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Crítica | Star Trek: Picard – 1X03: The End is the Beginning

por Ritter Fan
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Remembrance teve a difícil, mas vitoriosa tarefa de reintroduzir Jean-Luc Picard para a audiência moderna, dando conta de uma trama completamente nova e ao mesmo tempo profundamente enraizada na mitologia do adorado personagem de Patrick Stewart. Maps and Legends, por seu turno, carregou no texto expositivo para correr com a contextualização, muitas vezes se socorrendo de conveniências e esquecendo de fazer pleno uso do meio audiovisual. The End is the Beginning, o terceiro episódio seguido dirigido por Hanelle Culpepper, parece fechar a “trilogia introdutória” da 1ª temporada de Star Trek: Picard, introduzindo três novos personagens (na série), desenvolvendo o lado de Soji no cubo Borg e, claro, finalmente colocando o ex-almirante novamente no espaço.

É muita coisa para abordar em tão pouco tempo, sem dúvida, mas o roteiro de Michael Chabon e James Duff consegue equilibrar melhor exposição com ação, entregando um episódio mais redondo que o anterior que, porém, continua com problemas, mais notavelmente o “paraquedismo” de personagens e de saídas fáceis para questões complexas. Mesmo assim, considerando as quase duas décadas que separam a última aparição de Picard em qualquer tela e a retirada do personagem de sua aposentadoria bucólica em seu vinhedo francês, The End if the Beginning, quando visto em conjunto com os capítulos anteriores, estabelece muito bem a premissa da temporada, engajando o espectador nessa nova aventura e prometendo muito para o que vem por aí.

Iniciando com um flashback que marca o fim da carreira do protagonista na Frota Estelar e que estabelece a razão do relacionamento mais do que estremecido dele com a comandante Raffi Musiker, sua segunda em comando (como é visto em mais detalhes no prelúdio em quadrinhos Star Trek: Picard – Contagem Regressiva), que o culpa por abandonar seu posto e basicamente condená-la ao ostracismo, algo que é reiterado pelo doloroso diálogo dos dois no presente, no trailer de Musiker – vivida por Michelle Hurd – no meio de nada com lugar nenhum. O fascinante nesse aspecto é o esforço que a série faz para desconstruir a imagem perfeita que temos de Jean-Luc Picard. O comandante altivo de A Nova Geração dá lugar a um homem extremamente orgulhoso, que não é capaz de enxergar sua própria arrogância. Musiker coloca mais uma pá nessa cova do “Super Picard” quando joga na cara do ex-almirante sua incapacidade de procurá-la depois de tanto tempo, só fazendo quando precisa de um favor particularmente complicado. E quem achar que isso é um desrespeito ao personagem, pensem novamente, pois isso é, na verdade, uma grande homenagem a ele. Perfeição não tem espaço em uma série de valor e essa humanização de Picard é absolutamente essencial para seu personagem funcionar de verdade em tempos modernos, isso sem falar que a exposição dessas suas características negativas está em consonância com o que ele sempre demonstrou ser, mas que as lentes bondosas anteriores apenas procuravam focar nos aspectos positivos.

A introdução de Cristóbal “Chris” Rios (Santiago Cabrera) e de seu divertido holograma de emergência, que é uma versão menos desgrenhada de si mesmo, carece de qualquer sutileza. Depois de uma sugestão da rabugenta Musiker, Picard simplesmente aparece na impecável ponte da nave do piloto que, ato contínuo, ganha alguns minutos contextualizadores – com e sem Picard – que é mais uma amostragem de um roteiro que precisa correr para firmar sua história. A questão é que isso poderia ser evitado se essa trilogia inicial tivesse balanceado a aparição de seus personagens, talvez trazendo Musiker mais para o começo, o que permitiria que Rio entrasse mais cedo, sem que fosse necessário recorrer a diálogos que didaticamente estabelecem quem ele é e o que ele pensa da Frota Estelar em geral e de Picard em particular. Ou isso ou esses elementos poderiam simplesmente ser introduzidos mais vagarosamente nos próximos capítulos. Seja como for, o personagem em si parece ser interessante e Cabrera parece muito à vontade no papel.

A ação no Château Picard, com os romulanos assassinos chegando para eliminá-lo, por seu turno, foi um ótimo momento de ação pura, com excelentes coreografias que, muito acertadamente, mantiveram Picard comendo pelas beiradas, só se aproveitando dos estragos causados pelos mais do que eficientes Laris e Zhaban. Isso é essencial para a verossimilhança da série, que não pode simplesmente jogar um octogenário no meio da pancadaria sem tornar tudo ridículo. Tudo bem que a entrada providencial da doutora Agnes Jurati foi o típico momento clichê para fazer olhos rolarem, mas esse é um pecado menor no contexto geral.

Lá no cubo Borg, que tem a ação paralelizada – em seu fim – com o que acontece na residência de Picard, vemos Soji começar a despertar para o que realmente é: uma androide. A forma como isso é executado, porém, pareceu-me desnecessariamente confusa, a começar pela (re)introdução de Hugh, o ex-drone Borg vivido mais uma vez por Jonathan Del Arco, que deu vida ao personagem em três episódios de A Nova Geração. Agora diretor do Artefato, ele mostra sua admiração por Soji, permitindo-a que entreviste uma romulana que também fora drone Borg. Tudo bem que o objetivo era reiterar a importância de Soji para a temporada, inclusive apelidando-a de “A Destruidora”, mas a trama, aqui, pareceu-me cheia de idas, vindas, explicações estranhas e invencionices que atrapalharam a fluidez da narrativa, algo que nem mesmo a direção firme de Culpepper conseguiu corrigir com eficiência. De certa forma, pareceu um enorme derramamento de mitologia em questão de pouquíssimos minutos que acabou quebrando a tensão do momento.

Seja como for, agora a equipe de Picard parece estar formada, com um objetivo mais ou menos estabelecido (conveniente pacas deixar Musiker achar Bruce Maddox offscreen, não?), a série pode finalmente começar de verdade, sem precisar enxertar mais história pregressa ou salpicar a trama de elementos complicadores só pela vontade de complicar. Por vezes, a simplicidade é o melhor caminho e JL, com toda sua calma e empáfia, parece saber bem disso.

Star Trek: Picard – 1X03: The End is the Beginning (EUA, 06 de fevereiro de 2020)
Desenvolvimento: Kirsten Beyer, Akiva Goldsman, Michael Chabon, Alex Kurtzman (baseado em personagens criados por Gene Roddenberry)
Direção: Hanelle Culpepper
Roteiro: Michael Chabon, James Duff
Elenco: Patrick Stewart, Alison Pill, Isa Briones, Michelle Hurd, Santiago Cabrera, Harry Treadaway, David Paymer, Jamie McShane, Tamlyn Tomita, Orla Brady, David Carzell, Wendy Davis, Chelsea Harris, Peyton List, Ann Magnuson, Marti Matulis, Jonathan Del Arco
Duração: 43 min.

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