Home TVEpisódio Crítica | Star Trek: Picard – 2X03: Assimilation

Crítica | Star Trek: Picard – 2X03: Assimilation

Uma aventura atual.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

Em Assimilation, o cliffhanger do episódio anterior se resolve rapidamente, com o grupo capitaneado por Picard viajando no tempo para o ano de 2024, estacionando no verão de uma Los Angeles contemporânea. Como havia dito na crítica de Penance, acho um desperdício a falta de exploração do mundo distópico e autoritário do futuro. Tínhamos uma mesa de ótimos elementos narrativos, como a dinâmica do grupo em uma realidade em que são vistos com personalidades e características diferentes; a linha de humor com as piadas-referências e as pequenas situações de fingimento; o tom tematicamente crítico com o regime fascista em oposição aos ideais da Federação; o fantástico design de produção; e, claro, uma narrativa cheia de suspense. Bem, os roteiristas decidiram nos dar apenas um episódio disso, mudando o foco para um ambiente próximo da nossa realidade atual. Assimilation demonstra que também há espaço para uma aventura divertida em 2024, ainda que menos interessante e muito mais estagnada.

Este terceiro episódio basicamente organiza a narrativa, delineando o objetivo principal da missão que é encontrar o “watcher” (vigia) e descobrir qual evento transformou a linha temporal, também projetando as subtramas e arcos pessoais de cada membro da tripulação. Elnor morre logo no início do episódio, num momento, na minha opinião, sem o impacto emocional desejado e completamente mal explorado em termos de reação grupal para além de Raffi, mas entendo a escolha aqui para causar algum tipo de urgência na trama. A questão emocional e o excesso de raiva de Raffi é o principal elemento dramático a sair disso, enquanto o texto também explora como Sete de Nove lida com seu retorno à humanidade (o arco pessoal mais interessante além de Picard) e a luta de Jurati com seus demônios mentais, como havia acontecido com os Romulanos e agora acontece com a Rainha Borg. Picard é um pouquinho escanteado no episódio com enfoque coadjuvante ao mesmo tempo que Ríos assume um papel mais cômico em uma realidade cheia de preconceitos com diferentes raças.

Aliás, a escolha por um ano próximo do nosso é usada para abranger temas atualmente em pauta e que a franquia sempre abordou, como poluição, intolerância e diversidade, mas de modo explicitamente bobo. Personagens apontando para uma floresta em chamas e uma aglomeração de sem-teto ou latinos sendo tratados com discriminação pelo força policial, não demonstram um pensamento criativo exatamente cativante ou minimamente satisfatório. O roteiro aqui tem a palavra genérico estampado na maioria das situações temáticas, assim como nas aventuras banais e entediantes, como Sete de Nove e Raffi subindo numa torre fingindo tirar uma foto ou então Ríos flertando num hospital. É inacreditável que várias cabeças pensantes escolheram este tipo de tratamento narrativo ao invés da intrigante realidade distópica. Vai entender.

São as cenas entre Picard, Jurati e a Rainha Borg que me fazem considerar Assimilation um capítulo razoavelmente bom. A situação que dá título ao episódio contém boas doses de mistério em seu jogo por busca de informações e escolhas difíceis, inclusive com certa tensão em torno da quase-assimilação da doutora. O papel de interação ativo da Rainha Borg, além da interpretação perversamente carismática de Annie Wersching, proporciona ótimos embates com Picard, enquanto Alison Pill continua arrasando no mix de humor, curiosidade e conflito interno de Jurati. A situação de suspense com o trio, aliada com os ótimos efeitos especiais do episódio e um trabalho de direção competente de Lea Thompson (especialmente nos enquadramentos no interior da nave), seguram um episódio chatinho com suas preparações, problemas de continuidade de tom narrativo, e principalmente algumas aventuras pouco satisfatórias numa Los Angeles quente e sem perspectiva de um futuro melhor.

Star Trek: Picard – 2X03: Assimilation (EUA, 17 de março de 2022)
Desenvolvimento: Kirsten Beyer, Akiva Goldsman, Michael Chabon, Alex Kurtzman (baseado em personagens criados por Gene Roddenberry)
Direção: Lea Thompson
Roteiro: Terry Matalas
Elenco: Patrick Stewart, Alison Pill, Evan Evagora, Michelle Hurd, Santiago Cabrera, Isa Briones, Jeri Ryan, Orla Brady, Annie Wersching, John de Lancie
Duração: 57 min.

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