vulcanos, ao fazer experimentos com uma alternativa ao motor de dobra, se consideram culpados pelo ocorrido, algo que a triangulação de Tilly revela não ser possível. Mas, conforme aprendemos – e, novamente, não é razoável que Michael já não soubesse de pelo menos parte disso – essa culpa foi a gota d’água para Vulcano, agora rebatizado de Ni’Var, com romulanos e vulcanos coexistindo no mesmo território, sair da Federação de Planetas e se recusar a entregar os dados sobre o programa SB-19, que teria sido, na cabeça deles, o gatilho para a tragédia espacial.

Desta vez seguindo o protocolo, Saru e Michael pedem autorização para o Almirante Vance, que sugere que Michael, por ser irmã de Spock, lidere a abertura de conversas diplomáticas com Ni’Var. Tendo seu pedido rechaçado imediatamente por T’Rina (Tara Rosling), presidente do planeta, Michael invoca o ritual vulcano T’Kal-in-ket, um grande debate que busca “a verdade”, tendo como sua “advogada de defesa” ninguém menos do que sua própria mãe que, surpresa, surpresa, é uma  freira guerreira do Qowat Milat, secto romulano que vimos em Star Trek: Picard. A presença de Sonja Sohn como Gabrielle Burnham é sempre um prazer, mas o salto necessário para aceitarmos uma cientista que viajou para o futuro distante tornar-se uma freira guerreira é um tantinho demais, que cheira ao tipo de conveniência narrativa artificial demais para realmente funcionar.

Mas a cerimônia, que transforma o episódio em um “filme de julgamento”, ao contrário, cheira à Star Trek raiz do começo ao fim, já que o importante não é exatamente a verdade sobre a teoria de Michael ou o porquê de os romulanos e vulcanos terem escondido os dados do SB-19, mas sim sobre a verdade sobre Michael. É, no final das contas, uma grande e coletiva sessão de terapia para que Michael, sentindo-se deslocada em seu lar (que, desconfio, foi a única razão para que o ano dela no futuro tenha sido usado no roteiro da temporada), volte a ser ela inteira, dedicada à Federação acima de tudo, algo que ela demonstra ao abrir mão do conhecimento para evitar que a hesitante paz entre os dois povos há séculos arquitetada por seu irmão venham a ruir. No final das contas, apesar de ser um episódio narrativamente bem complicado, o roteiro, mesmo exigindo que aceitemos alguns atalhos, funciona bem ao evocar o espírito das séries clássicas, mas sem abandonar a pegada moderna de Discovery.

No entanto, o que realmente não funciona de forma alguma é o dramalhão ridículo ao redor da escolha de Tilly para ser Número Um por Saru. Para começar, sob o ponto de vista técnico, não faz sentido algum a decisão de transformar uma recruta no segundo mais alto oficial da nave como em um passe de mágica. Claro que sob o ponto de vista narrativo, era a única opção, porém, mas fica parecendo exatamente isso: a única opção. Depois, a dúvida sobre ela aceitar ou não é aquela coisa anticlimática novelesca de resultado tão óbvio que cansa. E não ajuda em nada que tudo tenha que ser resolvido literalmente como um momento “emocionante” (as aspas são realmente importantes aqui, pois equivalem ao meu rolar de olhos…) com todo o elenco exaltando a colega simpática, mas irritante. Unification III podia ter passado sem essa subtrama vergonhosa…

Apesar dos pesares, Star Trek: Discovery continua bem em sua temporada mais ousada até agora por imaginar um futuro distante e bem diferente do que imaginávamos. Mas agora que os dramas pessoais parecem ser coisa do passado (ou do futuro, sei lá), é de se esperar que o desenvolvimento da linha narrativa sobre a causa da Combustão avance, trazendo revelações que façam valer o esforço da manutenção de todo esse mistério.

Star Trek: Discovery – 3X07: Unification III (EUA, 26 de novembro de 2020)
Showrunners: Alex Kurtzman, Michelle Paradise
Direção: Jon Dudkowski
Roteiro: Kirsten Beyer
Elenco: Sonequa Martin-Green, Doug Jones, Anthony Rapp, Mary Wiseman, David Ajala, Wilson Cruz, Rachael Ancheril, Michelle Yeoh, Tig Notaro, Emily Coutts, Blu del Barrio, Oded Fehr, Vanessa Jackson, Jake Epstein, Sonja Sohn, Tara Rosling
Duração: 50 min.

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