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Crítica | Star Trek: Lower Decks – 2X08: I, Excretus

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

Venho dizendo isso há algum tempo sobre Lower Decks, mas vale repetir: uma das habilidades mais valiosas de Mike McMahan no comando desta série é sua capacidade quase sobrenatural de equilibrar narrativas baseadas em referências variadíssimas à franquia Star Trek e histórias que podemos considerar com inéditas, moldadas para desenvolver especificamente sua criação sobre os personagens que normalmente servem de “extras” neste fascinante universo. Basta ver a 2ª temporada para constatar esse aspecto, já que ela começou fortemente dependente – e digo isso de forma benigna! – de uma contextualização pregressa maior, somente para, aos poucos ir se desprendendo do cânones estabelecido para criar mitologia própria.

I, Excretus, já no título uma referência direta ao nome Borg de Jean-Luc Picard, Locutus, há um retorno à estrutura carregada nas referências e, mais uma vez, de maneira inteligente, bem costurada em um roteiro hilário e enlouquecido que coloca oficiais e alferes em simulações virtuais que invertem seus papeis na hierarquia da Frota Estelar sob a supervisão da pandroniana Shari Yn Yem (Lennon Parham), que tem como objetivo aberto graduar a tripulação da Cerritos e secreto reprovar todo mundo de forma a mostrar como o sistema dela é imprescindível. Para começo de conversa, jamais esperaria ver um pandroniano novamente, raça alienígena capaz de dividir seus corpos em três seções e que apareceu somente em Star Trek: A Série Animada, da década de 70 e Parham está excelente dando voz à personagem que mais parece uma apresentadora de show de calouros, mas com objetivos sinistros.

Além disso, não só a inversão da lógica entre oficiais e subalternos é excelente, com uma “conclusão” falsa de que o objetivo verdadeiro era unir mais ainda a tripulação já que cada lado passaria a conhecer as agruras do outro (isso seria verdade em um típico episódio clássico de Star Trek, não tenham dúvida), como os vários casulos simuladores são oportunidades mais do que perfeitas para basicamente condensar a franquia inteira em exemplos de situações esdrúxulas que cada personagem tem que lidar. Com isso, temos Mariner tendo que lidar com “viagem no tempo” para a época do faroeste e com o famosos Universo Espelho, Tendi precisando facilitar a eutanásia de um Klingon desenganado, só que, claro, da maneira mais violenta possível, Rutherford tendo que dar uma de Spock ao final de A Ira de Khan e assim por diante, com todos falhando miseravelmente pelas razões mais engraçadas como é o caso de Rutherford que sequer consegue abrir a porta da sala do motor de dobra. Apenas Boimler é bem sucedido em sua simulação envolvendo os Borgs, com direito a Alice Krige em uma ponta reprisando seu papel de Rainha Borg de Primeiro Contato, mas sua busca pela perfeição o leva a ficar horas no holopod reprisando a aventura como Phil em Feitiço do Tempo, sempre com mínimos incrementos na percentagem de sucesso a cada vez que ele adiciona um elemento extra em sua fuga do Cubo Borg.

Do lado dos oficiais transformados em alferes, é absolutamente hilário vê-los primeiro sem fazer nada em suas acomodações espartanas lá nos decks inferiores e, depois, tendo que cumprir tarefas absolutamente supérfluas como empilhar caixas enquanto, do outro lado da porta, a nave em que estão precisa enfrentar as maiores ameaças. Essa lógica de que os subalternos não fazem nada de importante nos bastidores enquanto os oficiais vão ao fronte de batalha é absolutamente hilária tanto na comparação do que Mariner e companhia normalmente enfrentam nos episódios da série quanto em comparação com o que nós, espectadores, imaginamos que os alferes realmente fazem enquanto Kirk, Spock, Picard, Número 1, Janeway, Sete de Nove e outros lidam com as maiores ameaças.

Mas o bacana é que, em meio à toda a sátira de demole peça a peça toda a tripulação da Cerritos (ou quase, já que Boimler é Boimler!), o showrunner faz absoluta questão de voltar à realidade para mostrar que, apesar de eles serem membros de uma nave de “segunda classe”, não são menos corajosos, em uma demonstração de ternura por sua criação e uma indicação mais ampla de que, em sua visão, não existe tripulação inútil ou ruim na Frota Estelar. A lição que Freeman, seus colegas e subordinados aprendem é exatamente aquela que eles chegam erroneamente sobre os exercícios virtuais de Shari Yn Yem, só que por caminhos bem mais tortuosos. Não é exatamente isso que é Star Trek, no final das contas?

Star Trek: Lower Decks – 2X08: I, Excretus (EUA, 30 de setembro de 2021)
Showrunner: Mike McMahan
Direção: Kim Arndt
Roteiro: Ann Kim
Elenco (vozes originais): Tawny Newsome, Jack Quaid, Noël Wells, Eugene Cordero, Dawnn Lewis, Jerry O’Connell, Fred Tatasciore, Gillian Vigman, Alice Krige, Lennon Parham
Duração: 25 min.

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