Home TVEpisódio Crítica | Star Trek: Strange New Worlds – 1X09: All Those Who Wander

Crítica | Star Trek: Strange New Worlds – 1X09: All Those Who Wander

Ripley tiraria de letra!

por Ritter Fan
3,7K views

  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

Em essência, All Those Who Wander é um episódio que tem todo o feitio de fim de temporada e que teria ficado ainda melhor se fosse duplo, realmente dando tempo ao tempo para uma mais cuidadosa construção da atmosfera de terror espacial que extrai elementos ora de Alien, O 8º Passageiro, ora de Aliens, O Resgate, com pitadas de O Predador, tendo fofíssimos Gorn bebês e adolescentes como os monstros à caça da equipe da Enterprise comandada pelo Capitão Pike que vai investigar o que aconteceu com a USS Peregrine. Afinal, além da tragédia ao final que ceifa a vida de Hemmer, há diversas mudanças de status quo que “gritam” final de temporada a ponto de ser até estranho, agora, imaginar que ainda haverá um episódio pela frente, mesmo que eu não duvide que a qualidade alta do ano inaugural da série seja devidamente mantido.

Outro elemento bem-vindo que também aponta para “final de temporada” é o fato de haver uma grande convergência narrativa dos aspectos reincidentes da temporada que servem de pano de fundo para a estrutura de “missões da semana”. Há o final do arco de Hemmer, obviamente, que contribui diretamente para o final do arco inicial da cadete Uhura que, ao que tudo indica, com o último conselho de seu mentor, aquietar-se-á mesmo na Enterprise como oficial de comunicações, com direito até mesmo aos efeitos sonoros da Série Original. Há, igualmente, o que parece ser o final do arco inicial de La’an que deixa a Frota Estelar para levar a sobrevivente dos Gorn até seus familiares. E, claro, há a “humanização” de Spock quando ele deixa um pouco de lado a frieza vulcana e deixa seus sentimentos invadirem seu coração, o que também abre espaço para sua aproximação da ainda enfermeira Chapel. Além disso, como a reutilização dos Gorn (não)vistos pela primeira vez na série em Memento Mori, fica aquela impressão de que estamos diante dos grande vilões recorrentes em oposição à Pike e sua tripulação.

Ou seja, o episódio inteiro parece muito preocupado em avançar com a narrativa macro e reduzir um pouco a impressão de que a série é composta por episódios soltos, pois ela definitivamente não é, ainda que consiga encontrar um bom equilíbrio entre um estilo e outro. E essa preocupação é ao mesmo tempo seu ponto forte e seu ponto fraco. Forte porque a atmosfera de horror, por mais familiar que ela nos seja, serve como um potente pano de fundo para tudo o que o episódio se propõe a fazer, novamente lidando com o estilo de comando em colegiado que Pike tanto adora exercer, especialmente se houver comida envolvida (já repararam como se come nessa série?) e usando cada personagem central de acordo com suas características mais marcantes, com exceção de Una e Ortegas que, infelizmente, são jogadas para escanteio aqui.

Mas tenho que abordar o lado fraco do capítulo, já que ele peca em justamente querer fazer muito em muito pouco tempo. Não dá para construir uma boa atmosfera de suspense no estilo “monstro mata um de cada vez” quando o coração da ação fica apertado em poucos minutos entre os momentos introdutórios e o dénouement. Além disso, All Those Who Wander faz uso de sua própria versão dos famigerados Camisas Vermelhas, ou seja, daqueles personagens da franquia – normalmente trajando uniformes desta cor – que só existem para serem eliminados sem cerimônia. No lugar do uniforme colorido, o que há é a introdução de dois personagens que são levados para a missão unicamente para virarem refeição dos bebês Gorn em mortes que, francamente, falham em criar sequer uma nesga de suspense ou de tensão por serem telegrafadas em detalhes a partir do momento em que sangue aos borbotões é mostrado nos arredores da Peregrine.

Ah, mas isso é normal na franquia. – alguns dirão. Hummm, sim e não. Era normal em priscas eras, verdade. Hoje, isso não é mais necessário, especialmente porque Strange New Worlds faz uma transição muito eficiente entre estilo antigo e estilo moderno, pelo que teria sido no mínimo uma demonstração de cuidado narrativo se os dois falecidos tivessem aparecido de maneira razoavelmente decentes em outros episódios. Nem eram necessários papeis de destaque, mas, apenas, que eles não já surgissem com uma seta vermelha piscante por sobre suas cabeças dizendo algo como “morrerá em breve”. Afinal, não é como se a produção não soubesse o que iria acontecer no nono episódio antes de começar a filmar, não é mesmo? E algo parecido vale para a retratação de Sam Kirk – irmão de James T. Kirk, que dará as caras na segunda temporada – já que ele é mais um da irritante categoria “aparece quando conveniente”, só que com o agravante de ser retratado como um Salsicha da vida, ou seja, medroso, ainda que com arroubos de coragem, característica que tenho problemas para aceitar em um oficial da Frota Estelar.

Além disso, Hemmer é uma perda enorme de potencial, pois não só ele era o único alienígena com efetiva aparência alienígena que tinha destaque na série, como ele sequer havia ganhado um episódio dedicado a ele, servindo mais como conselheiro de Uhura e de “mago” no estranho episódio anterior. E, como se isso não bastasse, o que sabíamos dele era, como diria Spock, fascinante. Havia muito espaço para ele ganhar mais desenvolvimento e também mais peso na tripulação para que seu sacrifício à la final de Alien 3 pelo bem da maioria – em uma não muito sutil piscadela ao que Spock um dia faria, claro – fosse mais sentido pelo espectador. Não advogo, porém, que ele deveria sobreviver, pois alguém relevante precisava morrer em um episódio como esse, mas sim que, assim como os Camisas Vermelhas, Hemmer deveria ter tido sua presença mais sentida antes de ser despachado em definitivo (presumindo, claro, que essa morte é definitiva, pois hoje eu não coloco minha mão no fogo por morte alguma em séries…).

No entanto, o lado emocional do episódio não pode ser descartado. Estou reclamando que Hemmer merecia mais tempo de tela antes de morrer, mas o fato de ele ser o grande impulsionador da decisão de Uhura em ficar na nave já cria um relevo maior para o que vemos. E a reação de Spock à morte do amigo e também telepata é potente e um excelente momento de quebra daquela barreira da lógica vulcana. Até mesmo os traumas de La’an sendo trazidos à tona, com ela se vendo na menina sobrevivente e, depois, agradecendo de coração por tudo que Pike fez por ela, foram bem trabalhados, levando a um encerramento mais do que digno.

Mas que não é encerramento, lembrando! Ainda há mais um episódio pela frente que efetivamente marcará o final deste primeiro ano do spin-off de Discovery e que, espero, não desfaça ou resolva os cliffhangers estabelecidos aqui, pois eles merecem um tratamento mais cadenciado ao longo da próxima temporada, especialmente o destino de La’an e o ensaio do romance da dupla Spock e Chapel, além de mais jacarés espaciais, especialmente adultos, claro.

P.s.: O Kevin Rick, usurpa… ops, responsável pelas críticas da série, foi incubado com ovos dos Gorn e teve que se ausentar momentaneamente para dar a luz. Mas, se tudo der certo, ele estará de volta para o season finale (e, se não der, bem…, aí ele perde o direito de escrever sobre a série para todo o sempre…).

Star Trek: Strange New Worlds – 1X09: All Those Who Wander (EUA, 30 de junho de 2022)
Desenvolvimento: Akiva Goldsman, Jenny Lumet, Alex Kurtzman (baseado em personagens criados por Gene Roddenberry)
Direção: Christopher J. Byrne
Roteiro: Davy Perez
Elenco: Anson Mount, Ethan Peck, Jess Bush, Christina Chong, Celia Rose Gooding, Melissa Navia, Babs Olusanmokun, Bruce Horak, Rebecca Romijn
Duração: 53 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais