Home FilmesCríticas Crítica | Star Trek: Sem Fronteiras (Com Spoilers)

Crítica | Star Trek: Sem Fronteiras (Com Spoilers)

por Guilherme Coral
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Sabotage

Chegamos, então, ao clímax, o ataque de Krall a Yorktown, revelando que os temores de Magro, estabelecidos lá atrás, foram justificados. O globo de neve do espaço sofre nas mãos do antagonista enquanto vemos a formulação do melhor plano imaginável: a utilização da música para destruir a frota inimiga, definitivamente mil pontos para a criatividade e, mais uma vez, pontos para a coesão por ter inserido o rádio de Jaylah lá atrás. A utilização de Sabotage, contudo, não é simplesmente em virtude de seu óbvio encaixe com a situação – já a havíamos escutado antes no primeiro longa-metragem da nova linha temporal – uma óbvia homenagem e que justifica o “boa escolha” proferido por Jim assim que a canção se inicia. A direção de Lin mais uma vez prova seu valor, oscilando entre planos mais abertos e outros mais fechados a fim de trazer uma perfeita percepção do que ocorre em tela – em momento algum nos vemos perdidos. A sequência ainda não peca pelo exagero e dura o quanto deve durar, afinal, o embate final não ocorre no espaço e sim em Yorktown.

Antes disso, porém, a identidade de Krall é revelada e sua humanização é completada, enfim – novamente sua aparência se altera e os traços do humano que ele fora um dia se tornam mais nítidos do que nunca. Uhura ganha novamente o devido destaque e é a responsável pela revelação, o que perfeitamente se encaixa com o que já sabemos da personagem; afinal, ela é profissional em identificar as nuances de transmissões, como já fora apresentado desde o longa de 2009. Isso também explica o porquê dessa realização não ter ocorrido antes, visto que a tenente somente tem contato com a gravação da U.S.S. Franklin agora.

Quando não achávamos que o filme poderia nos surpreender mais, ganhamos uma incrível sequência que faz uso da gravidade artificial da estação espacial e que, surpreendentemente, faz todo o sentido, já que não há exatamente em cima e embaixo dentro de Yorktown. Jim, enfim, percebe o que poderia se tornar e aqui já podemos sentir que sua decisão de deixar a capitania da Enterprise fora alterada. Elba mais uma vez mostra seu talento e traz um triste retrato de um homem que caiu da glória, de como fora tomado pela loucura, provocada pela solidão e sensação de abandono. O roteiro ainda faz uma pequena brincadeira nesse momento, quando Krall olha para seu reflexo no caco de vidro e nos faz acreditar, por um breve instante, que ele irá, de alguma forma, redimir-se – apenas para pegar o objeto e tentar assassinar Kirk com ele, evitando, portanto, cair no velho clichê do vilão que percebe o que se tornou.

A amizade entre Jim e Spock é, então, sabiamente retomada aqui e Spock, também, encerra seu dilema ao ouvir de Kirk “o que eu faria sem você?”, apenas mais uma das falas que revelam o quanto a relação dos dois está bem estabelecida, nos fazendo sentir como se estivéssemos diante, de fato, de uma amizade de anos. Além disso, mais uma vez a vitória é alcançada em virtude de um esforço conjunto, por meio de um roteiro que sabe dar a devida participação a cada um dos tripulantes da Enterprise.

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A Fronteira Final

O desfecho, assim, amarra muito bem tudo o que vimos nos 122 minutos de projeção, retomando a conversa entre Kirk e McCoy logo no início do longa-metragem. A festa do capitão ocorre e já podemos ver a diferença de sua disposição, visto que agora ele parece entusiasmado em estar no meio de sua equipe. Os conflitos internos do capitão e seu primeiro oficial são finalizados de forma simples e íntima, ao passo que sentimos como se ambos soubessem do que o outro fala, sem ser preciso, efetivamente, dizer nada – há uma grande cumplicidade entre ambos e que melhor maneira de ilustrar isso que pelo olhar dos dois direcionado à nova Enterprise sendo construída? Prontamente, eles são acompanhados por toda a tripulação, demonstrando a união deles, o que remete à conversa de Uhura e Krall, ainda em Altamid, acerca do que os torna fortes.

Star Trek: Sem Fronteiras finaliza, portanto, nos deixando com um indiscutível gosto de quero mais, com a vontade imediata de reassistir ao que, sem dúvidas, é o melhor filme da Kelvin Timeline – uma prova do poder de um roteiro coeso e criativo e de uma direção que sabe respeitar o que veio antes, ao mesmo tempo que traz sua própria linguagem. Temos aqui uma linda homenagem aos cinquenta anos de Jornada nas Estrelas, que consegue fazer belas referências à toda a franquia, inclusive uma saudosa fotografia da tripulação original. Dito isso, não poderíamos enxergar um diferente final que aquele com as clássicas palavras:

Space, the final frontier. These are the voyages of the starship Enterprise. Its mission: to explore strange new worlds, to seek out new life and new civilizations, to boldly go where no man has gone before.

Star Trek: Sem Fronteiras (Star Trek Beyond, EUA – 2016)
Direção: Justin Lin
Roteiro: Simon Pegg, Doug Jung (baseado em série criada por Gene Roddenberry)
Elenco: Chris Pine, Zachary Quinto, Karl Urban, Zoe Saldana, Simon Pegg, John Cho, Anton Yelchin, Idris Elba, Sofia Boutella, Joe Taslim, Lydia Wilson, Deep Roy, Melissa Roxburgh, Anita Brown, Doug Jung, Danny Pudi, Kim Kold
Duração: 122 min.

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