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Crítica | Star Trek: Lower Decks – 3X06: Hear All, Trust Nothing

Crossover com Deep Space Nine!

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

Depois de Reflections, episódio que basicamente reinventa o alferes Rutherford e abre espaço para muito desenvolvimento narrativo, era de se esperar que o capítulo seguinte de Lower Decks ignorasse o que vimos e retornasse à estrutura mais solta que é a regra da série. Hear All, Trust Nothing, faz exatamente isso, mas com um excelente bônus por fazer um crossover com Deep Space Nine (carinhosamente conhecida como DS9), a única série da franquia Star Trek que é essencialmente “estacionária”, com os personagens todos situados em uma base espacial construída originalmente pelos belicosos cardassianos e que fica próxima a um buraco de minhoca conectando o espaço da Federação com o Quadrante Gama.

Como Lower Decks é uma série canônica nesse universo ficcional e se passa no ano 2380, ela é posterior aos eventos das sete temporadas de DS9, pelo que, de certa maneira, há muitos spoilers dos eventos lá abordados, mas que, tenho para mim, não estragam o prazer de quem porventura quiser ingressar na série sobre a base comandada por Benjamin Sisko. Por razões que não abordarei aqui para não acrescentar spoilers aos spoilers, durante o episódio a DS9 é comandada pela coronel bajorana Kira Nerys (Nana Visitor retornando ao seu papel), mesma espécie de Shaxs que, conforme é estabelecido, lutou junto com ela contra os cardassianos a ponto de os dois ficarem competindo quem deve mais a vida ao outro por todo o episódio, em uma daquelas divertidas, mas aguerridas, competições entre amigos.

A DS9 é para ser usada como palco para negociações comerciais entre a Federação e os Karemma, do Quadrante Gama que deveriam ser lideradas pela Capitã Nguyen da USS Vancouver que, no último segundo, é enviada para uma missão mais urgente, deixando a completamente despreparada Capitão Carol Freeman, da Cerritos, cuja função era só de apoio, como a líder das conversas diplomáticas. Essa é a desculpa perfeita para que, então, o espectador seja levado para o coração da base espacial, especialmente o bar de Quark (Armin Shimerman, também de volta ao seu clássico ferengi) que, nessa altura do campeonato, tornou-se uma rentável franquia espalhada por diversas bases e planetas. É para lá que se dirigem os alferes Boimler, Tendi e Rutherford, com Boimler – em sua versão ousada, não podemos esquecer – logo envolvendo-se em jogatina e os outros dois fazendo suas tarefas ao lado de Mesk (Adam Pally), um insuportável alferes orion que tem orgulho em dizer que vem de uma espécie conhecida por pirataria espacial, para a vergonha de Tendi, também uma orion.

O que segue daí é uma ótima linha narrativa que lida com identidade, algo que, de certa forma, é também ecoada na história de Mariner que permanece na Cerritos com sua namorada andoriana Jennifer “Jen” Sh’reyan (Lauren Lapkus) em razão de um “sarau” que as amigas de Jen organizaram e que Boimler, Tendi e Rutherford a incentivam a ir. É que, assim como Tendi tem vergonha do passado de sua espécie, Mariner tem vergonha de mostrar quem realmente é para as amigas de sua namorada, especialmente considerando que, como seus amigos deixam bem claro, ela é mandona demais. Gosto muito quando o roteiro de um episódio consegue fazer esse espelhamento e o trabalho de Grace Parra Janney é particularmente bom aqui, pois, apesar do pano de fundo temático ser igual, a execução de cada história é completamente diferente, uma se fiando em um caminhão de referências para realmente fazer um crossover eficiente com DS9 e a outra bem mais íntima, que se passa em apenas uma cabine da Cerritos.

E o melhor é que as duas histórias têm boas reviravoltas – Tendi revela-se como uma pirata em potencial, mostrando habilidades físicas que antes desconhecíamos e Jen diz à sua namorada que o ela queria mesmo era que Mariner chutasse umas bundas para colocar as amigas dela em seus devidos lugares – que também rimam e levam a finais muito satisfatórios. Até mesmo as discussões diplomáticas são bem fechadas, criando um pouco de aventura cômica com Quark metendo-se em uma enrascada com os Karemma em razão de sua “invenção” de um processador de bebidas com tecnologia que não era dele.

Diferente de seu trabalho em Mining the Mind’s Mines, Fill Marc Sagadraca encontra o ritmo ideal entre as histórias e comanda Hear All, Trust Nothing com muita categoria e finesse, abrindo espaço para um número grande de personagens sem perder de vista o que é mais importante. Lower Decks entrega outro episódio “solto” do nível de The Least Dangerous Game, com o divertimento extra de ser um simpático crossover com DS9. Já fico com água na boca para ver como será o anunciado crossover inverso, live-action, de Lower Decks com Strange New Worlds!

Star Trek: Lower Decks – 3X06: Hear All, Trust Nothing (EUA, 29 de setembro de 2022)
Showrunner: Mike McMahan
Direção: Fill Marc Sagadraca
Roteiro: Grace Parra Janney
Elenco (vozes originais): Tawny Newsome, Jack Quaid, Noël Wells, Eugene Cordero, Dawnn Lewis, Jerry O’Connell, Fred Tatasciore, Gillian Vigman, Paul Scheer, Lauren Lapkus, Nana Visitor, Armin Shimerman, Adam Pally
Duração: 26 min.

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