Home TVEpisódio Crítica | Star Trek: Lower Decks – 1X04: Moist Vessel

Crítica | Star Trek: Lower Decks – 1X04: Moist Vessel

por Ritter Fan
701 views

  • spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios e, aqui, todo nosso material sobre Star Trek.

Aos poucos, mas consistentemente, Lower Decks vem quebrando o molde e mostrando-se efetivamente capaz de realizar seu potencial. Não que a temporada tenha apresentado até agora algum episódio ruim, mas meu receio era que ela se mantivesse dentro de um modelo rígido, sem espaço para manobras, jogando seguro o tempo todo. Se Temporal Edict veio para estilhaçar essa concepção, Moist Vessel, mesmo não chegando exatamente no mesmo nível, continua a tendência de Mike McMahan de rasgar o manual de instruções que a sem dúvida interessante premissa da série de certa maneira estabelecia.

Se ele fez o óbvio no episódio anterior, quebrando a estrutura de duplas que os dois primeiros capítulos usaram até não poder mais, aqui o roteiro de Ann Kim chega até mesmo a romper com a premissa, de certa forma esquecendo a visão a partir dos bastidores – ou dos conveses inferiores – e partindo para o que mais próximo a temporada até agora chegou de uma aventura que poderia constar dos anais das outras séries da franquia. Claro, o foco ainda é nos tripulantes “desimportantes” da U.S.S. Cerritos, especialmente Mariner que ganha destaque como se fosse uma oficial de longa data, algo que é literalmente o que acontece quando sua mãe, a capitã Carol Freeman, a promove – fazendo-a participar das intermináveis e chatíssimas reuniões internas de oficiais – para forçá-la a pedir transferência para outra nave ou posto, depois que ela a envergonha ao bocejar durante as longa tecno-bobagens que abrem o capítulo.

A dinâmica de mãe e filha, portanto, é o grande destaque de Moist Vessel depois que a Cerritos e U.S.S. Merced, comandada pelo capitão Durango, são infectadas por uma substância que terraforma objetos inanimados guardada em uma nave à deriva há centenas de anos que a Federação ordena o reboque. Os problemas entre Freeman e Mariner já haviam sido abordados desde o primeiro episódio, mas, aqui, há espaço de sobre para um bom desenvolvimento que comprova que o adágio que determina que a maçã não cai longe da árvore. As duas são turronas, briguentas e infantis, incapazes de aceitar conselhos e ideias dos outros ou de admitir que estão erradas. As discussões das duas em meio à quase destruição completa da Cerritos são muito bem humoradas e ao mesmo tempo realistas, sendo muito fácil a identificação com o problema por que as duas passam.

Curiosamente, Boimler e Rutherford são colocados quase que completamente de lado no episódio, o que abre espaço para a sempre deslumbrada D’Vana Tendi brilhar um pouco quando recebe sua missão do dia: observar a “ascensão” do tenente O’Connor (Haley Joel Osment). Claro que ela atrapalha tudo e, quando ela vai se desculpar, a terraformação da Cerritos começa a acontecer e os dois precisam trabalhar juntos para sobreviver. O que funciona muito bem nesse lado da narrativa é que a “ascensão” é tratada primeiro como algo a ser reverenciado, depois como um embuste e, finalmente, quando ela inadvertidamente acontece, como algo doloroso e indesejado, exatamente o contrário do que se poderia imaginar de uma mítica conversão do ser em pura energia para uma comunhão universal. Assim como Mariner bocejando das tecno-baboseiras no início do episódio, este é mais um exemplo de como Lower Decks vem para “desconstruir” hilariamente certos conceitos de Star Trek e também diversas outras séries de TV e filmes.

Mesmo que as duas narrativas paralelas permaneçam sem se comunicar até o final – a não ser quando as duas duplas têm que lidar separadamente com o que está acontecendo na nave – o episódio funciona muito bem em seu todo, sem quebras de ritmo e sem que essa incomunicabilidade narrativa atrapalhe de verdade sua progressão. Além disso, as duas relações interpessoais inéditas mostram que o jogo pode ser jogado de qualquer maneira na série, inclusive com a introdução e eliminação de personagens em um mesmo episódio, o que muito claramente amplia as possibilidades futuras de Lower Decks.

Moist Vessel é mais um ótimo capítulo da temporada inaugural da segunda série animada na história da franquia, mostrando que McMahan planejou sua obra de maneira que ela fique de pé sozinha, sem depender de amarras a uma estrutura rígida ou de referências intermináveis. Lower Decks está definitivamente pronta para alçar seus próprios voos que, espero, sejam cada vez mais arriscados.

Star Trek: Lower Decks – 1X04: Moist Vessel (EUA, 27 de agosto de 2020)
Showrunner: Mike McMahan
Direção: Barry J. Kelly
Roteiro: Ann Kim
Elenco (vozes originais): Tawny Newsome, Jack Quaid, Noël Wells, Eugene Cordero, Dawnn Lewis, Jerry O’Connell, Fred Tatasciore, Gillian Vigman, Paul Scheer, Haley Joel Osment
Duração: 25 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais