Home TVEpisódio Crítica | Star Trek: Discovery – 4X04: All Is Possible

Crítica | Star Trek: Discovery – 4X04: All Is Possible

Psicologia, diplomacia e aventura.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

All Is Possible é um daqueles episódios que ou vai agradar ou desagradar completamente, creio, pois não só ele é basicamente um filler dividido em três linhas narrativas diferentes e que não tangenciam, como, no final das contas, parece muito arrumadinho demais, com finais felizes em todas as frentes, o que não é ruim em si, mas que depende de uma boa dose de conveniências narrativas para realmente funcionar. Claro que ainda falta muito para acabar a temporada, mas escantear a anomalia dessa forma me passa a mensagem que não há história suficiente para preencher o quarto ano da série sem desvios como este aqui e que, de certa maneira, é a continuidade do distanciamento da história principal iniciado em Choose to Live.

O primeiro ponto relevante é Sylvia Tilly. A personagem de Mary Wiseman esta à deriva desde o início da temporada e suas dúvidas existenciais sobre o que ela realmente quer fazer da vida me parecem um tanto quanto inseridas à fórceps na narrativa, desaguando em sua missão de reconhecimento com os cadetes birrentos da Academia que dá errado e faz com que todo mundo tenha que lutar por suas vidas em um planeta gelado em que eles são perseguidos por criaturas estranhas. A aventura em si, bem leve e bem no espírito da franquia Star Trek como um todo – “deixem o preconceito de lado”, “a união faz a força” e outras mensagens edificantes assim são a substância do que ocorre e esse tipo de mensagem é da essência da criação de Gene Roddenberry – é boa, ainda que necessariamente muito rápida e com saídas fáceis em razão do tempo que precisa dividir com as outras histórias. O problema está mesmo no objetivo maior dela, que é fazer com que Tilly, depois de convite de Kovich (David Cronenberg retornando à série, o que é sempre boa notícia), parta para ser instrutora na Academia, quase que como ela estivesse basicamente aceitando qualquer função que a retirasse da Discovery, o que é no mínimo estranho. Por outro lado, no caso de Adira, é interessante como o episódio tira a super ciência do caminho, reduzindo seu papel ao de um cadete como os demais ao seu redor, de certa maneira mostrando que a personagem ainda tem muito a aprender.

Se os showrunners Alex Kurtzman e Michelle Paradise não sabem o que fazer com Tilly ou têm uma história para contar que exija que ela saia por um tempo do elenco principal – ainda não está claro o que acontecerá com a personagem, se ela vai de vez ou volta alguma hora – então é melhor, especialmente no primeiro caso, que ela seja defenestrada logo, sem enrolações, pois o pior que poderia acontecer é esse seu drama desinteressante ser protraído no tempo. O que eu realmente não gostaria que acontecesse é que a série mantivesse Tilly como protagonista de uma linha narrativa continuada, mas que se passa na Academia, longe da Discovery e do centro de decisões da série, pois isso mostraria, de uma vez por todas, que a história principal da temporada, que começou muito bem, não se sustenta como tal. Mas veremos o que acontecerá – ou não – com a personagem.

No lado mais pessoal do capítulo, temos Book ainda lidando com sua perda, pois a Fusão Mental empreendida por T’Rina funcionou apenas como uma alívio temporário, algo que a elipse temporal do começo consome de imediato, levando o personagem à lidar com seu sofrimento por meio de terapia com o Dr. Culber. Como já disse nas críticas anteriores, gosto muito que o trauma de Book não tenha sido esquecido na temporada, tratado como algo de um episódio e, depois, nunca mais visto. Fazê-lo caminhar por diversos estágios e procurando diferentes maneiras de lidar com a destruição de seu mundo é um grande trunfo da temporada até agora, mesmo que isso sacrifique o lado da ação – que não é nem de longe o que de mais importante a série tem a oferecer – e, também, a própria função do personagem na temporada para além de seu próprio lado psicológico. Dito isso, não vejo como essa linha narrativa tenha muito mais a oferecer depois do que foi visto aqui, pelo que imagino que a dor da perda de Book só deverá retornar, agora, quando a anomalia passar a ser novamente o centro das atenções.

Finalmente, temos o lado diplomático da história, com Michael e Saru sendo indiretamente convocados a serem “resolvedores do impasse” entre a Federação e Ni’Var sobre a entrada do ex-planeta Vulcan no tratado de cooperação. Sei que muita gente vai reclamar dizendo que é sempre Michael que resolve os problemas, mas isso é e sempre foi o padrão de Star Trek e, convenhamos, de qualquer franquia com um personagem hiearquicamente superior aos demais que participe dos momentos de ação. Além disso, a resolução do problema, apesar de vir de Michael, é resultado de um trabalho conjunto dela com Saru, pelo que o problema não está aí, pelo menos não para mim. O problema é a resolução em si, chamada de “elegante” por T’Rina, mas que me pareceu tão óbvia e não fácil, que chegou a ser preguiçosa. Se é para colocarem Michael e Saru no jogo político, que pelo menos encontrem razões mais nobres do que simplesmente fazê-los concluir pelo caminho mais viajado.

All Is Possible, apesar de ter seus momentos, parece indicar que há um problema narrativo na história principal, pois fillers tão cedo na temporada são sempre sinais de alerta. Com Tilly fora da Discovery para sempre ou no mínimo por tempo indeterminado (chuto que ela não ficará longe por muito tempo) e Book, em tese, pronto para deixar sua dor em xeque, creio que seja a hora de voltar a mergulhar de cabeça na anomalia, sem maiores enrolações, nem que seja para encerrar essa linha narrativa ainda na primeira metade da temporada, solução que prefiro a arrastar o mistério até o final.

Star Trek: Discovery – 4X04: All Is Possible (EUA, 09 de dezembro de 2021)
Showrunners: Alex Kurtzman, Michelle Paradise
Direção: John Ottman
Roteiro: Alan McElroy, Eric J. Robbins
Elenco: Sonequa Martin-Green, Doug Jones, Anthony Rapp, Mary Wiseman, Wilson Cruz, David Ajala, Blu del Barrio, Ian Alexander, Emily Coutts, Oyin Oladejo, Patrick Kwok-Choon, Chelah Horsdal, Oded Fehr, Ronnie Rowe Jr., Ayesha Mansur Gonsalves, David Cronenberg
Duração: 54 min.

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