Home TVEpisódio Crítica | Star Trek: Lower Decks – 3X02: The Least Dangerous Game

Crítica | Star Trek: Lower Decks – 3X02: The Least Dangerous Game

Sobre elevadores orbitais e predadores.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

Star Trek: Lower Decks é inegavelmente uma comédia, quase uma sitcom que se passa no rico universo Star Trek, mas a série também inegavelmente oferece diversos episódios que vão além dessa estrutura e, em meio a referências mil, consegue discutir assuntos realmente relevantes, incluindo, claro, o que ser um fã de Star Trek, algo que muitos ditos fãs por sequer sabem o que é. Mas, volta e meia, a série oferece, em seu buffet semanal, episódios que mergulham de cabeça na mais pura bobagem e é impressionante como mesmo eles, sob o comando do criador e showrunner Mike McMahan conseguem encaixar-se dentro da estrutura macro da série sem maiores percalços.

The Least Dangerous Game, cujo título, claro, é uma inversão da clássica obra de Richard Connell, é um desses episódios mais voltados para o besteirol que funcionam muito bem dentro da lógica da série animada, especialmente porque uma de suas linhas narrativas, a que envolve Mariner, decorre diretamente do final do episódio anterior em que a Capitã Freeman transfere para o imediato Jack Ransom a responsabilidade de avaliar a alferes em tudo o que ela faz ou deixa de fazer. Nessa parte da história, Mariner, Ransom, Rutherford e Billups partem para consertar um dos elevadores orbitais dos dulainianos, uma raça alienígena que tem o prazer e o hedonismo como bases de sua cultura, em uma sensacional brincadeira com diversas raças estranhas que a franquia já apresentou ao longo de suas décadas. No entanto, apenas para ser “do contra” e testar Mariner, Ransom inverte a lógica e manda os engenheiros para a superfície do planeta, ficando ele e Mariner para fazer o trabalho que eles não dominam.

O resultado disso é o inevitável choque hierárquico entre Ransom e Mariner de um lado e o também inevitável desastre diplomático com os dulainianos que quase faz com que Rutherford e Billups sejam jogados na lava de um vulcão senciente conforme as ordens de um bebê telepático e uma inteligência artificial que dividem o comando do planeta em outro hilário absurdo completo que faz comentários a situações talvez ainda mais absurdas que Star Trek já colocou nas telinhas sem a menor vergonha de ser feliz. Entre saltos orbitais referenciando o longa Star Trek, de 2009, e demonstração dos “gominhos” abdominais de Ransom, tudo acaba bem, claro, mas não sem que diversas gargalhadas sejam arrancadas do espectador.

Na história paralela que se passa na Cerritos, Boimler fica desesperado ao descobrir que Vendome, o alferes azul que foi atravessado por um lança em Temporal Edict, agora é capitão de uma nave da Federação, basicamente, em sua cabeça, destroçando seu planejamento de vida em que nada é feito por acaso, para chegar a exatamente o mesmo posto. Com incentivo quase inocente – e mal interpretado – de Tendi, Boimler resolve mudar de atitude e a dizer sim para tudo o que propõem a ele, começando com uma partida de springball, passando pela participação em um coral e culminando com uma absolutamente hilária sátira da franquia Predador, com o ameaçador alienígena K’ranch (Nolan North), temporariamente preso na Cerritos em razão da falha no elevador orbital, convidando o alferes a ser sua presa em uma caçada pela nave.

Do excelente design da criatura, que conta até com “sangue verde brilhante”, passando pelo ritual pré-caça, até a caçada em si para desespero absoluto de Boimler, tudo funciona muito bem. Até mesmo o momento de alívio que ele tem com a capitão protegendo-o (até saber que é K’ranch que o caça, momento em que ela deixa a coisa rolar) tem um timing cômico excelente graças ao roteiro de Garrick Bernard que é ao mesmo tempo econômico e expansivo (ele cria duas raças novas assim em um estalar de dedos, afinal) e a direção de Michael Mullen que usa a minutagem curta da animação completamente ao seu favor em não deixar o espectador respirar um minuto que não seja para rir de toda a confusão causada.

The Least Dangerous Game é um daqueles episódios soltos de Lower Decks que nasce memorável por saber referenciar a franquia e a própria série de maneira pouco intrusiva e por criar narrativas paralelas igualmente cômicas que funcionam quase à perfeição. Já quero ver mais de K’ranch e dos malucos dos dulainianos nesta temporada ou em temporadas futuras!

Obs: Não encontrei oportunidade orgânica para falar do RPG Bat’leths & BHInuchs que o quarteto protagonista joga no começo e no final do episódio, com direito a direção em vídeo por ninguém menos do que o klingon General Martok (J.G. Hertzler), cortesia da pirataria dos ferengi. Brilhante ideia do roteirista e mais brilhante ainda execução da equipe de animação e voz. Eu só sei que já quero o jogo!

Star Trek: Lower Decks – 3X02: The Least Dangerous Game (EUA, 1º de setembro de 2022)
Showrunner: Mike McMahan
Direção: Michael Mullen
Roteiro: Garrick Bernard
Elenco (vozes originais): Tawny Newsome, Jack Quaid, Noël Wells, Eugene Cordero, Dawnn Lewis, Jerry O’Connell, Fred Tatasciore, Gillian Vigman, Paul Scheer, J.G. Hertzler, Nolan North
Duração: 24 min.

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