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Crítica | Star Trek: Picard – 2X08: Mercy

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por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

É meio irônico que Mercy seja um episódio quase inteiramente sobre um interrogatório, considerando que passei as últimas críticas de Picard reclamando de como todos os conflitos da obra são resolvidos através de conversinhas (e muito fanservice) e não de uma sensação orgânica e natural de desenvolvimento de tramas e dramaturgia. Podemos ver muitos dos mesmos problemas aqui, com o mistério em torno de Q sendo resolvido num diálogo rápido com Guinan, ou então como Picard passa mais um capítulo inteiramente confinado num local. Pelo menos comigo, essa forma de construção literal e por muitas vezes estática da missão temporal oferece uma sensação de anticlímax e pouca imersão na história, principalmente na falta de um tom de aventura e ficção científica que acompanham esse tipo de narrativa.

Bem, eu já tinha dúvidas sobre a mais nova subtrama numa temporada cheia delas, pois a dramatização em torno do FBI soa pouco interessante, pouco criativa e pouco importante dentro da linha principal da missão (que parece ter sido esquecida, junto de Renée). Esses receios se concretizaram, demonstrando a inutilidade da introdução deste núcleo, afinal, todo esse lance com o FBI parece ter sido criado para nos dar a metáfora rasa de que “todos os humanos estão presos no passado” (com explicação verbal e tudo, como se a audiência não soubesse fazer interpretações psicológicas) no flashback do agente interrogando Picard. Algo que, aliás, já foi apresentado e resolvido com os traumas infantis do protagonista, e que vem sendo tema dos dramas de outros coadjuvantes (Renée, Sete de Nove) e da própria viagem no tempo em si. Por que jogar isso na história novamente com um personagem aleatório em um episódio que parece filler?

Não sei nem definir se Mercy é verborrágico (porque fica martelando um tema que já vinha sendo desenvolvido) ou se é só pura enrolação, já que a trama do FBI não progride a narrativa principal de qualquer forma. Imagina o seguinte cenário: Q aparece quando foi convocado no bar (uma conveniência do texto que eu sequer gosto), e não no porão do FBI. Perceberam? A narrativa estaria no mesmo ponto, sem todo esse núcleo de interrogatório, e ainda nos proporcionaria mais um dos ótimos embates entre Picard e Q (a revelação de mortalidade de Q com Picard no mesmo ambiente também daria uma nova dimensão para o momento). Sei que não é necessariamente “meu papel” enquanto crítico ficar dando pitaco em como a história deveria prosseguir, mas é difícil não exercer esse tipo de imaginação quando a narrativa não tem foco ou senso de progressão.

Então esta escolha por aglutinar novas subtramas sem propósito, incluindo aí o romance pastelão de Rios ou os experimentos de Soong, demonstram a falta de qualidade do roteiro da série. A narrativa principal sobre salvar o futuro parece nem importar tanto assim, sendo explorada aos trancos e barrancos, com aparições pontuais de Q e certas simplificações bobas da aventura (a convocação do antagonista; o fato dele explicar seu dilema; a parceria forçada entre a Borg e Soong; aquela equipe de forças especiais brotando na história; etc). A trama da Rainha Borg, aliás, parece ser mais importante e urgente do que a missão Europa, o que é tanto outra mudança de curso estranha da história (gostava mais da dinâmica da rainha no grupo do que como antagonista) quanto desinteressante, seja na aventura urbana de Sete e Raffi, seja nas reviravoltas cretinas da temporada (me importo tanto com a assimilação daqueles soldadinhos quanto com Picard sendo preso pelo FBI…). Mercy pelo menos não tem os momentos constrangedores de outros episódios, mas mantém o ritmo apático, os dramas bobos (Rios que o diga), a aleatoriedade de como a narrativa é desenvolvida e, claro, o desinteresse com os eventos da missão.

Star Trek: Picard – 2X08: Mercy (EUA, 21 de abril de 2022)
Desenvolvimento: Kirsten Beyer, Akiva Goldsman, Michael Chabon, Alex Kurtzman (baseado em personagens criados por Gene Roddenberry)
Direção: Joe Menendez
Roteiro: Cindy Appel
Elenco: Patrick Stewart, Alison Pill, Evan Evagora, Michelle Hurd, Santiago Cabrera, Isa Briones, Jeri Ryan, Orla Brady, Annie Wersching, John de Lancie, Brent Spiner
Duração: 57 min.

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