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Crítica | Star Trek: Lower Decks – 1X10: No Small Parts

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

E, com o final da 1ª temporada de Star Trek: Lower Decks, posso afirmar com tranquilidade que a série, que talvez tenha começado utilizando referências como muleta narrativa, realmente amadureceu e soube mostrar que, diferente do que acontece muito por aí, inclusive recentemente com Star Trek: Picard, ela, ao contrário, sabe mesmo é como usar referências como ninguém. Mike McMahan abraçou o artifício sem deixar que sua genial criação perdesse a personalidade própria e sem recorrer a obviedades bobalhonas ou hermetismos exagerados para fazer os olhinhos dos geeks de plantão brilharem, alcançando o que talvez seja o equilíbrio perfeito entre uma coisa e outra.

No Small Parts não tem o grau de ambição de Crisis Point ou mesmo de Veritas, já que esses episódios usaram as referências para, metaforicamente falando, colocar Star Trek no banco dos réus, algo que foi efetivado de maneira realmente triunfal, ousada e original, mas o episódio de encerramento de temporada, mesmo seguindo por vias mais, digamos, tradicionais, soube fechar exemplarmente o arco de Mariner, personagem que se firma, em definitivo, como o grande destaque deste primeiro ano. Para fazer isso, o roteiro, escrito pelo próprio showrunner – apenas o segundo, depois de Second Contact – parte exatamente de um “segundo contato” que nos leva diretamente lá para a 1ª temporada da Série Original, além de uma piscadela à série animada de 1973, mais exatamente em A Hora Rubra (The Return of the Archons), com a capitã Carol Freeman e o primeiro oficial Jack Ransom (ele referenciando a “era TOS” como “those old scientists” foi impagável) tentando evitar que Landru tome controle da população novamente, somente para descobrir, depois de retornar à Cerritos, que Mariner e Boimler ainda estão por lá fazendo mais do que o “manual” da Federação permite, levando à revelação ampla e irrestrita do parentesco escondido de todos.

Como afirmei na crítica anterior, realmente não me lembrava que esse segredo sequer existia e fiquei mais surpreso ainda ao descobrir que ele era geral, sequer de conhecimento de Ransom e demais oficiais. O resultado é imediato, justificando sua existência: todos, sem exceção, passam a ver Mariner como alguém que precisa ser bajulada ao máximo, de forma que os canais com a capitã sejam sempre mantidos em aberto, o que obviamente irrita a alferes que logo decide fazer o oposto do que sempre faz, passando a seguir as regras sem qualquer desvio, o que leva até mesmo a uma ótima alteração em sua aparência.

No entanto, o que poderia ser apenas mais um conflito entre mãe e filha logo dá uma guinada inesperada quando a U.S.S. Solvang é destruída, com toda sua tripulação morta, por uma “nave Frankenstein” de Pakleds, alienígenas que aparecerem pela primeira vez em A Nova Geração (Samaritan Snare), inclusive com o mesmo uso “enganoso” deles. Para começar, a escolha de destruir uma nave inteira, não deixando sobreviventes, é um momento ousado em Lower Decks que abre um precedente mais do que interessante para o futuro da série. Além disso, a ação que se segue literalmente coloca Mariner como capitã da Cerritos por alguns minutos como une indelevelmente mãe e filha, com a primeira reconhecendo a necessidade de pessoas como a segunda na Federação que é rotulada pelas duas, em português claro, de excessivamente cuidadosa e conservadora.

E, melhor ainda, a pancadaria é digna dos melhores filmes da franquia, algo que também é raro de se ver em Lower Decks, mas que vem em boa hora, inclusive com Rutherford, sofrendo de um hilário problema com o botão de humor em seu implante cibernético, tendo que usar Badgey (que vimos em Terminal Provocations e que aqui é usado muito bem, sem enrolação) para contaminar a nave inimiga com um vírus. O resultado disso tudo é uma surpresa atrás da outra, cada uma menos esperada que a anterior: a morte de heroica de Shaxs; a destruição do implante cibernético de Rutherford, com sua consequente perda de memória; a ponta de ninguém menos do que a USS Titan capitaneada por William Riker (Jonathan Frakes), com sua primeira oficial e companheira Deanna Troy (Marina Sirtis) e, claro, o cliffhanger com Boimler saindo da Cerritos para trabalhar na Titan. Em outras palavras, esse definitivamente não é o tipo de final que se poderia esperar de uma série animada de teor cômico e isso é absolutamente incrível!

O que definitivamente não funcionou bem e poderia ser completamente excluída do episódio, tornando-o ainda mais dinâmico é a sub-trama do Exocomp (outra referência à Nova Geração) Peanut Hamper com Tendi. Toda essa linha narrativa é bonitinha, mas ordinária, somente para trazer Tendi para a história, mas falhando na tentativa. Essa história, aliás, é ironicamente, exemplo de como não fazer referência, já que ela só existe em função de si mesma, sem adiantar a trama principal e sem gerar nada além daquele momento em que o espectador aponta para a tela e diz algo como “ih, olha lá um Exocomp que apareceu primeiro em The Quality of Life ou coisa do gênero. Por sorte – ou talvez propositalmente, por McMahan saber que esse era o elo fraco – toda essa trama não ocupa muito tempo do episódio, pelo que pode ser devidamente esquecida, mas não completamente perdoada.

No Small Parts faz o improvável e encerra a temporada inaugural de Lower Decks com urgência, inteligência e qualidade, além de alterar o status quo da série por meio de decisões difíceis e raras de se ver em obras do gênero. Mike McMahan definitivamente mostra que ele tinha – e tem – um excelente plano para sua ótima ideia de se abordar os bastidores de uma nave da Frota Estelar, sem precisar recorrer somente a casos da semana ou a personagens que não ganham desenvolvimento algum. O showrunner realmente conseguiu ir aonde muito poucos jamais estiveram em termos de Star Trek e, diria, até mesmo em animações adultas em geral. Vida longa e próspera para a série!

Star Trek: Lower Decks – 1X10: No Small Parts (EUA, 08 de outubro de 2020)
Showrunner: Mike McMahan
Direção: Barry J. Kelly
Roteiro: Mike McMahan
Elenco (vozes originais): Tawny Newsome, Jack Quaid, Noël Wells, Eugene Cordero, Dawnn Lewis, Jerry O’Connell, Fred Tatasciore, Gillian Vigman, Paul Scheer, Jonathan Frakes, Marina Sirtis, Kether Donohue, Jack McBrayer, Rich Fulcher, Kari Wahlgren, Merrin Dungey
Duração: 27 min.

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