Home TVEpisódio Crítica | Star Trek: Strange New Worlds – 1X06: Lift Us Where Suffering Cannot Reach

Crítica | Star Trek: Strange New Worlds – 1X06: Lift Us Where Suffering Cannot Reach

Onde a Federação não alcança.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

Lift Us Where Suffering Cannot Reach é o primeiro episódio predominantemente focado em Pike desde o piloto da série, algo que eu vinha ansiando e, bem, como sempre, Strange New Worlds não decepciona. A premissa do episódio começa de forma básica, com a Enterprise em uma missão de rotina, até que um pedido de socorro leva a tripulação para um conflito no sistema Majalan, uma área espacial que o próprio Pike visitou uma década antes. Como obra do destino, o capitão acaba se reencontrando com uma antiga paixão, a misteriosa Alora, uma mulher encarregada de proteger uma criança importante da sua cultura que se tornou alvo de sequestros.

De início, acreditei que estivéssemos diante de um cenário de diplomacia, mas a história do episódio é centrada em dilemas pessoais para Pike, desde seu trágico futuro que paira sua decisões, uma chocante traição romântica, até elementos morais que provocam o protagonista, o espectador e os fundamentos de Star Trek. Gene Roddenberry sempre idealizou uma visão otimista e utópica para seu universo, linguagem bem vista pelo tom esperançoso desta série que tem tantas semelhanças com o espírito clássico da franquia, mas ST também nunca negou a malignidade do universo, algo explorado, por exemplo, no excelente Memento Mori.

Este episódio, porém, se não contém o mesmo trabalho de tensão, traz algumas camadas sombrias para o lado ético e subverte a filosofia de idealismo. Não é sobre um inimigo cruel que é vencido, e sim sobre um sentimento derrotista, quase cínico, de que a Frota Estelar não salva todos, tanto aqueles fora de sua jurisdição quanto alguns que fazem parte da sua aliança. Estou falando, claro, da revelação de que o mundo de Alora sacrifica uma criança para manter sua sociedade, tecnologia e seu conforto intactos, e que, infelizmente, Pike não pode fazer nada, inclusive apenas engolir calado quando a personagem questiona o sofrimento de crianças que fazem parte da Federação.

Superficialmente, parece uma estranha mensagem para Star Trek, certo? Talvez, mas também é uma abordagem extremamente interessante e corajosa do roteiro em suas metáforas de Terceiro Mundo e de como o privilégio de alguns nasce da exploração de outros. É um tratamento dramático e social bastante realista do episódio, de certa forma olhando criticamente para a falha da Federação e da Enterprise ao mesmo tempo que olha para nosso mundo imperfeito, colocando como tópico o questionamento se o sacrifício deliberado de uma pessoa vale a sobrevivência de tantos outros sem rostos. A história mostra o próprio Terceiro Mundo do planeta numa colônia pobre, demonstrando a hipocrisia dos Majalans, mas o final não escolhe lados. Ninguém vence, só resta a reflexão.

A condução narrativa até a revelação é calma e introspectiva, sempre mantendo uma atmosfera de mistério e de segredos não ditos que mantém os eventos instigantes, além de trazer temas como cooperação e segurança para as interações dos personagens, seja o lado mais emocional com M’Benga e sua filha, seja a investigação mais cômica entre Uhura e La’an. Também gosto da pessoalidade do texto e da direção com Pike e Alora, se aprofundando no capitão e seus receios, assim como o tempo que o episódio nos dá para conectarmos com o garotinho, deixando os minutos finais ainda mais impactantes. A produção dá um show de construção nesta sequência, começando pela celebração cultural, indo para o choque e o horror do sacrifício, e terminando num profundo embate de perspectivas entre o casal.

Os dois episódios protagonizados por Pike são quase antíteses, com o primeiro capítulo sendo uma belíssima propaganda de utopia, enquanto Lift Us Where Suffering Cannot Reach é uma retumbante exclamação da inevitabilidade da derrota. Que ambos os episódios sejam tão orgânicos em suas propostas é um testamento para a qualidade de Strange New Worlds. O momento final de Pike é lindamente melancólico, encapsulando o sentimento de tristeza soturna do episódio. O desfecho e a mensagem podem não parecer Star Trek, mas, vejam, nosso capitão faz a escolha correta para os ideais da Federação. Ele apenas… perdeu. E no meio disso tudo, podemos notar como Pike nunca negará sua essência, o que também mostra que seu destino está selado.

Star Trek: Strange New Worlds – 1X06: Lift Us Where Suffering Cannot Reach (EUA, 09 de junho de 2022)
Desenvolvimento: Akiva Goldsman, Jenny Lumet, Alex Kurtzman (baseado em personagens criados por Gene Roddenberry)
Direção: Andi Armaganian
Roteiro: Robin Wasserman, Bill Wolkoff
Elenco: Anson Mount, Ethan Peck, Jess Bush, Christina Chong, Celia Rose Gooding, Melissa Navia, Babs Olusanmokun, Bruce Horak, Rebecca Romijn
Duração: 57 min.

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