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Crítica | Star Trek: Picard — 2X09: Hide and Seek

Escondam-se desta série...

por Kevin Rick
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Está difícil encontrar novas formas de criticar a falta de qualidade em Picard e sua infinita redundância e futilidade narrativa. Depois da chatice da semana passada em torno do interrogatório do FBI e sua trama sem impacto na série, Hide and Seek vem como um episódio que propõe ação no embate da tripulação com Jurati/Borg e Soong, junto de seus lacaios assimilados, mas acaba sendo mais um capítulo de lenga-lenga que não progride a narrativa principal e não traz uma história com qualquer semblante cativante.

Gostaria de começar pontuando os diálogos do episódio. O texto da série em torno de conversações vem perdendo naturalidade, sutileza e criatividade desde Assimilation, com este novo episódio chegando ao auge do melodrama e da cafonice. Personagens param a todo momento para fazer discursos e monólogos que parecem ter saído direto dos piores livros de autoajuda, tendo especial destaque negativo para a resolução ridícula do conflito interno de Jurati e a Rainha Borg, com a doutora fazendo uma palestra vazia sobre solidão que muda o coração da antagonista (quanto anticlímax e constrangimento nessa sequência). Outros momentos como os enunciados superficiais sobre amor de Rios e seu romance adolescente; Picard e seu drama leviano sobre luto; e as falas canastrões de Soong, se encaixam num roteiro desinteressado em comunicação inteligente e qualidade dramatúrgica – não se esqueçam que a temporada começou fazendo alusões a Shakespeare (!).

Também tenho problemas nos momentos narrativos que esses discursos são inseridos. Por exemplo, Picard decide reviver traumas e contar histórias sobre sua infância durante uma perseguição, criando uma encenação que soa dramaticamente deslocada e que tira qualquer crescente de tensão e diversão com o ataque de Soong. Isso acontece recorrentemente no episódio, com Raffi e Elnor, na saída e no retorno de Rios, e, claro, com Jurati e a Rainha Borg. A mesma crítica vale para a terrível montagem dos flashbacks de Picard, distribuídos aleatoriamente e irritantemente na história e, sejamos honestos, sem muita necessidade considerando que tivemos um episódio inteiro sobre isso. Até acho interessante o desfecho com o suicídio da mãe de Picard, mas o núcleo foi muito mal elaborado e explorado para se ter algum tipo de efeito dramático. Aliás, pelo menos comigo, não tenho importado com Picard e sua roda de terapia e conversinhas há alguns episódios.

Se tudo isso não fosse o bastante, a direção do episódio é tão ruim quanto o roteiro. Até acho algumas coreografias razoáveis para um seriado, mas a câmera sempre em plano-médio e a falta de criatividade visual para momentos frenéticos (notem como as sequências de tiroteios ou as situações de perseguições são estáticas) criam a experiência de puro tédio com esses mercenários baratos carregando luzes verdes. O fato da fotografia ser horrivelmente escura e apática ou de Soong e seus lacaios genéricos não causarem qualquer tipo de urgência também não ajuda.

Também existe um descaso enorme com mitologia. Para todo aquele receio com efeito borboleta, os personagens têm feito uma chacina com a linha temporal, não acham? Isso não é problematizado e nem citado na história, mais interessada num sentimentalismo barato do que construção de mundo, a deliciosa nerdice de ST e boas tramas sci-fis – se não me enganei, eles acabaram de liberar uma Borg no século XXI e “tá tudo bem”. E isso sem falar no fato de nunca trazerem a tona que Picard é um ciborgue, ou então em como a maioria das escolhas dos personagens soam estranhas para o que conhecíamos deles anteriormente – por exemplo, não me lembro da Raffi ser essa mulher super emotiva ou de Rios ser incrivelmente desleixado, seja nesta trama boba de namorada, seja em momentos como aquele da arma com Soong.

De alguma forma, Hide and Seek fica ainda pior quando lembramos que este é o penúltimo episódio da temporada e que passamos as últimas três semanas com zero desenvolvimento da trama principal. O capítulo final terá que resolver tudo na correria, provavelmente com as mesmas facilitações narrativas que vemos aqui, como os discursos vazios, reviravoltas tediosas, direção medíocre e inexistente mitologia. Tá difícil. Pelo menos veremos o Q.

Star Trek: Picard – 2X09: Hide and Seek (EUA, 28 de abril de 2022)
Desenvolvimento: Kirsten Beyer, Akiva Goldsman, Michael Chabon, Alex Kurtzman (baseado em personagens criados por Gene Roddenberry)
Direção: Michael Weaver
Roteiro:  Matt Okumura, Chris Derrick
Elenco: Patrick Stewart, Alison Pill, Evan Evagora, Michelle Hurd, Santiago Cabrera, Isa Briones, Jeri Ryan, Orla Brady, Annie Wersching, John de Lancie, Brent Spiner
Duração: 57 min.

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