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Crítica | Star Trek: Discovery – 3X11: Su’Kal

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

Depois do fraquíssimo episódio duplo Terra Firma que, se serviu para alguma coisa, foi para jogar um balde de água fria na temporada com seu desvio de propósito e sua natureza de backdoor pilot para uma série spin-off com a imperatriz Philippa Georgiou, minha esperança era que os últimos três episódios revigorassem o terceiro ano de Discovery e, a julgar por Su’Kal, pode ser que isso venha realmente a acontecer. Claro que ainda é cedo para respirarmos aliviados, mas o retorno para a história principal foi um baita começo para essa estirada final.

E olha que, por alguns segundos, com o “epílogo” da festa de despedida de Georgiou, fiquei com receio de que sua ausência ainda fosse, de alguma forma, mantida como tema recorrente no roteiro de Anne Cofell Saunders. Felizmente, porém, foi só um susto mesmo com o objetivo um tanto quanto aleatório de reintroduzir Gray Tal à história, em um momento fraco, mas que não atrapalha a apreciação do conjunto. Afinal, a chegada da nave à altamente radioativa nebulosa de Verubin, onde a nave Kelpiana que teria conexão com a Combustão estaria presa há 125 anos e, ainda por cima, com a descoberta de um improvável sinal de vida lá dentro resulta em um episódio clássico de Star Trek, daqueles que se passam integralmente em uma simulação – o equivalente tecnológico de pegadas mais psicológicas de histórias que se passam na mente de personagens -, só que com muito mais sofisticação visual do que estamos acostumados.

Até mesmo os momentos de ação fora do programa de computador para aonde Saru, Michael e Culber se teletransportam funcionam bem, com Book por duas vezes demonstrando coragem e valor para a Federação ao se arriscar dentro da nebulosa com sua nave Transformer e com a chegada de Osyraa, da Corrente Esmerald, uma vilã que ainda está longe de mostrar a que veio, mas que, para fins deste episódio, tem boa participação (e eu nunca entenderei porque, nesse futuro, ninguém criou algum tipo de campo de força para evitar a mais do que invasiva tecnologia de teletransporte pessoal, mas tudo bem…), mesmo que tenhamos que perdoar Tilly que, definitivamente, não tem nenhuma possibilidade de ser capitã, nem mesmo interina. No entanto, claro, é dentro da nave Kelpiana em órbita de um planeta feito de dilítio, que está a nata do capítulo.

Lá, a trinca principal é brilhantemente metamorfoseada em raças diferentes, artifício que obviamente só foi empregado para permitir que Doug Jones pudesse atuar sem suas costumeiras próteses e maquiagens de Saru, já que seu personagem se torna humano. E é exatamente por isso que a explicação dada pelo roteiro para essas mudanças não importa realmente, já que é muito raro vermos o ator “nu” e toda a oportunidade precisa ser apreciada. E ele não faz feio. Muito ao contrário, apesar de não ter sua voz alterada pelas próteses e de não manter o caminhar igual ao de Saru, mantém os movimentos de cabeça, acompanhado pela visão esguia de seu corpo e um inflexão de voz que muito claramente indica que estamos diante da versão humana do capitão da Discovery, além de permitir que o ator mostre que sabe atuar também sem maquiagem pesada, já que ele lida muito bem com a dor que o Kelpiano sente ao rever, ainda que em um Holodeck, detalhes de sua cultura. Michael, por sua vez, torna-se uma Trill e Culber um Bajorano, alterações que só estão lá para dar substância à de Jones, lógico.

Não sou lá muito amigo da explicação para o fenômeno da Combustão – ataque histérico psíquico de um Kelpiano com a fisiologia alterada pela proximidade ao dilítio? – que o roteiro dá, mas, se pararmos para pensar, esse tipo de tecnobaboseira simpática e inofensiva é algo que está no DNA de Star Trek e de uma penca de outras obras sci-fi que tanto a antecederam como vieram em seu rastro. Mal ou bem, o conflito interno vivido pelo pobre do Su’Kal (Bill Irwin, o Cary Loudermilk de Legion, muito à vontade) lembra muito o raciocínio por trás do “monstro invisível” do clássico Planeta Proibido, de 1956. Mas o ponto principal é que o construto tecnológico ao redor de Su’Kal é o que realmente dá sabor e complexidade ao episódio, ainda que não seja nada que não tenhamos visto antes. O “Dementador” como manifestação de seu maior medo, os desafios tipo videogame da simulação e o papel de Saru como o único capaz de entender a mente sofrida do sobrevivente, além do de Culber em mais um sacrifício e uma “despedida” de Stamets, são, basicamente, clichês do gênero, mas que, aqui, são bem utilizados e proporcionam uma aventura quase retrô.

E, mesmo que não fique evidente pelo título, Su’Kal é um episódio duplo, quiçá triplo, mas executado da maneira correta e não modorrenta e preguiçosa como foi a transição da Parte 1 para a Parte 2 de Terra Firma. Saru e Culber ficaram na nave para ajudar Su’Kal, Adira foi correndo atrás dos dois em uma escolha que, espero, use bem a nova adição à temporada e, finalmente, Michael e Book chegam tarde demais à Discovery que, capturada pela nave de Osyraa, desaparece para potencialmente atacar de surpresa a base da Federação. Ou seja, tem muita ponta solta interessante para ser amarrada nos dois episódios finais e isso, que fique bem claro, não é uma reclamação!

Star Trek: Discovery – 3X11: Su’Kal (EUA, 24 de dezembro de 2020)
Showrunners: Alex Kurtzman, Michelle Paradise
Direção: Norma Bailey
Roteiro: Anne Cofell Saunders
Elenco: Sonequa Martin-Green, Doug Jones, Anthony Rapp, Mary Wiseman, David Ajala, Wilson Cruz, Rachael Ancheril, Michelle Yeoh, Tig Notaro, Emily Coutts, Blu del Barrio, Oded Fehr, Janet Kidder, Bill Irwin
Duração: 55 min.

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